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N° Escrito
Destinatário
Sinal (*)
Remetente
Data
741
Madre Isabel Nespoli
0
1877
N.o 741 (704) - À MADRE ISABEL NESPOLI

ACCR, Cart. S. Sede



1877



[4989]
… para examinar a proposição da minha nomeação como bispo, o primeiro que jamais a África Central teve. Rogo da sua bondade que nesse dia reze e faça rezar segundo a minha intenção pelo puro bem da Nigrícia.

Pode contar com a minha actividade para instar e solicitar pela causa da venerável. É também interesse da Nigrícia, pela contribuição para a conversão desta, por parte do seu magnânimo e eminentíssimo sobrinho, que é uma glória da Igreja.

Nos Sag.dos Corações de J. e de M. declaro-me



Seu dev.mo servidor Daniel Comboni




[4990]
Encomendo às suas orações as santas e generosas intenções de Melanie (aquela a quem apareceu a Virgem de La Salette, nascida no mesmo mês e ano que eu), que hoje me escreveu e com quem estou relacionado desde há anos pelo interesse da divina glória. É um anjo na terra.



N. B. Fragmento de uma carta, da qual falta a primeira parte.






742
Acordo com as Irmãs S. José
0
1877
N.o 742 (705) - ACORDO COM AS IRMÃS DE S. JOSÉ

AP SC Afr. C., v. 8. ff. 578-580



1877



A C O R D O

[4991]
Estipulado entre o rev.mo D. Daniel Comboni, actual vigário apostólico da África Central e a rev.ma madre Emilie Julien, superiora geral da congregação das Irmãs de S. José da Aparição.


[4992]
A fim de coadjuvar as missões católicas dentro do Vicariato Apostólico da África Central em todos os campos da instrução e da caridade em favor da população feminina e da infância, a congregação de S. José da Aparição com as suas Irmãs dá generosamente consentimento aos seguintes pactos, feitos de mútuo acordo entre o rev.mo D. Daniel Comboni, vigário apostólico do referido Vicariato da África Central e a rev.ma madre Emilie Julien, superiora geral da mencionada congregação, obrigatórios, depois da sua aprovação pela S. C. da Propaganda Fide, também para os seus sucessores, até que agrade à Santa Sé.


[4993]
1.o As Irmãs de S. José da Aparição trabalharão no Vicariato Apostólico da África Central juntamente com as Pias Madres da Nigrícia, se bem que estas se encontrem independentes daquelas, na casa e província.

A única casa que lhes servirá de comum residência será a de aclimatação do Cairo, onde haverá zonas exclusivas para cada uma de ambas as congregações, mas utilizarão conjuntamente cozinha, lavandaria e refeitório e comum será também a capela. Quanto ao demais, cada grupo se ocupará do cuidado da sua própria zona, estudará separadamente e terá a sua própria superiora, a qual velará para que, sem prejuízo das actividades comuns, as sua irmãs cumpram as regras próprias.


[4994]
2.o As irmãs residentes no Cairo têm a obrigação de cozinhar e lavar também para a casa masculina, em favor da qual realizarão igualmente todos os trabalhos de costura. Por seu lado, a missão está obrigada a fornecer às Irmãs o necessário quanto à alimentação e roupa.


[4995]
3.o A superiora geral deixará sempre em cada casa de missão ao menos quatro irmãs e em Cartum cinco como mínimo, incluída a superiora. Tal é o número que, em vista das condições gerais e particulares do Vicariato e dos lugares, se considera indispensável para o desempenho das diversas tarefas; portanto:


[4996]
4.o A superiora geral, a pedido do vigário apostólico, enviará ao Cairo com destino à África Central Irmãs em número bastante ao menos para cobrir o fixado para cada casa e todas elas provistas da obediência para as missões e dotadas de verdadeiro e suficiente espírito religioso, de boa saúde e de capacidade para desempenharem as actividades que lhes forem encomendadas.


[4997]
5.o Estas permanecerão no Cairo, para a sua aclimatação, todo o tempo que considere oportuno o vigário apostólico. Neste período, uma delas será a superiora das demais, segundo as ordens da madre geral; ocupar-se-ão principalmente de estudar as línguas da África Central e no aspecto espiritual estarão sujeitas à autoridade do vigário apostólico do Egipto, em conformidade com as suas constituições.


[4998]
6.o Viajando pelas diversas estações do vicariato, as Irmãs de S. José receberão das Pias Madres da Nigrícia e estas daquelas o alojamento e os serviços adequados às Irmãs e pessoas religiosas que são. As Irmãs de S. José obterão depois da missão compensação pelos gastos que lhes tiver causado a temporária estada das Pias Madres da Nigrícia em sua casa.


[4999]
7.o As Irmãs estão obrigadas a cozinhar, lavar e realizar todos os trabalhos de costura necessários, gratuitamente, para as casas masculina e feminina; ou então dirigirão elas esses trabalhos, procurando empregar nos mesmos as alunas negras, às quais, por outro lado, estão obrigados a educar nos lavores femininos.


[5000]
8.o As Irmãs têm, além disso, a obrigação de dar educação gratuita e de instruir na religião católica, na leitura e na escrita, todas aquelas jovens que lhes foram confiadas pelo vigário apostólico ou pelos superiores que ele tenha constituído. Também deverão introduzir-se prudentemente nas famílias para exercerem nelas a caridade e ganhar almas para Deus; e, de acordo com o pároco, cujos direitos se respeitarão, nunca se negarão a realizar essa tarefa, especialmente quando ele, por meio da superiora, as convide a realizá-la.


[5001]
9.o Por outro lado, o vigário, os superiores e os directores terão sobre as Irmãs os direitos e a autoridade que lhes consentem as constituições das mesmas irmãs, as quais aceitarão o superior, o director ou o confessor que lhes atribua o vigário apostólico.


[5002]
10.o As relações das Irmãs com os missionários e com todos, assim como a sua vida e as suas acções, não estarão nunca em discordância com a regra e as constituições. Estas deverão ser observadas por todas, na medida em que o permitirem as necessidades da missão. Só a superiora tem direito de modificar a regra; e não se negará nunca a isso, quando o exigir um verdadeiro bem da missão.


[5003]
11.o Portanto, a superiora geral conservará na residência principal de Cartum uma superiora que tenha jurisdição sobre todas as Irmãs de S. José dispersas pelo Vicariato da África Central e que possa impor a regra, corrigir e castigar as Irmãs, mudá-las para outras casas ou devolvê-las à Europa, abrir novas casas, etc. Esta superiora, dependente da geral, informará de tudo a mesma; e nas coisas de grave importância, como afastar uma Irmã da missão, abrir novas casas, etc., consultará primeiro a geral, sempre e quando um dano evidente da obra ou das pessoas, por necessitar remédio rápido, não obrigasse a uma pronta resolução, em cujo caso a superiora se porá de acordo com o vigário apostólico e informará a geral das medidas tomadas. Tal autoridade cabe a esta superiora desde o dia em que chegue a Cartum. A geral, por sua parte, procurará que a pessoa seja idónea para um cargo de tanta responsabilidade.


[5004]
12.o O vigário apostólico facultará às Irmãs uma casa decentemente mobilada, dotada do necessário em conformidade com as regras da congregação, que de per si manifesta no seu viver verdadeira simplicidade.

Além disso, entregará anualmente por cada Irmã a soma de 500 (quinhentas) liras em dois pagamentos semestrais adiantados. Com este dinheiro poderão as Irmãs, se tal for o seu desejo, abastecer-se do armazém da missão e, sem ter em conta os gastos de transporte, obter os géneros ao preço a que foram comprados. E terão direito a participar do que produzem os terrenos pertencentes a cada uma das missões.


[5005]
Para os gastos da viagem acorda-se que, no referente às Irmãs que peça ou envie o vigário apostólico, fica tudo a cargo deste; em troca, tudo fica a cargo da geral a respeito das que ela enviar ou mandar regressar.

A alimentação, roupa, remédios, alojamento, livros, etc. necessários para as alunas negras ficam a cargo do vigário apostólico ou dos pais das mesmas. Diga-se o mesmo quanto aos orfanatos ou hospitais que o vigário apostólico lhes confiasse.


[5006]
O vigário apostólico proverá com todo o cuidado de maneira que, em cada uma das suas casas, as Irmãs possam observar perfeitamente as suas regras, sem prejuízo das necessidades da missão a que servem, como figura nas constituições da congregação.

Em caso de morte de uma Irmã, far-se-ão gratuitamente os funerais e sufrágios como se fazem aos sacerdotes missionários falecidos, por assim o disporem as rubricas litúrgicas.








743
Card. Alexandre Franchi
0
Cairo
4. 1.1878
N.o 743 (706) - AO CARD. ALEXANDRE FRANCHI

AP Udienze (1878), v. 189, p.1, ff. 72 A-C



N.o 1

Cairo, 4 de Janeiro de 1878

Eminentíssimo Príncipe,



[5007]
A Sociedade de Colónia para o Resgate e Educação dos Negros, aprovada pela Santa Sé, em apenas doze anos pôs nas minhas mãos mais de 250 000 francos e, com cartas escritas ao Santo Padre, a V. Em.a e ao Em.o card. Canossa declarou a sua vontade de atribuir ao Vicariato, in perpetuo, a importante soma de dez mil francos anuais ad fulciendam dignitatem episcopalem.


[5008]
Quando em 1872 fui nomeado pró-vigário apostólico, perguntei a mons. Simeoni, hoje em.o cardeal, se eu podia implorar ao em.o cardeal-prefeito que fossem feitos cavaleiros por S. S. dois dos mais beneméritos membros daquela sociedade, a qual é composta na sua totalidade por homens verdadeiramente católicos, romanos, papais em estrito sentido; e monsenhor respondeu-me que convinha esperar uns anos, para ver se a dita sociedade continuava com as suas ajudas.


[5009]
Não ignora V. Em.a com quanto zelo e constância a Sociedade de Colónia favorece a minha árdua e laboriosa missão. Por isso, como lhe escreveu o Em.o card. Canossa e como lhe disse eu mesmo de viva voz, suplico da bondade de V. Em.a que tenha por bem fazer as diligências pertinentes perante o Santo Padre, a fim de que sejam nomeados Cavaleiros da Ordem Plana ou de S. Gregório Papa os dois membros mais antigos e de maior zelo (depois do presidente) do comité dessa excelentíssima sociedade, de que são conselheiros e co-fundadores, a saber:


[5010]
1.o O dr. Martinho Sticker II, médico municipal da cidade de Colónia e de vários mosteiros, extraordinário orador nos comités, sociedades e congressos católicos da Alemanha, ex-presidente de várias obras católicas, valoroso defensor e propugnador da causa da Santa Sé e campeão do Papado, para além de excelente cristão. É há 22 anos conselheiro da dita sociedade para os negros.


[5011]
2.o O sr. José Schnitzler, hauptmeister, ou seja, director das Escolas Católicas dos Santos Apóstolos de Colónia, que desde há 28 anos está à frente de vários mestres e anualmente de mais de mil alunos. Homem muito devoto, exemplar, membro de muitas obras e conselheiro do nosso comité.


[5012]
O il.mo e rev.mo mons. Baudry, bispo de Aretusa e desde há 32 anos vigário-geral da arquidiocese de Colónia, a quem comuniquei a petição que agora faço a V. Em.a, aprovou-a com verdadeira satisfação.


[5013]
Devo referir-me igualmente ao ilustre sr. Otão Steiner, marido de uma filha do barão de Spens e desde há uns anos vice-presidente do excelentíssimo comité da Sociedade de Maria, de Viena, a qual durante tantos anos sustentou o Vicariato com grandes somas de dinheiro. O em.o card.-arcebispo de Viena, que é o presidente da mesma, tem em muita estima este senhor, que, desde a época em que eu assumi o governo do Vicariato, fez progredir muito e realçar aquela sociedade, a qual goza da protecção de Sua Majestade Apostólica. É um distinto senhor, funcionário do Ministério do Comércio, excelente católico adepto do Papa e dotado de zelo pelas boas obras. Também para ele imploro a distinção acima mencionada.


[5014]
Finalmente, o rev.mo João Crisóstomo Mitterrutzner, cónego regular lateranense da Ordem de S. Agostinho, doutor em teologia e em utroque iure e director do ginásio episcopal de Bressanone, tem angariado grande mérito em relação ao Vicariato, porque entre muitas outras razões:

1.o É o maior conhecedor das coisas africanas e das missões da África Central, com as quais esteve estreitamente vinculado até à criação do Vicariato.

2.o Facultou à África Central no primeiro período da missão o pessoal mais hábil e entusiasta e como membro do comité de Viena forneceu grandes somas de dinheiro, chegando a dar num só ano (1854) mais de 60 000 francos.


[5015]
3.o Como erudito e distinto poliglota, fez o seguinte em benefício das missões africanas: a) compôs e publicou um rico dicionário em bari e outro em dinca, que são duas das principais línguas da África central; b) traduziu para o bari e o dinca todos os Evangelhos dos domingos e festas do ano, e o Evangelho de S. Lucas. c) publicou um livro de interessantíssimos diálogos nas línguas bari e dinca para uso dos missionários e isso à sua própria custa.


[5016]
Ora o rev.mo Mitterrutzner, que, por sua ciência e erudição eclesiástica, foi eleito pelo rev.mo mons. Fessler secretário do Concílio Vaticano, para que o ajudasse na qualidade de secretário privado, continua a favorecer o Vicariato de todas as maneiras como membro do comité de Viena. Por isso, suplico a V. Em.a que o faça nomear consultor da S. C. da Propaganda, assegurando-lhe que sempre que nalgum caso muito difícil, especialmente sobre coisas africanas, seja consultado, ele dará à S. C. respostas carregadas de sabedoria, conhecimento e experiência. Espero, portanto, que, do mesmo modo que ao doutíssimo abade Haneberg, falecido como bispo de Spira, a S. C. nomeou-o consultor para os assuntos orientais, embora residisse em Munique, Mitterrutzner seja nomeado consultor da S. C. (da qual mons. Agnozzi é secretário).

Inclinando-me a beijar-lhe a sagrada púrpura, tenho a honra de me subscrever



De V. Em.a Rev.ma

Ob.mo, devot.mo, af.mo filho

† Daniel Comboni

Bispo de Claudiópolis e

Vigário apostólico da África Central






744
Cônsul-geral austríaco
1
Cairo
8. 1.1878
N.o 744 (707) - AO CÔNSUL-GERAL AUSTRÍACO

ACR, A, c. 15/155



(Cairo), 8 de Janeiro de 1878

Breve bilhete.





745
Card. Alexandre Franchi
0
Cairo
15. 1.1878
N.o 745 (708) - AO CARD. ALEXANDRE FRANCHI



N.o 2

Cairo, 15 de Janeiro de 1878



Eminentíssimo Príncipe,



[5017]
Mons. Ciurcia entregou-me a sua estimadíssima carta escrita o ano passado, na qual me encarrega de informar a S. C. sobre o andamento da obra que o rei dos Belgas idealizou para a abolição da escravatura e do comércio de negros e para a civilização da África Central. Eu conheço a fundo a obra e as boas intenções de sua majestade, com quem no dia 1 de Novembro passado tive uma conversa de duas horas e estou e estarei sempre em relações epistolares e pessoais com ele.


[5018]
Conheço igualmente quase todos os comités internacionais que se estabeleceram nas capitais da Europa e da América, porque os seus respectivos presidentes gostam e procuram estabelecer relações comigo; e, além disso, conheço pessoalmente e a fundo todos os chefes das expedições que actualmente se realizam, excepto o chefe da escocesa, que agora (com um pagamento de 300 000 francos anuais) acaba de chegar aos lagos Nyanza, como soube pela boca do ilustre viajante Stanley há quinze dias. Deixando para quando tiver mais tempo dar a V. Em.a informações pormenorizadas de tudo, por agora limito-me a dizer-lhe que o projecto, as intenções e o objectivo final do rei dos Belgas são excelentes; e confio que mais adiante a religião católica poderá tirar proveito disso, momento que chegará após a inevitável experiência de muitos fracassos que hão-de sofrer essas expedições, sem a necessária ajuda do catolicismo. Mais ainda, depois de séria reflexão e muito estudo, declaro que me agrada enormemente que um rei católico, ainda que pequeno, tenha feito ouvir a sua voz em favor dos infelizes povos da África Central e nas minhas cartas encorajo sua majestade a perseverar em seu generoso propósito.


[5019]
Porém, considerando o modo como agora se põe em prática a ideia concebida, as pessoas integrantes de comités e expedições e o falso objectivo final a que normalmente tendem os comités internacionais e os chefes de expedição, estou certo de que não se conseguirá nada para a abolição da escravidão, nem para a civilização europeia. O modo adoptado consiste em fazer expedições e estabelecer estações comerciais e industriais, algo que muito dificilmente levará a cabo em África gente sem fé nem moral, e sem aquela férrea constância que só o missionário católico possui. As pessoas escolhidas são de todas as classes, incluindo um bom número de maçónicos, que confundem a filantropia com a caridade e acabarão mais por corromper que civilizar.


[5020]
O objectivo final (de muitos membros e chefes, não do rei) é civilizar sem Deus e sem a verdadeira religião e moral. Porém, é impossível levar a autêntica civilização à África Central e abolir a escravidão sem a pregação do Evangelho e sem a fé e o apostolado católico: todo o esforço humano é inútil para obter o verdadeiro efeito. Portanto, enquanto com bons modos e gentis maneiras animo o rei dos Belgas, sempre lhe dou a entender que não se verão bons resultados enquanto não entrarem plenamente no assunto as missões católicas. Estando assim as coisas, considero muito prudente que, por agora, os chefes de missão se não imiscuam em tais empresas e expedições e que, se se deparar a ocasião, se limitem tão-só e de maneira pessoal a praticar a caridade para com os necessitados e os doentes, sempre que estejam dentro dos limites da sua jurisdição.


[5021]
O rei pretenderia que a ideia católica campeasse no seu plano; mas tendo como certo que, nesse caso, as outras potências recusariam toda a participação, considerou conveniente limitar-se a declarar que o fim é evangelizar e civilizar, não catolicizar a África Central. Em todo o caso, embora pense que, por agora, as missões católicas não tirem nenhum ou pouco proveito destas expedições científico-comerciais, tão-pouco receberão delas algum dano.


[5022]
Estes viajantes, exploradores e civilizadores (!?!) chegam à África Central desfeitos pelas fadigas de desastrosas viagens, às vezes cheios de medo, e sempre sem conhecer nem pessoas nem línguas dos países (são mais de cem as línguas faladas no Vicariato); pelo que é para eles uma bênção encontrar no missionário ou na Irmã uma mão amiga que, em caso de necessidade ou de doença, os ajude e conforte. Enquanto o missionário e a Irmã, educados na abnegação de Cristo, sofrem de boa vontade e permanecem firmes no seu posto, o moderno civilizador, chegado àquelas terras, tratará por todos os meios, salvo raras excepções, de escapar de lá e voltar para a Europa.


[5023]
O que de positivo poderá conseguir hic et nunc a religião católica é que na Europa aumentará o apreço pelo missionário católico e se reconhecerão os seus verdadeiros méritos, incluindo os mações e os Barrabás, porque começarão a ver que o sacerdócio católico é realmente estimável pelos seus sacrifícios e utilidade na África Central e nas missões estrangeiras. Dos pormenores e resultados da obra do rei dos Belgas, ocupar-me-ei noutra ocasião.


[5024]
Entretanto, após acrescentar somente que aqui no Cairo os frades, os missionários, os cônsules e os paxás receberam-me com muita deferência e simpatia, transmito-lhe as expressões da mais profunda devoção do meu excelente administrador, P.e António Squaranti, assim como dos meus missionários e Irmãs e beijo-lhe a sagrada púrpura, declarando-me com todo o respeito



De V. Em.a Rev.ma

Hum.mo, obed., devot.mo filho

† Daniel Comboni

Bispo e vig. apostólico






746
Card. Alexandre Franchi
0
Cairo
19. 1.1878
N.o 746 (709) - AO CARD. ALEXANDRE FRANCHI

ACR, A, c. 13/32

N.º 3

19 de Janeiro de 1878

À Propaganda



Em.o e Rev.mo Príncipe,



[5025]
Cheguei com a minha expedição ao Cairo já no dia 21 de Dezembro passado, de onde pensava partir quanto antes pela rota do Suez e do mar Vermelho e, atravessando o deserto de Suakin, alcançar num só mês Berber. Porém, como em Gidá, por onde devia passar o barco, se tinham verificado alguns casos de cólera, temi uma longa quarentena para mim e a minha numerosa caravana, e, depois de fazer os meus cálculos, decidi tomar a rota do Nilo, cruzar o difícil deserto de Atmur, e, por Abuhhammed, chegar a Berber e a Cartum em menos de dois meses.


[5026]
Portanto, na próxima segunda-feira, dia 21 do corrente, a bordo de uma grande barca dahhabia zarparemos do Cairo e, percorrendo as estações da prefeitura apostólica do Alto Egipto, chegaremos em vinte dias à Núbia Inferior; já embarcámos mais de sessenta caixas.


[5027]
Não posso não lhe manifestar o benévolo acolhimento que me dispensaram mons. Ciurcia e todos os frades e missionários do Egipto, assim como o entusiástico fervor que encontrei junto dos cônsules-gerais da Áustria, França, Inglaterra e Bélgica e, sobretudo, junto dos ministros e paxás e junto de Sua Alteza o príncipe herdeiro, que é o Ministro do Interior do Egipto, o qual me deu dois poderosíssimos decretos assinados por ele: um para S. E. Gordon Paxá, governador-geral das possessões egípcias no Sudão, as quais ocupam um território cinco vezes mais extenso que a França, e o outro para todos os paxás, mudires e governadores que se encontram desde o Cairo até às nascentes do Nilo, nos quais o príncipe ordena em nome do quedive que se protejam as missões católicas e que se me preste assistência em todas as minhas necessidades e desejos.


[5028]
Mas a recepção mais benévola de todas recebi-a de Sua Alteza o quedive do Egipto, o qual teve a bondade de me conceder uma audiência de uma hora e meia, na qual me fez muitas perguntas sobre muitos assuntos da África Central, sobre vários governadores e sobre Gordon Paxá, declarando-me francamente que a minha opinião e conselho lhe seriam preciosos, como saídos (são suas as palavras) da sua boca, cheia de verdade e de sabedoria.


[5029]
São expressões de um príncipe muçulmano, de um turco. Depois o quedive falou-me com sumo respeito e reconhecimento do Santo Padre, dizendo-me que estava muito «agradecido a Sua Santidade pelas palavras saídas dos seus veneráveis lábios em favor dos Turcos e criticando os Russos». Acrescentou que perante o mundo inteiro a palavra e o juízo de Sua Santidade tinham «o máximo valor, por procederem da pessoa mais venerável do universo» e, portanto, ele julgava-se no dever de proteger e fazer quanto pudesse em favor das igrejas e missões católicas. E terminou agradecendo-me os meus sentimentos e zelo em procurar o bem e a civilização da África Central.


[5030]
E às atenções de que me fez objecto Sua Alteza o príncipe herdeiro juntaram-se as do ministro de Guerra, Stone Paxá, o qual me convidou para um solene banquete que deu em honra do ilustre Mr. Stanley, um dos maiores viajantes da África Central, o primeiro a descobrir o curso do imenso rio Congo e que desde as nascentes do Nilo, pelo Tanganica e o rio Congo, veio sair ao oceano Atlântico. Tal empresa, além de beneficiar o meu Vicariato, poderá ser utilíssima para os padres do Espírito Santo e do S. C. de Maria, que, da sua Prefeitura do Congo, terão a possibilidade de avançar muito para o interior, com grande vantagem das almas.


[5031]
O ilustre Stanley (que é anglicano da América) facultou-me oportunas instruções para chegar às nascentes do Nilo e estabelecer aí uma missão católica e deu-me uma recomendação para o rei Mutesa, que diz ser um perfeito cavalheiro e poderosíssimo e que tem afecto aos cristãos. Por amor à brevidade, só lhe conto uma anedota que me contou o ilustre viajante.


[5032]
Os maometanos, que tinham penetrado aí havia muitos anos, depois de muito trabalho, tinham induzido o rei a celebrar a sexta-feira dos muçulmanos. Chegado àquelas terras, Mr. Stanley falou-lhe elogiosamente da religião cristã e disse-lhe que Cristo foi quem elevou a dignidade da mulher, libertando-a da ignomínia em que a tinham os bárbaros e os muçulmanos. O rei ficou muito admirado disso e pediu-lhe que lhe explicasse o que era a religião católica e em que consistia.


[5033]
Stanley disse-lhe então que a religião cristã tinha onze mandamentos... E depois de lhe explicar os dez, ou seja, o decálogo, passou ao décimo primeiro que consiste em obedecer e respeitar o rei, como soberano e pai (a seu tempo, nós explicaremos ao rei que este entra no quarto mandamento); quer dizer, os súbditos devem tratar o rei como pai e ele deve tratá-los a eles como filhos. Admirado o rei de tão boas doutrinas, rogou a Stanley que pusesse por escrito os onze mandamentos da lei de Deus, coisa que o explorador fez. E o rei, depois de os ter estudado e examinado, declarou que a religião cristã era muito melhor que a muçulmana e determinou estabelecer desde então a observância do domingo no seu reino (que fica no equador e dentro dos limites do Vicariato); de modo que o rei Mutesa celebra a festa da sexta-feira como os seguidores de Maomé, e a do domingo com a dos cristãos (!!!)


[5034]
O meu excelente administrador, P.e António Squaranti, e os meus missionários e Irmãs beijam-lhe a sagrada púrpura, enquanto com toda a veneração e respeito eu me honro de me lançar a seus pés e de me declarar



De V. Em.a Rev.ma e devot.mo filho

† Daniel Comboni

Bispo e vigário apostólico da África Central






747
Card. Alexandre Franchi
1
Cairo
19. 1.1878
N.o 747 (710) - AO CARD. ALEXANDRE FRANCHI

AP SC Afr. C. v. 8, ff. 734-737



Cairo, 19 de Janeiro de 1878



Os textos n.os 745 e 746 estão apagados nesta carta.





748
Jean François des Garets
0
Cairo
19. 1.1878
N.o 748 (711) - A Mr. JEAN FRANÇOIS DES GARETS

APFL, Afrique Centrale, 111

J. M. J.

Cairo, 19 de Janeiro de 1878



Senhor presidente,



[5035]
Acuso a recepção das suas estimáveis cartas de 6 de Novembro e de 28 de Dezembro do ano passado, assim como as respectivas letras de câmbio (a primeira de 12 000 fr. e a segunda de 10 000 fr.) pelas quais lhe estou infinitamente grato.


[5036]
Quanto aos quadros estatísticos que lhe devo enviar para a próxima repartição, torna-se-me um pouco problemático fazê-los, já que não terei notícias exactas de tudo o que chegou para mim ao Vicariato e à minha residência. Por isso peço-lhe que para o presente ano se baseie nos dados do ano passado, com as indicações que lhe dei a si e ao secretário do conselho de Paris. A semana próxima, ou seja, depois de amanhã, segunda-feira, dia 21, partirei com a minha caravana do Cairo subindo o curso do Nilo e em fins de Fevereiro entraremos no deserto.


[5037]
Suplico aos dois conselhos que me seja concedida este ano uma grande ajuda. As viagens, as expedições, os víveres, etc. custam mais que nos anos anteriores. Além disso, desde o passado Setembro, o antigo superior da missão de Gebel Nuba, P.e Luís Bonomi, pôs a mesma de novo em andamento. Acresce que estou decidido a fundar uma boa missão nos lagos equatoriais Nyanza e para este fim falei muito com o célebre viajante Stanley, que conhece bem o país.

Na esperança de lhe escrever dentro de duas semanas, declaro-me nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria



Seu Dev.mo † Daniel Comboni

Vigário apostólico da África Central

Original francês

Tradução do italiano






749
Um bispo
0
Cairo
19. 1.1878
N.o 749 (712) - A UM BISPO

AP SC Afr. C., v. 8 f. 601

J. M. J.

Cairo, 19 de Janeiro de 1878

Excelência rev.ma,



[5038]
Antes de abandonar a capital do Egipto, dirijo-me ao senhor para rogar da sua exímia bondade que entregue sempre no meu banco, o dos senhores Brown e Filho, na Via Condotti, as somas de dinheiro que através da

S. C. da Propaganda me forem atribuídas quer da Áustria quer de outra parte.


[5039]
A respeito da soma que eu devia depositar para os meus quatro alunos na S. C., autorizei o banco Brown a pagar tudo o que for por si requerido:

A partir de agora o meu endereço será o seguinte:



A... Comboni

Bispo e vig. ap. da Afr. Central

C/ Egipto – Cartum (Núbia Superior)




[5040]
Agradecendo-lhe de coração pela grande bondade que teve comigo em todas as circunstâncias, suplico-lhe que me encomende ao Senhor juntamente com o meu Vicariato, a fim de que possamos acabar com o reinado de Satanás nesses países e implantar aí o estandarte de Cristo. Nós rezamos todos os dias pela S. C. e seus membros e por si.

Nos Sagdos. Corações de J. e M. declaro-me com todo o respeito



De V. E. Rev.ma

Hum.mo, obed.mo servo

† Daniel Comboni, Bispo e vig. ap.






750
Um minutador de Prop. Fide
0
Cairo
19. 1.1878
N.o 750 (713) - A UM MINUTADOR DA PROPAGANDA FIDE

AP SC Afr. C., v. 8, f. 599

N.o 1

Cairo, 19 de Janeiro de 1878



Meu venerado irmão,



[5041]
Ao agradecer-lhe de coração as fadigas e os esforços suportados pelas missões do centro da África (porque os nossos venerados e capazes minutadores [*] da Propaganda são verdadeiros apóstolos e têm no peito um coração apostólico), escrevo-lhe duas linhas pelos motivos seguintes:


[5042]
1.o Encomendar à sua bondade os três títulos de cavaleiros, sobre os quais escrevi a Sua Eminência, assim como a nomeação de consultor para o incomparável Mitterrutzner (antigo companheiro no professorado dos ilustres bispos de Bressanone e de Linz e de mons. Fessler, três pérolas do episcopado).


[5043]
2.o Solicitar a renovação das minhas faculdades ordinárias e extraordinárias, avisando o competente mons. Cretoni que as redija todas numa folha e, se for possível, com validade para mais de um quinquénio.


[5044]
3.o Rogar que, por razão da concessão dos títulos de cavaleiros aos dois de Colónia se escreva uma gentil carta ao presidente daquela sociedade, G. H. Nöcker Pfarrer, am St. Jacob in Colonia, agradecendo à mesma pelo seu zelo, aceitando a generosa oferta de dez mil francos anuais que me concedeu e animando-a a multiplicar o seu interesse pela África Central. É um facto que desde 1872 essa sociedade não recebeu nem uma linha da S. C., se bem que, por ser constituída por homens verdadeiramente bons, trabalhe de todas as maneiras, sem outro objectivo que não seja a eterna recompensa.

A direcção que a S. C. deve ter de mim a partir de agora é a seguinte:



A... Comboni

Bispo e vig. ap. da Afr. Central

C/ Egipto – Cartum (Núbia Superior)




[5045]
Além disso, se no futuro chegar à Propaganda dinheiro para mim ou para o Vicariato, monsenhor poderá depositá-lo no meu banco de Roma, o que os senhores Brown e Filho têm aberto na Via Condotti.

Rogo-lhe que saúde da minha parte os monsenhores Cretoni, Rinaldini, Turroni, Pieratozzi e a todos os minutadores, etc., e que reze a Deus pela Nigrícia e por mim.


[5046]
Depois de amanhã, parto pela rota do Nilo. Estão embarcadas 110 caixas. Vamos fazer a guerra a Satanás e expulsá-lo da África Central: Jesus e a Igreja estão connosco. Vale et fave.



Seu af.mo

† Daniel bispo



[*] Funcionários dos órgãos da Cúria, encarregados então das minutas dos breves.