[2002]
Recordará, meu estimado e venerado padre, as felizes circunstâncias do mês de Outubro de 1857, quando com dois missionários da África Central, os rev.dos padres Soragna e Fene, jesuítas, tive a sorte de viajar consigo até Jerusalém e de visitar as suas santas filhas, as Irmãs de Sião, às quais, revelando eminente caridade, fez sempre elevar fervorosas preces pelo apostolado da África Central. Agora que a divina Providência determinou que dois dos meus missionários vão à Terra Santa a fim de, no Sepulcro do Senhor e no presépio do Menino, obterem a força necessária para sacrificarem toda a sua vida pela conversão e salvação dos desditosos filhos de Cam da África interior, renovo os meus humildes pedidos ao seu coração de apóstolo, na certeza de que as suas santas orações e as das suas dignas filhas serão escutadas.
No Inverno passado tive a honra de visitar mais de uma vez o seu digno e sábio irmão, o rev.do P.e Teodoro, ilustre e piedoso autor da História de S. Bernardo e do Seu Século, bem como as veneráveis Irmãs de Sião.
[2003]
Quanta emoção não sentiu o meu débil coração! Lá encontrei a obra de Deus, o milagre em favor dos pobres filhos de Abraão, neste século de erros. Eu estou convencido da verdade dos factos e de que, por um conjunto de factos que se evidenciam na nossa época, se aproxima o Reino de Deus para os infelizes judeus, bem como estou convencido de que as Obras de Deus levadas a cabo pelos veneráveis irmãos Ratisbonne são os seus mais poderosos instrumentos para isso, sua feliz iniciativa, e de que N. D. de Sião é o apóstolo dos descendentes dos seus antepassados, do povo eleito.
Com a mais viva emoção e a maior felicidade, abro-lhe o coração, meu mui reverendo padre, para lhe dizer que num tempo em que tantos cristãos conspiram contra o Senhor e o seu Cristo me parece que o Sacratíssimo Coração de Jesus se vai derramando com duplo amor naqueles que dão a sua vida para restabelecer o Reino dos Céus entre os nossos pais pervertidos. Uma vez que tantos povos que receberam o santo baptismo e a vida o rejeitam e crucificam de novo, o Senhor volta-se com a abundância das suas graças para os povos ainda mergulhados nas trevas da morte.
[2004]
Os institutos que estenderam a sua santa obra a França, Inglaterra, Constantinopla e Terra Santa são poderosos instrumentos da caridade divina, porém, o que sobretudo representa um bálsamo para o espírito da fé católica é esse sublime foco ardente de preces e de obras expiatórias que o senhor fundou no santuário do Ecce Homo. Sim, as santas Filhas de Sião obterão perdão e graças para os filhos do antigo povo de Deus, ao levar a cabo o desejo do nosso querido Jesus no mesmo lugar em que os judeus pediram que o seu sangue caísse sobre eles e sobre a cabeça de seus filhos. Elas realizam a grande missão que o divino Salvador atribuiu às santas mulheres do Evangelho no caminho da cruz: «Chorai por vós e pelos filhos do meu povo.» Eu faço votos e rezo sempre para que o senhor veja cumpridos os santos desejos que lhe inspirou a Mãe de Deus. Chegam os tempos.
[2005]
Rogo-lhe que mostre aos meus queridos irmãos, o rev.do P.e Estanislau Carcereri e o P.e Franceschini, os seus institutos de Jerusalém e de S. João da Montanha. Ficarão felizes de admirar estas obras de Deus, que evidenciam uma época gloriosa na Igreja na conversão dos judeus e no apostolado. Ao mesmo tempo suplico-lhe que insista para que as santas religiosas Filhas de Sião, no seu zelo ardente, elevem contínuas orações pela conversão dos infelizes negros da África Central. É escusado falar-lhe desta, pois terão notícias dela pelos meus caros irmãos missionários.
Em Paris visitei mais de uma vez a rainha Isabel, de Espanha, e o seu marido, S. M. Francisco de Assis, que me falaram com grande interesse e entusiasmo de si e da sua obra. El-rei, a primeira vez que me viu, saudou-me dizendo: «Oh, seja bem-vindo, meu reverendo padre! Recordo-me bem tê-lo visto na corte de Madrid. Sou feliz de lhe expressar a minha simpatia por si e pela sua obra; é uma tarefa difícil», etc.
[2006]
Depois de lhe ter confirmado que tive a honra de lhe render homenagem em Madrid, etc., depois de oito ou dez minutos de cumprimentos e de se falar sobre a revolução de Espanha, etc., o rei, em presença da rainha, que chorava, disse-me: «Como seguem as suas boas obras de Jerusalém?» «Majestade, eu não tenho casas em Jerusalém; as minhas obras estão no Cairo», etc. «Porém, meu padre, não é o senhor o muito reverendo Ratisbonne?» ‘Seria muito ditoso, majestade – respondi –, se pudesse ter a milésima parte das grandes virtudes do P.e Ratisbonne. Eu sou um pequeno missionário da África Central e chamo-me Comboni», etc. «Ah, peço-lhe desculpas, meu venerado reverendo Comboni, porém, eu conheço-o». Em duas palavras: como vi em sua majestade uma grande simpatia e um entusiasmo verdadeiramente notável por si e pelas suas santas obras, no dia seguinte corri a visitar o muito reverendo P.e Teodoro para o informar daquilo que o rei me tinha dito e sugerir-lhe que lhe fizesse uma visita, na certeza de que seria bem recebido por ele e pela rainha e com a possibilidade de obter muitos benefícios para as suas obras.
[2007]
Encontrei-o frio a este reverendo padre, o qual, como eu insistisse novamente, me respondeu: «Meu amigo, não tenho muita confiança nas boas disposições desta corte. O meu querido irmão foi a Espanha e recebeu um amável acolhimento, mas até hoje não obteve nenhuma vantagem.» E tinha muita razão, porque estas duas augustas pessoas me acolheram bem também a mim e até me encorajaram muito para a difícil obra da conversão da Nigrícia, contudo, creio que doravante será mais difícil obter deles algo tangível.
Peço-lhe que reze ao Senhor para que conceda ao apostolado da África Central santos e activos obreiros evangélicos, tanto europeus como indígenas e permanecemos sempre unidos no eterno amor de Jesus e de Maria.
Seu devot.mo e ind. irmão
P.e Daniel Comboni
Original francês
Tradução do italiano