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Reina aqui a dor. A nossa querida Ir. Josefina Trabaui está no Céu. Fizemos por ela, este ano, catorze novenas em Cartum e no Cordofão e celebrámos num ano mais de cem missas. Mas Deus não quis ouvir as minhas orações. Bendito seja! Quinta-feira, 16 de Abril, às dez e meia da manhã, a Ir. Josefina exalava o último suspiro, assistida por mim, que lhe administrei todos os sacramentos da Igreja com a bênção papal in articulo mortis. Rezei todas as orações dos moribundos com o seu confessor ordinário, P.e Pascoal Fiore, vigário e superior da missão de Cartum, que a assistiu dia e noite durante dois meses. Ela foi para o Céu, asseguro-lho, sem ter passado pelo Purgatório.
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O toque do sino que anunciava a morte da Superiora de Cartum fez acorrer à missão uma multidão de pessoas a apresentarem-me as suas condolências. A Ir. Josefina foi chorada em toda a cidade de Cartum, pois gozava da estima geral, especialmente do paxá governador-geral, do cônsul e de todos os católicos. O seu funeral teve lugar sexta-feira, dia 17, pela manhã, às oito, e os meus missionários e eu celebrámos as exéquias e nocturno e cantámos a missa, contando com a presença do cônsul da Áustria e de todos os católicos. Sua Excelência o governador-geral do Sudão, Ismail Paxá, quis fazer-se representar por S. E. o presidente do Tribunal do Comércio, com quatro janízaros, que acompanharam o cadáver desde a igreja até cemitério europeu. De facto todos os estratos, mas especialmente os membros da religião católica, participaram da dor que Deus houve por bem infligir-nos.
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Enquanto voltávamos do cemitério para a missão, entrava pela parte do jardim a Ir. Genoveva, que acabava de chegar a Cartum, procedente do Cairo, depois de uma viagem de oitenta e dois dias. Pode imaginar a impressão que lhe causou a notícia da morte da Ir. Josefina. Contudo recuperou o ânimo e agora estou contente de ela ter chegado em perfeita saúde.
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Vós, minha madre, resignar-vos-eis à morte da Ir. Josefina. Eu por nada. É impossível encontrar uma missionária que se lhe assemelhe. Ela conhecia a natureza da nossa missão e estava disposta a sacrificar a sua vida pelos cem milhões de negros que habitam o nosso vicariato. Espero que Deus me dê conforto e alivie pouco a pouco a minha dor. Agora estou muito pesaroso. Bendito seja Deus.
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Dizem-me e escrevem-me que a Ir. Catarina Tempestini, superiora de Roma, está há oito meses doente e que está tísica. Escreveram-me ultimamente que o médico espera salvá-la. Minha boa madre, os duques, os príncipes e princesas, que se encontram tísicos, deixam todos os anos a Europa para irem até ao Egipto. Pois bem, no Cairo Velho e precisamente na nossa casa das irmãs, o clima é mais suave. Desembaracei-me quase por completo daquelas negras que foram educadas na Europa e que eram um estorvo na nossa casa do Cairo. Não há um lugar mais adequado para passar o Inverno. Creio que aceitar a minha oferta seria bom para a saúde tão preciosa da Ir. Catarina. Darei ordem para que nada lhe falte. O clima do Egipto, a visita à Terra Santa, o afastamento das ocupações far-lhe-ão bem. Se não existisse no meio grande deserto, o nosso magnífico jardim de Cartum seria bom para ela.
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Far-lhe-ei chegar os quinhentos francos que lhe prometi pagar por cada irmã árabe que saia do seu noviciado e que seja considerada útil para o apostolado do centro da África. Espero que me tenha destinado muitas Irmãs árabes para a África Central. Escrever-lhe-ei acerca dos nossos assuntos quando tiver passado um pouco esta tormenta da morte da Ir. Josefina. Todas as irmãs de Cartum e do Cordofão se encontram bem. Reze pelo seu
P.e Daniel Comboni
Original francês
Tradução do italiano.