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421
Regras do lstituto
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1871

N.o 421 (394) - REGRAS DO INSTITUTO

DAS MISSÕES PARA A NIGRÍCIA

BCV, MCXIV

1871

REGRAS

DO INSTITUTO DAS MISSÕES

para a NIGRÍCIA



P.e Daniel Comboni m. a.



Prefácio


 

[2640]
Para que as regras de um instituto que deve formar apóstolos para nações infiéis sejam duradoiras, devem basear-se em princípios gerais. Se fossem muito pormenorizadas, muito em breve a necessidade ou uma grande ânsia de mudança minariam a base do seu edifício e poderiam resultar num áspero jugo e peso grave para quem as houvesse de observar.


[2641]
Sendo sobremaneira variado e desmesurado o campo em que o candidato deve trabalhar, não pode ser limitado a certas actividades determinadas, como nas ordens religiosas; pelo contrário, esses princípios gerais devem enformar a sua mente e o seu coração, de modo que se saiba governar por si mesmo, aplicando-os com sagacidade e juízo nos tempos, lugares e circunstâncias variadíssimas em que a sua vocação o põe.


[2642]
Portanto, para conseguir o fim a que aspira o novo Instituto das Missões da Nigrícia, estabelecem-se apenas os princípios fundamentais que constituem o seu verdadeiro carácter e que estão destinados a servir de norma aos alunos para que se desenvolvam com plena uniformidade e com aquela unidade de espírito e de conduta exterior que permitem reconhecer os membros de uma só família.


[2643]
As regras aqui traçadas, ainda que emanem da mesma natureza do humilde Instituto a que são destinadas, são o fruto de sérias reflexões, de longos estudos, de diligentes consultas e de um pleno conhecimento de causa. Não obstante, por termos que enfrentar uma grande e colossal missão, totalmente nova e especial, será útil esperar para ver com o tempo os resultados das mesmas na experiência prática.


[2644]
Entretanto, submetem-se ao sapientíssimo juízo do Sumo Pontífice e da Sagrada Congregação da Propaganda Fide.

Se bem que estas regras, por si, não obriguem à obediência, nem sequer sob pecado venial, é certo, no entanto, que um espírito humilde, que sinta sinceramente a sua vocação e queira ser generoso com o seu Deus, observá-las-á com muito amor, considerando-as como a via que lhe foi traçada pela Providência, como a manifestação da vontade de Deus a seu respeito. E por isso, certo dos louros que, observando-as, alcançará para a outra vida, conseguidos com a abnegação e com a morte de si mesmo, considere-as ou não razoáveis, não terá o desejo de se subtrair a elas ou a ousadia de censurá-las.


[2645]
Que o Senhor abençoe estas regras, as torne fecundas no coração dos filhos do seu amor com o exercício e com o mérito das virtudes que lhe são mais queridas, e que elas se arreiguem, de modo que sejam o sua guia em todo o tempo e lugar.



Capítulo I



Natureza e objectivo do Instituto




[2646]
O Instituto, ou seja, o Colégio das Missões para a Nigrícia é uma reunião de eclesiásticos e de irmãos coadjutores que, sem o vínculo dos votos, sem renúncia aos próprios bens, sem profissão obrigatória das regras especiais, porém, sempre sob a absoluta dependência dos legítimos superiores, se dedicam à conversão da África e especialmente dos pobres negros, que ainda jazem sepultados nas trevas e nas sombras da morte.


[2647]
O objectivo deste Instituto não sai da órbita das funções estritamente sacerdotais: é o cumprimento do mandato dirigido por Cristo aos discípulos de pregar o Evangelho a todas as gentes; é a continuação do ministério apostólico, pelo qual todo o mundo participou dos inefáveis benefícios do Cristianismo. E tem como finalidade específica a regeneração dos povos negros, que são os mais necessitados e abandonados do universo.


[2648]
Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem.


[2649]
O Instituto está consagrado ao Sacrossanto Coração de Jesus, sob a protecção da SS.ma Virgem Imaculada e do seu puríssimo esposo, o patriarca S. José, como também de S. Miguel Arcanjo, dos santos Reis Magos, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, de S. Francisco Xavier, do beato Pedro Claver, da beata Maria Alacoque e de todos os mártires e santos africanos.



Capítulo II



Organização do instituto




[2650]
O instituto, por sua natureza, depende em primeiro lugar do Sumo Pontífice e da S. C. da Propaganda Fide, aos quais está total e absolutamente subordinado. Só à suprema autoridade da Santa Sé compete modificar substancialmente ou mudar in omnibus et quoad omnia a organização e as regras do Instituto.


[2651]
O superior imediato do Instituto é o bispo de Verona, o qual é representado por um reitor eleito ordinariamente entre os próprios missionários membros do Instituto fundamental, já experimentados no exercício do apostolado africano.

Ajuda o bispo de Verona nas suas funções um corpo por ele presidido, formado pelos mais prudentes e distintos eclesiásticos e seculares da sua diocese, intitulado Conselho Central da Obra para a Regeneração da Nigrícia.


[2652]
O reitor do Instituto é nomeado definitivamente pelo bispo de Verona e isto depois de ter ouvido a opinião do superior das missões da África confiadas ao colégio e após ter submetido a nomeação ao em.o card.-prefeito geral da Propaganda.


[2653]
O bispo de Verona ou o reitor do colégio deverão, cada cinco anos, mediante um relatório exacto, dar conta pormenorizada à S. C. da Propaganda do andamento do Instituto em tudo o que lhe diz respeito.

Ao bispo de Verona compete o poder e a autoridade de admitir aspirantes eclesiásticos e seculares. Nenhum eclesiástico será admitido no Instituto sem estar provido de um documento escrito que demonstre o consentimento do respectivo ordinário e sem ter obtido a bênção dele.


[2654]
Não será admitido no Instituto nenhum eclesiástico ou secular que não se considere disposto a consagrar-se por inteiro e até à morte à obra da regeneração da Nigrícia e que não tenha o ânimo forte e resoluto de morrer para a sua própria vontade e de professar uma obediência perfeita aos legítimos superiores.


[2655]
Como está realmente consagrado à regeneração da Nigrícia tanto aquele que trabalha como mestre de piedade, aquele que ensina matérias teológicas ou científicas no colégio de Verona, ou aquele que colabora de qualquer modo no Instituto para as obras preparatórias da Europa destinadas a formar pessoal para as missões da África, quanto aquele que se dedica directamente à conversão dos infiéis na própria África, o bispo de Verona terá especialmente em conta a vocação ou tendência do candidato, para o destinar ora às obras do Instituto fundamental de Verona ora aos institutos ou missões da África.


[2656]
Não se poderá admitir no Instituto nenhum eclesiástico ou secular que por justo motivo não goze de crédito e de estima ou tenha sido desonrado.

Não será admitido senão com muita dificuldade e só em caso de evidente utilidade para o Instituto aquele que tenha pertencido a alguma ordem ou congregação religiosa.


[2657]
O tempo de prova do candidato no Instituto fica estabelecido entre um e três anos. Mas, dado que tal classe de aspirantes são eleitos entre os indivíduos mais virtuosos, compete ao juízo e consciência do bispo a faculdade de encurtar o tempo de preparação do candidato no Instituto para o destinar aos institutos erigidos nas costas de África, os quais estão organizados de tal modo que efectivamente constituem outros tantos estabelecimentos de formação e de prova para verificar a capacidade e amadurecer a vocação especial para as difíceis missões da Nigrícia central.


[2658]
Compete igualmente ao bispo de Verona julgar definitivamente se um candidato é apto para a obra a que o Instituto se destina, como também fixar a data da partida do mesmo para os institutos da África.


[2659]
É membro efectivo do Instituto fundamental aquele que, depois de passar algum tempo de prova determinado, persiste no firme propósito de se consagrar por toda a vida ao serviço da obra da regeneração da Nigrícia.


[2660]
É competência do bispo de Verona o direito de declarar membro efectivo do Instituto fundamental a quem tiver vivido dois anos inteiramente consagrado às obras do colégio de Verona, sem aspirar às missões africanas.


[2661]
Uma pessoa já enviada para a África só se torna membro efectivo do Instituto fundamental ao cabo de um ano ou dois de permanência nos institutos ou nas missões da África, e o juízo sobre a sua aptidão para o Instituto fundamental compete ao superior da missão da África, o qual deverá mandar o documento oportuno ao colégio de Verona para a sanção do bispo superior.


[2662]
Quando um candidato é declarado membro efectivo do instituto fundamental, tanto por parte do bispo de Verona para os consagrados à obra na Europa como pelo superior das missões africanas para os consagrados à obra na África, torna-se filho do Instituto fundamental, o qual toma conta dele por toda a vida.



Capítulo III



Daqueles que deixam de ser membros

do Instituto fundamental




[2663]
Se alguém deixa de ser membro do Instituto há a considerar se isso ocorre em Verona ou nos institutos da África e também há a ter em conta se se retira por vontade própria ou se foi excluído por motivos justos.


[2664]
Se um membro do Instituto de Verona julgar ter boas razões para se retirar, comunicá-las-á quanto antes ao reitor, o qual as ponderará com os outros membros do colégio. Se os motivos forem considerados válidos e se durante um ano ele persiste em querer abandonar o Instituto, submeterá o assunto ao bispo, o qual, depois de utilizar os meios que considere oportunos para julgar rectamente, concederá saída ao solicitante, que para sempre deixará de ser membro do Instituto, não podendo jamais ser readmitido a qualquer título.


[2665]
Se um membro do Instituto de Verona por sua má conduta se tornasse indigno de continuar a pertencer a ele, o reitor, obtido o parecer dos outros membros, submeterá o assunto ao bispo de Verona, o qual tomará as medidas que a sua razão e consciência lhe ditarem para pôr à prova o transgressor ou o excluir imediatamente e para sempre do colégio.


[2666]
A respeito dos membros do Instituto fundamental já missionários da África, é preciso ter presente que, embora o sacrifício que fizeram de si mesmos desde a sua educação apostólica seja total e irrevogável, e embora tenha suposto uma vontade disposta a sofrer todas as fadigas, todos os perigos e a mais bárbara morte, ainda assim, não é raro o caso de um missionário, depois de ter suado muito pela glória de Deus e pela salvação dos pobres negros, se encontrar em tal estado de esgotamento físico e espiritual que tem absoluta necessidade de descanso. Poderia também suceder que, apesar de todas as cautelas adoptadas pelo Instituto, algum tivesse errado na escolha da carreira, de modo que a sua presença seria mais de estorvo que de ajuda para as missões africanas.


[2667]
Poderiam surgir ainda outras importantes razões que tornassem necessário o regresso de algum à Europa. Em todos estes casos importa considerar as seguintes advertências:

A necessidade ou a conveniência de que um missionário regresse à Europa deverá remeter-se totalmente ao juízo do superior. A este também competirá decidir, ponderado o caso perante Deus e sem lugar a apelo da sua decisão, se os que devem regressar se tornaram ou não merecedores da ajuda do Instituto. Também a falta de espírito de sacrifício nalgum reconhecida pelo superior será causa de demérito. No caso de não existir nem este nem nenhum outro motivo de demérito, eis como procederá o Instituto nos casos do regresso à Europa.


[2668]
1.o Tendo o instituto fundamental necessidade de missionários veteranos, que lhe tragam os conhecimentos que só a experiência pode fornecer, para a formação dos aspirantes ou para colaborar de qualquer modo na santa obra, aquele que, por falta de saúde ou por outros motivos justos não pudesse continuar no exercício do ministério apostólico, voltará para o instituto fundamental, onde continuará a ser membro efectivo do mesmo sob as ordens dos superiores.


[2669]
2.o Se, pelo contrário, o missionário que voltar com o consentimento do superior não continua a pertencer ao instituto como membro efectivo, porque o instituto não o permite ou porque o interessado não o deseja, a direcção recomendá-lo-á ao ordinário a que pertencia, a fim de que se lhe facilitem os meios para que, se estiver em condições para isso, possa exercer o ministério no seu próprio país.


[2670]
Se, por sua má conduta ou por outros motivos, um missionário membro do instituto fundamental se tornasse indigno de continuar a pertencer ao mesmo, será excluído para sempre da missão. E se não tiver com que pagar a viagem para a Europa, tratará disso o superior, porém, só depois de ter obtido do transgressor uma carta redigida na devida forma em que ele se obriga a devolver, no prazo de um ano, ao reitor do instituto de Verona a importância concedida para o seu regresso à Europa.



Capítulo IV



Influência do instituto sobre as missões

e sobre os missionários da África




[2671]
A relação existente entre os membros de um mesmo corpo é a mesma que se verifica entre o instituto fundamental de Verona e os institutos e as missões da África a ele confiados.


[2672]
O instituto fundamental de Verona é o centro de comunicação dos Institutos e Missões da África, o vínculo que os une, a base que os sustente, o estabelecimento legal e permanente que trata dos interesses gerais e particulares das missões africanas e dos missionários que nelas labutam, no respeitante à Santa Sé e à Europa. O superior da missão da África, depois de ser nomeado pela Santa Sé para as árduas funções do governo da mesma, dará a conhecer à direcção do instituto de Verona, quanto antes e com a maior segurança que lhe for possível, quais são os missionários que em consciência julga capazes de lhe sucederem no cargo em caso de morte. Com este propósito, solicitará em segredo o parecer dos membros mais experimentados da missão. Ao propor um ou mais membros para este fim, ter-se-ão mais em conta as virtudes e as capacidades dos candidatos que a sua antiguidade.


[2673]
A direcção do instituto fundamental guardará o mais escrupuloso segredo acerca de tudo o que o superior das missões da África tiver considerado útil e oportuno comunicar sobre os missionários e só se servirá disso em relação à S. Congregação da Propaganda, para, conformando-se ao desejo do superior e dos outros superiores da África, fazer nomear como sucessor, logo que possível, um dos membros por eles designados.


[2674]
Os superiores dos institutos e das missões da África terão informada a direcção do instituto fundamental de Verona sobre a conduta e esperanças de cada um dos missionários e sobre o funcionamento de todas as obras das missões a eles confiadas.


[2675]
O superior das missões africanas comunicará ao Instituto fundamental o regulamento de cada instituto das suas missões, como também todas as inovações que a experiência prática sobre o terreno lhes aconselhar a introduzir, no intuito de isto servir de orientação ao reitor na preparação dos candidatos para o apostolado africano.


[2676]
O instituto fundamental também se preocupará na medida do possível dos interesses temporais dos alunos do colégio durante o exercício do seu ministério na África. Embora o Instituto não deva nunca tomar a seu cargo nem a administração nem a representação de tais interesses, se aquele a quem estes dizem respeito mostrar desejo disso, far-se-á de modo que o representante ou administrador legalmente designado tenha o poder para exercer essas funções, concedido de maneira tal que de facto e de direito permita à direcção do instituto vigiar e proteger o bom funcionamento da administração.



Capítulo V



Missão interno do instituto




[2677]
O instituto recebe no seu seio, sob normas fixas e adequadas ao fim, sacerdotes e clérigos de teologia aptos para o ministério apostólico, bem como leigos de provada piedade e competência, principalmente com o objectivo de fazer deles irmãos coadjutores, catequistas, docentes e mestres de artes e ofícios úteis e necessários na Nigrícia. Por isso:

1.o É ao Instituto a quem compete necessariamente a missão de provar cuidadosamente a vocação dos candidatos para a Nigrícia.

2.o Também a de cultivar as aptidões dos seus alunos, procurando que correspondam perfeitamente às requeridas para tão sublime vocação.

As regras e normas do instituto dimanam principalmente do espírito de tão alta e importante missão.



Capítulo VI



Da prova da vocação




[2678]
O primeiro e mais importante papel do instituto é a boa escolha dos obreiros destinados às tarefas apostólicas da Nigrícia, do qual depende o feliz arranque da missão, a sua prosperidade, a sua duração. Portanto, nisto reside o seu máximo interesse e também o interesse dos próprios missionários e o das almas que lhe estão confiadas. Assim pois, o bispo de Verona, o reitor e quantos de algum modo estão a cargo deles, tanto dentro do instituto como fora, cumprirão com a máxima seriedade e o maior zelo possível o elevado encargo de provar a vocação.


[2679]
Esta prova tem lugar em duas épocas:

1.o Quando alguém solicita o seu ingresso no instituto.

2.o Uma vez que o candidato já tenha sido admitido, durante a sua estada no instituto.



Capítulo VII



Normas gerais que se devem observar quando alguém

solicita o seu ingresso no instituto




[2680]
Quem desejar seguir Jesus Cristo nas funções da vida apostólica e aspirar a ingressar no Instituto das Missões para a Nigrícia deve antes de tudo dar a conhecer o seu desejo ao bispo de Verona e ao seu representante, o reitor do colégio, cujo principal empenho é procurar distinguir as vocações verdadeiras das falsas antes da admissão dos aspirantes. Por isso, ao apresentar-se pela primeira vez um postulante, o reitor normalmente não lhe dá uma resposta decisiva, mas procede com lentidão, até ter usado todos os expedientes para conhecer claramente a vontade divina.


[2681]
Estes recursos são:

1.o Oração. O reitor, antes de decidir, fará práticas especiais de piedade, encomendar-se-á a Deus na santa missa, invocará a Mãe do Bom Conselho, S. José e os outros santos protectores, pedirá orações às almas justas e verdadeiramente devotas e fará com que os próprios postulantes se comprometam também a rezar, bem como os candidatos já admitidos e os membros do Instituto.

2.o Instruções aos postulantes. Serão advertidos das dificuldades especiais da carreira apostólica a que aspiram e das boas qualidades requeridas para se comprometerem nela com as devidas garantias. Morrer absolutamente para a própria vontade e sacrificar-se inteiramente a si mesmo até à morte por meio de uma perfeita obediência aos legítimos superiores é a primeira instrução que se deverá dar aos postulantes.


[2682]
Não se deixará de lhes observar que, dadas as circunstância de isolamento em que se encontra o missionário africano e o perigo que encerram os costumes dos povos da Nigrícia, que ignoram as elementares normas de pudor, é necessária sobretudo uma castidade a toda a prova. Embora se tenha de contar muito com a especial assistência de Deus aos que são verdadeiramente chamados a este árduo ministério e ainda que, sem desanimar ninguém, se deva observar que os caracteres reflexivos são os mais idóneos, apesar de parecerem os menos dispostos a desafiar os perigos, não se deixará de fazer a expressa advertência de que quanto dizem os teólogos sobre o hábito da pureza, requerida como condição necessária para as ordens sagradas ou para a profissão religiosa dos leigos, deve entender-se em sentido muito rigoroso tratando-se de aspirantes ao ministério apostólico, para os quais certamente não bastariam simples propósitos num ponto tão delicado.


[2683]
3.o Interrogações e informações. Às instruções acrescentar-se-ão, podendo fazê-las pessoalmente, oportunas perguntas. Além disso, pôr-se-á todo o cuidado em conseguir de várias fontes exactas e minuciosas informações sobre o postulante, advertindo que se manterá a confidencialidade o máximo possível. Por outro lado, ter-se-á bem presente a máxima de que as vocações dificilmente se decidem por quem não conhece bem o nosso interior, e perguntar-se-á aos aspirantes se trataram bem o assunto com o seu director espiritual.


[2684]
4.o Consultas. O reitor pôr-se-á em contacto, na medida do possível, com as pessoas mais autorizadas pela sensatez, experiência e consciência, a fim de obter ajuda mediante os seus conselhos, de modo que esteja em grau de emitir um juízo recto sobre o postulante, na altura de propô-lo ao bispo para admissão. Consultará também os membros mais maduros do colégio, com os quais costumam aconselhar-se sobre as coisas mais importantes do instituto.

Eis as máximas gerais que se devem ter sempre presentes:


[2685]
A vocação ao apostolado, segundo a generalidade dos teólogos, est actus Providentiae supernaturalis, quo Deus aliquos prae aliis eligit ad ministerium apostolicum eosque congruis dotibus praeparat ad eiusdem ministerii officia digne et laudabiliter obeunda.


[2686]
A vocação ao ministério apostólico não é sempre acompanhada de uma propensão patente e irresistível a tão sublime carreira, porém, exige sempre uma vontade constante e generosa para se oferecer em sacrifício a Deus, unida à aptidão para exercer a função a que se aspira.


[2687]
É necessário, pois, que quem se oferece para o difícil e laborioso apostolado da Nigrícia tenha uma verdadeira disposição, baseada no sentimento da fé e na caridade, para se dedicar à conversão das almas mais abandonadas do mundo e para propagar naquelas vastas e desconhecidas terras o reino de Cristo.


[2688]
Embora o engenho e a ciência eminentes sejam desejáveis, todavia não se excluirão os medíocres, uma vez que, unidos aos mais capazes, podem também eles, com abnegação e caridade, exercer o seu ministério igualmente valioso para as pobres almas da Nigrícia.


[2689]
Quanto à saúde e força corporal, a experiência demonstrou que na temperatura africana se podem ter excelentes trabalhadores ainda que não sejam os mais robustos e que a diferença de clima pode favorecer uma constituição mais frágil. Por outro lado, é de tanto valor um operário apostólico na África, que não se deve desdenhar nenhum aspirante, sempre que os dotes essenciais não faltem, os quais se terão mais em conta que o vigor do corpo. O reitor guiar-se-á por estas normas ao propor o aspirante ao bispo de Verona. Se não se descobrem nele as disposições necessárias para o ministério a que aspira, há que dissuadi-lo da sua ideia e manter-se firme em não aceitá-lo. Se se considera que se deve admiti-lo, convida-se a que se dirija ao ordinário da diocese a que pertence, a fim de obter a sua autorização e bênção, após o que pode ingressar no colégio.


[2690]
No caso de um postulante, digno de ser admitido, encontrar forte resistência por parte de seus pais e parentes, o reitor informar-se-á dos motivos que a originam; e, tomando como norma a caridade ordenada pela Igreja, a qual dispensa até os religiosos professos dos votos monásticos nas mais agudas necessidades dos pais, de nenhum modo aceitará a petição e persuadirá o aspirante a ficar ali onde o chama a Providência. Quando não se vir necessidade familiar, mas só choque de interesses e afectos humanos, ainda assim o reitor exigirá do aspirante toda a prudência e delicadeza, a fim de que, ao obedecer à chamada de Deus, não deixe de ter para com seus pais as atitudes de educação e respeito que competem a filhos bem-nascidos e obtenha, além disso, se lha derem, o conforto da bênção paterna e materna.



Capítulo VIII



Normas gerais que se devem observar quando

o candidato já tenha sido admitido

durante a sua estada no instituto




[2691]
Quando o aspirante já tiver sido admitido no instituto, presume-se que reúne as condições requeridas e, encontrando-se em certo modo em posse da carreira empreendida, não deve ter no seu íntimo dúvidas sobre isso; pelo que, se não surgirem sinais bem claros em sentido contrário, não deve submeter mais a consultas a sua determinação. Deve advertir-se disto, para evitar a excessiva incerteza de almas que são, às vezes, as mais aptas e as mais claramente chamadas, a fim de que não enfraqueçam o seu espírito e gastem as forças da vontade em exames supérfluos, mas que, considerando já passado o tempo da prova preliminar, se apliquem com sério empenho a cultivar as aptidões necessárias para o apostolado.


[2692]
Não obstante isso, com o objectivo de não descurar nenhum meio para melhor se assegurar da chamada de Deus, realizar-se-ão as seguintes práticas:

1.o Nos primeiros dois meses da sua entrada no instituto, o candidato fará seis dias de exercícios espirituais para se preparar bem para a aprendizagem que deve empreender quanto à carreira da sua vocação; isto sempre que não estejam próximos os exercícios anuais do colégio.

2.o Haverá anualmente exercícios espirituais durante oito dias, a fim de que, mais vivamente iluminada e sensibilizada aos conselhos da verdade e as inspirações do céu, a alma possa descobrir mais facilmente as ilusões da imaginação e do Demónio, no caso de se ter desviado.

3.o Na primeira semana de cada mês, os candidatos farão um dia de retiro espiritual, como preparação para a morte.

4.o Cada aluno, ainda que tendo uma razoável liberdade na escolha de confessor para as confissões ordinárias, contará também com um director espiritual, que manterá informado sobre a sua conduta, fazendo com ele a sua confissão geral, as anuais e algumas mensais.


[2693]
Finalmente, no tocante a isso, servirão as disposições do reitor, sobre as quais descansarão confiadamente os alunos. Consultando, em caso de necessidade, o bispo, prestando a devida atenção ao comportamento, ao carácter e a todas as qualidades dos candidatos, o reitor determina definitivamente, perante Deus e segundo as suas inspirações – submetendo depois tudo ao bispo –, os casos de vocação.


[2694]
Se julga ter descoberto no candidato algum defeito corrigível, recorrerá às advertências e remédios para obter a emenda e prolonga a prova.


[2695]
Se a emenda não for de nenhum modo possível e o defeito se tornar incompatível com a carreira apostólica, depois de ouvir o bispo, procurará o mais rápido que a prudência e a caridade permitirem e, em todo o caso, dentro do primeiro ano de prova, deixar o aluno livre para ir para outro lado, para se dedicar melhor a outro ministério a que Deus o chame. Se, pelo contrário, o indivíduo for julgado válido, o instituto dedicar-se-á a cultivar as suas aptidões para o apostolado da Nigrícia, dispondo dele mais cedo ou mais tarde, conforme as necessidades das missões da África.



Capítulo IX



Cultivo das disposições dos candidatos

para o ministério apostólico da Nigrícia




[2696]
A convivência e as boas normas do Instituto das Missões para a Nigrícia são úteis não só para estreitar os missionários num santo vínculo de fraternidade e criar aquela unidade de método e de espírito, que é a força dos institutos e que tanto serve para conservar e perpetuar o fruto das boas obras mas também para ajudar a desenvolver e amadurecer as virtudes e a fornecer a série de conhecimentos, cautelas e de disposições mais especiais que se precisam como dotes para exercer tão alto ministério. Por isso, segundo a séria consideração do espírito da obra, as normas indicadas a seguir são convenientes:

1.o Para cultivar o espírito e as virtudes dos aspirantes ao apostolado.

2.o Para regular bem os estudos e os exercícios destinados a desenvolver o intelecto e as capacidades necessárias na prática do ministério apostólico na Nigrícia.

3.o Para cuidar do bom estado de saúde e das forças físicas dos candidatos às missões da África Central.


[2697]
Como resumo destas normas destinadas ao cultivo das disposições para o apostolado africano, seguirá o regulamento particular do instituto, ou seja, o horário e distribuição das várias actividades do Instituto segundo os tempos e as ocasiões.



Capítulo X



Normas específicas para cultivar o espírito e as virtudes

dos alunos do instituto




[2698]
A vida de um homem que de modo absoluto e definitivo chega a romper todas as relações com o mundo e com as coisas mais queridas segundo a natureza, deve ser uma via de espírito e de fé. O missionário que não tivesse um forte sentimento de Deus e um vivo interesse pela sua glória e pelo bem das almas, careceria de aptidão para as suas funções e terminaria numa espécie de vazio e de intolerável isolamento.


[2699]
A sua obra não estará sempre rodeada dessa consideração, dessa atmosfera de favor e quase de aplauso que se cria à volta do sacerdote que trabalha no meio de almas inteligentes e de corações sensíveis.


[2700]
Este conforto humano pode até alimentar um zelo pouco fundado em Deus e na caridade. Porém, o missionário da África Central não pode nem deve esperá-lo. Ele trabalha entre selvagens embrutecidos pelos horrores da escravidão mais desumana e que adquiriram comportamentos bestiais pela mísera situação em que a desventura e a desumana crueldade dos seus inimigos e opressores os lançou. Esses infelizes negros estão acostumados a que lhes arrebatem violentamente os seus filhos, para serem submetidos a dolorosa escravidão, sem esperança de os voltarem a ver; vêem, por vezes, matar sem piedade familiares queridos e até os seus próprios pais. E como os celerados autores de tão horríveis crimes em geral não pertencem à sua raça, mas são estrangeiros, esses desventurados selvagens, habituados a que todos os atraiçoem e os maltratem da maneira mais cruel, olham às vezes o missionário com desconfiança e terror, porque é estrangeiro. Por isso eles manifestam-se aos olhos do mesmo como bárbaros, estúpidos, ingratos e brutais. Ele, portanto, em vez de esperar encontrar uma lisonjeira correspondência de afectos, deve estar resignado a ver resistências hostis, inconstâncias dolorosas e negras traições. Daí que em muitas ocasiões tenha de adiar a esperança do fruto para um futuro remoto e incerto; e às vezes tem de se contentar com semear, no meio de infinitos suores, privações e perigos, uma semente que só dará algum fruto aos missionários sucessores. Deve considerar-se, portanto, como um indivíduo anónimo dentro de uma série de operários, aos quais compete não tanto esperar os resultados da sua obra pessoal, quanto o fruto do concurso e de um conjunto de esforços misteriosamente manejados e utilizados pela Providência.


[2701]
Numa palavra, o missionário da Nigrícia deve com frequência reflectir e meditar que ele trabalha numa obra de altíssimo mérito, sim, mas muito árdua e laboriosa, para ser uma pedra escondida debaixo da terra que talvez nunca apareça à luz e que entra a fazer parte do cimento dum novo e colossal edifício, que só os vindoiros verão despontar do solo e elevar-se, pouco a pouco, sobre as ruínas do feiticismo, e agigantar-se para acolher, depois, no seu interior, os mais de cem milhões da desditosa estirpe dos camitas, que desde há mais de quarenta séculos gemem curvados sob o jugo de Satanás.


[2702]
O missionário da Nigrícia, despojado por completo de si mesmo, e privado de todo o afecto humano, trabalha unicamente para o seu Deus, para as almas mais abandonadas da Terra, para a eternidade. Com os olhos postos unicamente no seu Deus, que lhe serve de impulso, tem em todas as circunstâncias com que nutrir-se e alimentar abundantemente o seu coração, desde que, seja num tempo próximo ou longínquo, com mão estranha ou com a própria, venha a recolher o fruto dos seus suores e do seu apostolado. E o seu espírito não interroga Deus sobre as razões da missão d’Ele recebida, mas trabalha confiado na sua palavra e na dos seus representantes, como dócil instrumento da sua adorável vontade e em todas as circunstâncias repete profundamente convencido e com vivo regozijo: servi inutiles sumus; quod debuimus facere fecimus (Lc, 18).


[2703]
Pelo contrário, ai daquele que for levado a essas árduas funções por outro motivo, quer se trate de uma passageira labareda de fervor, de ânsia de viagens exóticas ou do desejo de se distinguir abraçando uma carreira extraordinária! Para além de ir sucumbir nos momentos de escuridão e desalento, para além de não poder aguentar uma vida de fadigas e privações contínuas, sentiria as tendências da perversa natureza de um modo mais perigosamente aliciante, e poderia cair vítima da sedução ou das mais ignóbeis paixões.


[2704]
Mas não se deve exagerar, nem facilmente sentenciar sobre a quantidade e a força das ocasiões perigosas que se apresentam ao sacerdote na Europa e ao missionário na África Central.


[2705]
É justo considerar que o prestígio e as lisonjas, que rodeiam os nossos sacerdotes aqui na Europa, e o ambiente mundano em que às vezes têm que actuar podem lentamente pervertê-los não menos que o confronto sem defesas com perigos mais evidentes e formais. Também há que ter em conta que, se o missionário da África, isolado naquelas remotas terras, carece de muitas ajudas e apoios, leva, contudo, por isso mesmo, uma vida mais dura e necessariamente obrigada a pensamentos de ordem superior. Quando o missionário da Nigrícia tem um coração ardente de puro amor de Deus e com o olhar da fé contempla o sumamente benéfica, grande e sublime que é a obra pela qual se afadiga, todas as privações, os esforços contínuos, os mais duros trabalhos tornam-se para o seu coração um paraíso na Terra e a própria morte e o mais cruel martírio é o mais caro e desejado galardão para os seus sacrifícios.


[2706]
Não há, pois, que exagerar os temores, mas observar que em muitos casos a mais sólida salvaguarda do missionário da África é a sua consciência e a sua fé. Por todas estas razões e por todas as muitas outras que deverão ser matéria de frequentes meditações para os alunos do Instituto, aspirantes ao apostolado da Nigrícia, importa necessariamente que eles tenham sólidas disposições de genuíno zelo, de puro amor e temor de Deus e que sejam fortalecidos por um seguro domínio das suas paixões. Para tal fim, mantendo-se permanentemente no instituto a simplicidade, a alegria e também um elevado grau de vivacidade, é preciso que domine claramente o fervor pelas coisas espirituais, o estudo da vida interior e um desejo vivíssimo de perfeição.


[2707]
Além dos exercícios espirituais cada ano, um retiro todos os meses e a confissão sacramental ao menos uma vez por semana, e, além da oração mental de uma hora pela manhã, os exames de consciência, a leitura espiritual, a visita ao Ss.mo Sacramento e à Virgem Maria e todas as outras práticas quotidianas de piedade, os alunos devem familiarizar-se em extremo, até se lhes tornar quase natural, com o exercício assíduo da presença de Deus e de uma íntima e familiar comunicação com Ele, por meio de frequentes e devotas aspirações, o que constituirá matéria do exame particular.


[2708]
Para ajuda da piedade e do espírito são úteis os exercícios de mortificação exterior, embora tenha de se proceder com discrição, e é conveniente consultar sobre isso o próprio confessor e director espiritual, o qual permitirá esta ou aquela abstinência ou penitência corporal, especialmente nas sextas-feiras e nas vigílias das festas principais da Igreja e do instituto. Mas não há sobre isso regra de aplicação geral estabelecida no colégio.


[2709]
O mais importante é que todas estas práticas de piedade e de mortificação, com o costume, não se tornem uma formalidade material. Por isso repete-se frequentemente que nos exercícios privados de cada um e nos realizados em comum por todos, especialmente nas conferências espirituais, a necessidade de fazer oração válida e consistente e de actuar em espírito e verdade. Para discernir depois se é veraz ou superficial, mede-se a piedade com o proveito da mortificação interior e especialmente das duas virtudes fundamentais da vida interior e exterior: a humildade e a obediência.


[2710]
É preciso que os candidatos, com a fiel cooperação da graça divina, ponham todo o cuidado em esvaziar o seu coração de todo o orgulho e presunção, de todo o sentimento de ambição e de pretensão, e em fazer arreigar profundamente nele aquela santa disposição que nos leva a ver tudo através de Deus e a submeter-Lhe totalmente a inteligência, a vontade, as forças, e, para Ele e por Ele, nos faz submeter tudo aos que O representam. Em particular seja respeitada como voz de Deus: 1.o, a voz do director espiritual, ao qual se fará total confidência de todo o interior e de todo o comportamento; 2.o, a voz do bispo e do reitor, dos quais os alunos procurarão seguir não só as ordens mas também os seus desejos e indicações; 3.o, a voz da regra e os objectivos da comunidade, para os quais estarão dispostos com a mais escrupulosa exactidão e perfeição.


[2711]
Se os candidatos cultivarem este espírito de sincera piedade, de humildade e de obediência até morrer espiritualmente para si mesmos nesta parte mais íntima do amor próprio, a divina graça ajudá-los-á a vencer e a dominar todas as outras paixões e a adquirir todas as demais virtudes.


[2712]
Bastaria ter presentes e seguir estas normas gerais de perfeição. Contudo, para maior ajuda neste caminho espiritual convirá prestar atenção em particular às seguintes virtudes, que são mais directamente necessárias para o ministério apostólico da Nigrícia.


[2713]
1.o A castidade. No interior do Instituto está estabelecida a clausura para as mulheres. As visitas das familiares e de outras pessoas do sexo feminino. a quem se deva permitir a entrada por verdadeira conveniência ou por dever de função ou de caridade, recebem-se na sala comum e com todas as cautelas da modéstia e do decoro sacerdotal.


[2714]
E estas cautelas observam-se também nos ministérios espirituais não só para afastar todo o perigo mas também para não dar lugar a suspeitas e falatórios, ainda que por isso se deixe de fazer alguma boa obra.


[2715]
A este respeito, os alunos saberão exercitar-se conscienciosamente, de modo que, chegada a ocasião de se encontrar no meio de perigos inevitáveis, tenham adquirido o hábito da modéstia, da pronta elevação do coração a Deus e da desenvolta circunspecção, que lhes permitam fazer bem às almas alheias... sem risco de perturbar e causar dano à própria!


[2716]
2.o A caridade. Pratica-se principalmente no interior do colégio mediante todo o sentimento e as demonstrações de uma sacerdotal e cristã benevolência, excluindo as preferências, as rivalidades, as invejas, as discussões, as contendas e os modos demasiado confidenciais, com prejuízo da própria dignidade e do respeito devido aos demais. Cada um se obriga a pedir pronta e humildemente perdão àquele a quem de alguma maneira considere ter desgostado. Cada um se prestará a que lhe sejam advertidas as suas faltas e há-de procurar que triunfe sempre a caridade, tanto na indulgência em relação aos defeitos como na oportuna protecção fraterna.


[2717]
Quanto às pessoas de fora, embora haja que guardar prudente reserva também para cuidar do necessário recolhimento e se deva evitar ir, sem necessidade, por lugares frequentados e muito mais às casas dos particulares, contudo procurar-se-ão fomentar todos os bons costumes de urbanidade, autêntica afabilidade e cordialidade cristãs. Atender-se-á sobretudo a ser exemplares na atitude e no hábito (que é o dos bons eclesiásticos, sempre uniforme, e trazido dentro e fora do colégio e a qualquer hora do dia, também no Verão) e no falar, onde o discurso, evitada toda a afectação, será sempre condimentado pela sabedoria do Evangelho e será levado, quando se puder, a alguma conclusão edificante e proveitosa para as almas.


[2718]
Pela salvação destas, os alunos intensificarão ainda mais a caridade nos ministérios espirituais e assumirão sempre com júbilo e exercerão sempre com paciência, esmero e amor, as importantíssimas funções de confessar – sobretudo aos pobres –, de catequizar os ignorantes e os meninos, de ensinar a doutrina cristã ou de pregar numa igreja, sempre, isso sim, com o convite do reitor e aprovação do reitor. Atendendo ao bem das almas em todas as diversas oportunidades que se lhes oferecerem nestas circunstâncias, farão de modo que a sua acção reflicta o fervor do espírito apostólico, de que aqui devem dar qualquer primícia.


[2719]
O que não puderem fazer muito com as obras, procurarão obtê-lo com a oração. Ao menos aquilo de que os faz capazes a divina bondade. Tenham posta a mente e o coração, em todas as situações, nas míseras almas do universo inteiro e especialmente nas da África Central, que jazem sepultadas nas trevas da infidelidade e do erro, e apliquem-se a impetrar misericórdia para elas com o pouco que puderem fazer, mediante a graça de Deus, rezando a sua conversão na santa missa, nas jaculatórias e em todas as práticas de piedade, interpondo os méritos e a intercessão da Santíssima Virgem Imaculada e de todos os santos protectores, rezando orações especiais e submetendo-se a convenientes mortificações e penitências pela conversão dos infiéis.


[2720]
3.o Espírito de sacrifício. O pensamento, sempre dirigido ao grande fim da sua vocação apostólica, deve suscitar nos alunos do instituto o espírito de sacrifício.


[2721]
Fomentarão em si esta disposição essencialíssima, tendo sempre os olhos postos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e procurando entender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz pela salvação das almas.


[2722]
Se com viva fé contemplam e saboreiam um mistério de tanto amor, serão felizes por se oferecerem e perderem tudo e morrer com Ele e por Ele. Ao separarem-se da sua família e do mundo, deram apenas o primeiro passo: procurarão ir cada vez mais longe, até consumarem o seu holocausto, renunciando a todo o afecto terreno, habituando-se a prescindir das suas comodidades, dos seus pequenos interesses, da sua opinião e de tudo o que lhes diz respeito, pois até um ténue fio que permanecer pode impedir uma alma generosa de se elevar até Deus. Por isso, será contínua a prática da negação de si mesmos, mesmo nas pequenas coisas, e renovarão com frequência a oferta de si mesmos a Deus, incluída a saúde e até a vida. Para levar o espírito a estas santas disposições, em certas circunstâncias de maior fervor farão todos juntos uma formal e explícita entrega de si mesmos a Deus, oferecendo-se cada um, com humildade e confiança na sua graça, até ao martírio.



Capítulo XI



Normas específicas para regular os estudos e os exercícios

destinados a cultivar o intelecto e as atitudes necessárias

na prática do apostolado africano




[2723]
Alguns têm uma ideia exagerada quanto à amplitude de conhecimentos e cultura intelectual de que necessita um missionário; outros quereriam encontrar num instituto como o nosso uma academia de ciências e artes, uma escola de todas as línguas. Para evitar surpresas a quem esperasse um grande aparato de estudos e ainda mais para insinuar aos alunos a importância do recolhimento, da humildade e dirigir melhor o espírito para esse ponto de maior importância que nenhum outro, convirá proclamar aqui a grande máxima do maior dos missionários entre os apóstolos infiéis, o apóstolo S. Paulo: A maior ciência, antes a única verdadeiramente necessária é a de Jesus crucificado.


[2724]
Non enim – escreve o apóstolo aos Coríntios – iudicavi me scire aliquid inter vos, nisi Jesum Christum et hunc crucifixum (1 Cor 2,2).


[2725]
Portanto, tida muito em conta esta máxima e tomada como norma do espírito com que devem estudar, vigiando-se a si mesmo – não aconteça que a excessiva intensidade da aplicação aos estudos subtraia tempo aos exercícios de piedade ou endureça o coração ou que o êxito os torne orgulhosos –, e entendendo dirigida ao tempo de estudo a recomendação das jaculatórias devotas, os alunos dedicar-se-ão ao estudo com a máxima solicitude e também farão diante de Deus a devida meditação sobre a importância dele. Pensarão na necessidade em que se encontrarão de enfrentar os missionários protestantes, os grupos heterogéneos de hereges orientais, os racionalistas e incrédulos de toda a parte, os muçulmanos e os idólatras, tanto nas longas viagens como nos campos das suas fadigas apostólicas. Pensarão também no crédito e ascendente que proporciona à religião a habilidade e cultura de quem a prega e na necessidade de prontas resoluções em casos complicados, sem ter meios de consulta, nem sequer tempo para grandes reflexões.


[2726]
Dado além disso que a experiência verificou que a Providência utiliza amiúde, para a conversão dos povos, os conhecimentos dos missionários até de ciências puramente humanas e de artes de utilidade temporal, antes de puro deleite, nada que se refira a este ponto, sob a direcção do reitor, julgarão inútil, nem indigno da sua atenção e do seu empenho, que não possam oferecer para a glória de Deus e o bem futuro das almas.

Para determinar com alguma precisão o tipo de estudos que são indispensáveis aos candidatos das missões africanas, estabeleceu-se:


[2727]
1.o Os alunos clérigos frequentarão as aulas teológicas do Seminário Episcopal contíguo e seguirão com diligência e assiduidade as lições de todas as matérias que nelas se ensinam, considerando que dependerá muito do empenho com que se aplicam a este importantíssimo dever o juízo que se terá da sua vocação apostólica. Nas férias outonais orientar-se-ão pelo regulamento particular dos sacerdotes, feitas as modificações que o reitor julgar oportunas pela sua condição especial.

2.o Quanto aos alunos já sacerdotes, um regulamento preparado expressamente para eles estabelece as matérias, a ordem e o sistema de estudos com que se preparam para a carreira apostólica.


[2728]
Em geral, os alunos aplicam-se de preferência aos estudos de primeira necessidade para o exercício prático do ministério sacerdotal e procuram dedicar a maior parte do seu tempo e do seu esforço a adquirir sólidos conhecimentos sobre as provas do catecismo, sobre como conhecer e combater todos os erros do feiticismo e do Islamismo e sobre como refutar os sistemas e os sofismas de todas as heresias orientais e das seitas protestantes e racionalistas. Estes estudos de controvérsia, ajudados pelos da Sagrada Escritura e da História Eclesiástica, constituem a mais séria ocupação do Instituto.


[2729]
Quanto às línguas, bastará o exercício do francês e o estudo dos rudimentos fundamentais do árabe e quem tiver mais tempo e aptidão para isso adquirirá conhecimentos das inúmeras línguas das tribos da África Central, como a dos Dincas e a dos Bari. Porém, a experiência mostrou que neste assunto não se deve perder tempo com exercícios dificílimos e muitas vezes inúteis, porque as línguas dos povos infiéis devem-se aprender, regra geral, lá onde se falam.


[2730]
Como nas vastas tribos da Nigrícia falta quem se ocupe da saúde dos estrangeiros e dos indígenas, alguns sacerdotes e irmãos coadjutores com mais aptidão aplicar-se-ão, sob a orientação de um experimentado e hábil mestre, a estudar medicina prática, cirurgia, flebotomia e farmácia, tendo para isso como base o texto de Antoniacci. Também se deverão adquirir conhecimentos de astronomia, agricultura e ciências semelhantes, que contribuem poderosamente para tornar eficazes entre os negros o apostolado dos missionários.


[2731]
Para que estes estudos sejam menos áridos e ao mesmo tempo notavelmente mais intensos e frutuosos, complementam-se diariamente com conferências familiares e bem reguladas e, avançando-se a par e passo por parte de todos, e sob a orientação do mesmo autor, cada um apresenta o resumo do capítulo estudado e propõe, sem superfluidades nem inúteis digressões, as dificuldades que encontrou em algum ponto, para as quais desejaria uma clara solução. Além disso, por ser útil que cada um, segundo a sua capacidade, procure aprofundar os conhecimentos na matéria, sobretudo acrescentando ao estudo do autor adoptado como guia a leitura de tratados mais amplos e de profunda reflexão de outros autores, todos levarão à conferência o fruto dos estudos individuais, para a comum erudição e proveito.


[2732]
O reitor do instituto tem o compromisso de assistir normalmente a esses colóquios, e, se alguma vez estiver impedido de o fazer, delega num substituto. Ele dirige os estudos e propõe as normas que neles se devem seguir, depois de ter consultado o bispo superior.


[2733]
Sobre o modo de dirigir os estudos, convém advertir que não se deve reparti-los, dividindo a atenção entre matérias díspares, mas concluir-se-ão um após outros os tratados principais, dedicando-lhes um estudo continuado e completo.


[2734]
Para fazer uma aplicação da matéria estudada, os alunos redigirão composições para o ensino religioso do povo, que submeterão antecipadamente a algum perito e que para se exercitarem lerão em voz alta na capela do instituto e também, com prévia autorização do reitor, nas igrejas e oratórios públicos. Os alunos adestrar-se-ão a ensinar com clareza, precisão, facilidade e graça a doutrina cristã, tanto a crianças como a adultos, que é o exercício mais essencial e importante do missionário de infiéis. Exercitar-se-ão também a explicar o Evangelho, a proferir discursos morais e, especialmente com meninos e ignorantes, exercitar-se-ão nas exortações familiares, feitas até de modo improvisado.



Capítulo XII



Normas específicas para cuidar da saúde

e das forças corporais dos alunos

do Instituto das Missões Africanas




[2735]
Como na vida daquele que se prepara para o apostolado da África são necessários o exercício da mortificação e da habituação às provações, e devendo-se, por outro lado, ter grande atenção à saúde e força dos alunos, especialmente à dos de compleição mais franzina, assim, a primeira advertência que se fará para cuidar da saúde será a de que se faça uma escolha prudente daqueles exercícios de mortificação que a não prejudicam e, mais ainda, daqueles que a favorecem.


[2736]
Assim, os alunos poderão satisfazer o seu fervor sem prejudicar a sua saúde:

1.o Com a prontidão e exactidão na observância das normas do Instituto. Porque, se ao regular os seus passos e as suas acções, a regra lhes proporciona frequentes ocasiões de negação de si mesmos, não deixam de ter cuidado da sua saúde, variando as ocupações e fazendo com que as que requerem esforço do corpo sigam as que só exigem a ocupação do espírito.


[2737]
2.o Mediante a prática de uma caritativa convivência de uns com outros. Porque, estando destinados a viver entre os povos mais bárbaros, e a ter que adaptar-se aos usos, costumes e caracteres mais diversos, bem como aos temperamentos mais diversos, exercitar-se-ão nisto convenientemente propondo-se cada um, já desde o colégio, moldar-se à opinião, ao génio, ao carácter dos outros. Isto oferecer-lhes-á, sem dúvida, ocasiões tanto mais preciosas e frequentes, quanto mais insignificantes e inobservadas de multiplicar os actos inócuos de mortificação.


[2738]
3.o Observando a urbanidade, limpeza e bons modos que tanto poderão ajudá-los a ganhar a benevolência no trato com pessoas de todas as nações e de todas religiões, com as quais terão de se encontrar no futuro. Este contínuo bom governo da pessoa, das maneiras, dos discursos, do vestir e da habitação trar-lhes-á uma série de pequenos sacrifícios e de pequenas vitórias sobre a preguiça co-natural à natureza humana.

Haverá também ocasião de se mortificar e, ao mesmo tempo, de favorecer a saúde e as forças:


[2739]
1.o Mantendo o domínio de si mesmo e uma circunspecção que exige uma razoável sobriedade, não só na comida e na bebida mas também no grau de aplicação aos estudos e de empenho nas coisas louváveis e boas.

É necessário e utilíssimo também para a saúde que os alunos se autocontrolem e saibam moderar com força o ardor cego, o ímpeto excessivo, aquela espécie de ânsia e de avidez com que às vezes actuam. Nada mais útil que formar-se nos hábitos de calma, de ordem, de sereno e digno procedimento, que deixa ao espírito a liberdade necessária para fazer o bem sem confusão nem precipitação e evita os perigos de uma tensão e um esforço que oprimem corpo e o espírito.


[2740]
2.o Será muito benéfica alguma prática útil de agricultura e de ajuda nos trabalhos de construção e de restauração, nos quais se poderá encontrar um entretenimento e uma preparação conveniente para as necessidades das missões da África, nas quais há que fazer tudo. Por outro lado, ter-se-á todos os dias um tempo livre para algum descanso, entretenimento, como o jogo das bocce e outras distracções similares, e principalmente um ou outro passeio pela tarde, como também em certos dias de férias extraordinárias; e, no Outono, no intuito de treinar os candidatos a grandes viagens, far-se-ão passeios adequados e pequenas passeios ao campo ou a algum santuário dos nossos arredores.



Capítulo último



Regulamento particular do instituto;

isto é, horário ou distribuição das diversas actividades,

segundo o tempo e a ocasião.






422
O Plano (IV edição)
0
Verona
1871
N.o 422 (395) - PLANO PARA A REGENERAÇÃO DA ÁFRICA

ACR, A, c. 25/9 n.3



PLANO PARA A REGENERAÇÃO DA ÁFRICA

PROPOSTO POR P.e DANIEL COMBONI

MISSIONÁRIO APOSTÓLICO DA ÁFRICA CENTRAL

SUPERIOR DOS INSTITUTOS DE NEGROS DO EGIPTO



QUARTA EDIÇÃO

­­­

Verona

Tipografia Episcopal de A. Merlo

1871



REGENERAÇÃO DA ÁFRICA COM A ÁFRICA



[2741]
Um nevoeiro de mistério envolve ainda hoje aquelas remotas regiões que a África, na sua vasta extensão, encerra. E se é bem verdade que, para desfazer um instante o denso nevoeiro, transportando até lá uma chispa da civilização de que a moderna sociedade europeia tanto se vangloria, os governos e instituições privadas fizeram esforços, perante a insuperável barreira com que a natureza contribuiu para separar aquele inóspito solo da cultura do resto do globo tornaram-se vãos todos os esforços de tantos corações generosos, e estéreis os seus maiores sacrifícios. A ideia de obrigar a natureza a revelar também naquelas imensas regiões os tesouros virgens das suas enormes produções em benefício da família humana incitou em diversas épocas a empreender expedições para alcançar esse almejado fim; mas os perigos de toda a ordem e as dificuldades insuperáveis em que tropeçaram os inúmeros esforços daqueles magníficos heróis minaram as suas forças e semearam entre eles o desânimo, fazendo-os abandonar a empresa.


[2742]
Porém, o católico, habituado a julgar as coisas com a luz que lhe vem do alto, olhou a África não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé; e descobriu lá uma infinidade de irmãos pertencentes à mesma família, que têm nos Céus um pai comum, ainda curvados sob o jugo de Satanás e à beira do mais horrendo precipício. Então, levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o seu coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus, sobre os quais pesa ainda o tremendo anátema de Cam.


[2743]
E formalmente um Papa – para não falar das diversas sociedades eclesiásticas e ordens religiosas que nos séculos passados, abençoadas pela palavra do Vigário de Cristo e acompanhadas das felicitações e preces de todos os bondosos, percorreram os caminhos do deserto e chegaram às abrasadas terras habitadas pelos negros, onde entraram para plantar entre aquelas gentes embrutecidas no mais nefando e lamentável feiticismo a bandeira da cruz –, Sua Santidade Gregório XVI, de veneranda memória, no final do seu pontificado fundava o vicariato apostólico da África Central, o mais vasto do mundo, que abrange uma superfície duas vezes maior que a da nossa culta Europa. O imortal Pio IX, gloriosamente reinante, não menos entusiasta das sublimes obras do apostolado, confirmando os decretos do seu predecessor, enviava para lá missionários, os quais, subindo o Nilo, penetravam em 1848 na nova missão confiada ao seu zelo e avançavam até 2.o grau de lat. norte.


[2744]
Neste extensíssimo campo aberto à caridade do Evangelho, afadigando-se no meio de enormes incómodos, além de três filhos de S. Inácio, muitos dignos sacerdotes da Alemanha austríaca e bávara e sobretudo do Tirol alemão, recrutados pelo excelso comité da Sociedade de Maria e pelo fervoroso esforço do benemérito professor Miterrutzner, conseguiam fundar ao longo das margens do caudaloso Nilo, que corre entre o Trópico do Câncer e o equador, quatro estações muito importantes, estabelecendo como centro de comunicação a capital do Sudão egípcio, cujas condições políticas e posição geográfica a destinavam a ser o último ponto de apoio dos europeus que iam para aquelas regiões. Também o instituto fundado em Verona por essa alma generosa cujo nome será sempre abençoado na Igreja de Cristo, P.e Nicolau Mazza, contribuiu para levar o óbolo da sua caridade àqueles desditosos irmãos nossos; e os nomes das vítimas, alunos desse Instituto, a quem a areia africana cobre, oblações pacíficas, consumadas no altar da sua caridade, serão sempre recordados com reconhecimento por aqueles que trilharem os mesmos caminhos. Finalmente, os franciscanos, família numerosa, talvez mais disposta do que outras, pelo espírito da sua vocação, a suportar as maiores provações, passaram a trabalhar nessa desolada vinha.


[2745]
Não obstante, é preciso confessar que, se por um lado todos os esforços e fadigas destes valorosos campeões de Jesus Cristo chegaram ao grau extremo dos mais fortes empreendimentos, os efeitos obtidos corresponderam numa proporção infinitesimal, que se reduz a nada. E talvez como as pegadas deixadas no pó à sua passagem, que se desfazem com o sopro do furacão do deserto, assim os poucos rebentos que ainda vingaram, regados pelo seu suor e sangue, secaram sob o ardor do mais abrasador fogo das paixões, mais feroz que o tórrido calor tropical que envolve a mísera Nigrícia.


[2746]
Nós que, tendo feito parte daquelas expedições apostólicas, somos, pela graça de Deus, dos poucos sobreviventes de entre cem que nos lançámos àquela árdua empresa, depois de estudarmos atentamente a natureza, os costumes e as condições sociais daquelas remotas tribos, vimos que a missão da África Central é para o zelo apostólico como uma bem defendida fortaleza que não se pode expugnar por assalto, mas requer ser tomada mediante um cerco. E, certamente, o mais poderoso assalto, várias vezes repetido por bem providas expedições católicas, terminou sempre apenas no sacrifício dos intrépidos assaltantes. É necessário, portanto, prepararmo-nos energicamente para a táctica de um assédio e procurando estabelecer posições bem sólidas que sirvam de fortins e de aproximações necessárias para o efeito.


[2747]
Para que a continuidade de qualquer missão possa ser garantida, é preciso ter um centro firme, donde dimane incessantemente o espírito de vitalidade, que se estenda vigoroso por todo o seu organismo, assegure a sua existência e ajude o seu ministério; um centro vital que forneça e possibilite permanentemente a recruta anual, com a qual se alimentem as fileiras dos missionários continuamente dizimadas pela inclemência climática, as fadigas e o martírio.


[2748]
Este centro de vitalidade parece oportuno, em geral, nos institutos e seminários da Europa, em benefício das missões da Ásia, América e Oceânia, uma vez que há entre a Europa e estas três partes do mundo certa homogeneidade de índole e costumes, ou ao menos, entre uma e as outras, um poder de comunicar e uma capacidade de receber de maneira permanente e estável as saudáveis impressões da vida que nos corpos da sociedade humana costuma infundir o espírito do Evangelho. Porém, um tal centro benéfico, donde brote esse espírito de vitalidade tão necessário para a conservação e a continuidade das missões estrangeiras, não pode mostrar-se aqui na Europa, por via directa e imediata, oportuno e eficaz para a conversão dos negros. Visto que a experiência demonstrou claramente que o missionário europeu não pode desenvolver o seu trabalho de redenção naquelas abrasadas regiões da África interior, funestas para a sua vida; que não pode suportar a dureza das fadigas, a multiplicidade dos incómodos e a inclemência do clima. E a experiência mostrou igualmente que o negro não pode receber na Europa um completo ensino católico, de modo que depois seja capaz, por uma boa disposição física e anímica contínua, de promover na sua terra natal a propagação da fé; porque, ou não pode viver na Europa, ou no seu regresso à África mostra-se inadequado para o apostolado, devido aos quase co-naturais costumes adquiridos no centro da civilização, que se tornam estranhos e nocivos nas condições da vida africana.


[2749]
Nós, que muitas vezes naquelas regiões deletérias fomos atacados e consumidos por inexoráveis enfermidades que nos levaram à beira do túmulo, somos testemunhas oculares dos tremendos estragos que fizeram nos mais robustos missionários as fadigas, as incomodidades e o fatal clima africano. De tal sorte que os que tinham sobrevivido à perigosa viagem do Nilo Branco, apenas ficavam idóneos para evangelizar os africanos com a aprendizagem da língua de uma tribo, onde se tinha estabelecido uma estação católica, sucumbiam amiúde a uma morte quase repentina, deixando sempre estéril o fruto da obra da conversão dos negros, os quais, pelas sempre contínuas e repetidas baixas dos missionários, gemem ainda sob o domínio do mais degradante feiticismo.


[2750]
Por outro lado, a Propaganda, que tem conhecimento de todas as instituições que empreenderam na Europa a educação de indivíduos de raça negra, pode confirmar a verdade da ineficácia e inoportunidade da criação de um clero indígena formado nas nossas terras e destinado a evangelizar o centro da África.


[2751]
Perante a história destes factos, evidenciados pela experiência, a S. C. da Propaganda Fide, profundamente impressionada, via-se, com pesar, na dura necessidade de abandonar a missão da África Central, se não se tornasse possível encontrar a maneira de lhe assegurar um melhor resultado na conversão dos negros.


[2752]
Porém, a desoladora ideia de ver suspensa, talvez por muitos séculos, a obra da Igreja em favor de tantos milhões de almas que gemem ainda nas trevas e na sombra da morte, deve ferir profundamente e magoar o coração de todo o devoto e fiel católico, inflamado do espírito da caridade de Jesus Cristo. Por isso, para seguir o impulso desta força sobre-humana e para afastar para sempre do filantropo católico a desoladora ideia de deixar envolvidas na infidelidade e na barbárie essas imensas e povoadas regiões, sem dúvida das mais necessitadas e abandonadas do mundo, é preciso abandonar o caminho seguido até agora, mudar o antigo sistema e criar um novo plano que leve eficazmente ao desejado fim.


[2753]
Sobre um assunto tão importante, dissemo-nos a nós mesmos: «E não se poderia assegurar melhor a conquista das tribos da infeliz Nigrícia, situando a nossa base de operações lá onde o africano vive e não muda e o europeu trabalha e não sucumbe? Não se poderia salvar a África com a África?» Sobre esta grande ideia se fixou o nosso pensamento e a regeneração da África com a África parece-nos ser o único programa que se deve seguir para realizar tão brilhante conquista. Por isso, em nossa pequenez, julgámos lícito sugerir humildemente um caminho que, ao segui-lo, permita alcançar com maior probabilidade a alta meta para a qual se orientam sempre todos os pensamentos da nossa vida e pela qual estaremos contentes de derramar o nosso sangue até à última gota.


[2754]
Nós atrevemo-nos apenas numa atitude reverente a levantar-nos desta nossa insignificância para discutirmos tão sublime e católico problema, que talvez tenha cansado a mente dos mais profundos pensadores. Mas perdoar-se-nos-á se o ímpeto do coração, onde manifestamos sentir forte o grito de angústia que a todos nós enviam aqueles infelizes filhos de Adão e irmãos nossos, tiver empurrado a mente para fora da linha da verdade e da certeza. O plano, que concebemos no momento de mais calorosos suspiros por aquelas desventuradas regiões, levado à sua realização prática, se não tem a vantagem de alcançar o objectivo com a rapidez com que noutras missões os operários apostólicos colhem os frutos do seu suor, certamente tem uma indefectível orientação para o mesmo; e, na sua plena realização, não pediria outra coisa senão encurtar os dias que Deus, sentado no trono da sua eternidade, enumerou para o alcançar.


[2755]
Não somente os negros da África interior mas também os da costa e de todas as outras partes da grande ilha, embora espalhados por milhares de tribos diferentes, estão marcados mais ou menos pela mesma índole, hábitos, tendências e costumes, bastante bem conhecidos pelos que há muito se ocupam do seu bem; portanto, parece-nos que a caridade do Evangelho pode fornecer-lhes remédios e ajudas comuns, que permitam comunicar eficazmente à grande família dos negros os preciosos benefícios da fé católica. Assim, nós consideramos oportuno e quase diríamos necessário que entre as múltiplas ideias que se poderiam levar à prática para a regeneração dos negros se escolha aquela que reunir em si uma absoluta unidade conceptual, a par de uma geral simplicidade de aplicação. E tal nos parecia precisamente o plano que nós idealizámos para a conversão dos negros; plano que, embora amplo na sua extensão, e árduo na sua realização completa, nos parecia contudo uno e simples na sua concepção e na sua aplicação.


[2756]
Este novo plano, por isso, não se limitaria somente aos antigos confins traçados para a missão da África Central, que vimos fracassar pelas razões referidas, mas abrangeria toda a raça dos negros; e por isso desdobraria e desenvolveria a sua actividade em quase todas as partes da África habitada pela raça negra.


[2757]
Ora, se bem que a S. Sé Apostólica não tenha nunca conseguido implantar estavelmente a fé nas mais vastas tribos da Nigrícia central, todavia irradiou a sua solicitude benéfica até às ilhas e costas que rodeiam a grande península africana, onde fundou doze vicariatos apostólicos, nove prefeituras apostólicas e dez dioceses, que florescem mais ou menos esplendidamente. Efectivamente, há:


[2758]
A setentrião: o vicariato apostólico do Egipto, confiado aos reverendos padres menores observantes, e o da Tunísia, confiado aos reverendos padres menores capuchinhos; as duas prefeituras apostólicas do Alto Egipto e de Trípoli, confiadas aos reverendos padres menores reformados, e a de Marrocos, confiada aos reverendos padres menores observantes da província de S. Diego, de Espanha.


[2759]
A poente: os três vicariatos apostólicos de Senegâmbia, da Serra Leoa, e das Guinés, confiados aos reverendos padres do Espírito Santo e do Sagdo. Coração de Maria, e o de Daomé, confiado ao Seminário das Missões Africanas, de Lião; as prefeituras apostólicas do Senegal e do Congo, confiadas aos reverendos padres do Espírito Santo e do Sagrado Coração de Maria, e a de Ano Bom, Corisco e Fernando Pó, confiada aos reverendos padres da Companhia de Jesus.


[2760]
A meio-dia: os dois vicariatos apostólicos dos distritos oriental e ocidental do cabo de Boa Esperança, confiados aos missionários do Reino Unido, e o de Natal, confiado à congregação dos Oblatos de Maria Santíssima Imaculada, de Marselha.


[2761]
A oriente: o vicariato apostólico de Madagáscar, confiado aos reverendos padres da Companhia de Jesus; a prefeitura apostólica de Zanguebar, confiada aos reverendos padres do Espírito Santo e do Sagrado Coração de Maria; a de Nossibé, St.a Maria e Mayotte, confiada aos reverendos padres da Companhia de Jesus e a das ilhas Seychelles, confiada aos reverendos padres capuchinhos da província de Saboia.


[2762]
A nordeste: o vicariato apostólico da Abissínia, confiado aos reverendos padres da Congregação da Missão, e o dos Gallas, confiado aos reverendos padres capuchinhos da província de França.


[2763]
Por outro lado, entre as dioceses florescem especialmente: a setentrião, a de Argel, e a oriente, a de Port Louis, na ilha Maurícia, e a de St. Denis, na ilha Reunião, no oceano Índico. É portanto natural que, para realizar o plano idealizado, se necessite recorrer à ajuda e cooperação destes vicariatos, prefeituras e dioceses já estabelecidos à volta de África; os quais, vendo mais de perto a lastimosa miséria e a extrema necessidade das imensas populações do interior, sobre as quais ainda não brilhou o luminosíssimo astro da fé, poderão concorrer validamente com a sua autoridade, o seu conselho e a suas obras, para auxiliar e facilitar a realização da grande empresa de regenerar as vastas e populosas tribos de toda a Nigrícia.


[2764]
O plano, portanto, que nós propomos é: a criação de outros tantos institutos de ambos os sexos, que deveriam rodear toda a África, criteriosamente situados em lugares oportunos, à menor distância possível das regiões interiores da Nigrícia, dentro de zonas seguras e algo civilizadas, nas quais pudesse viver e trabalhar tanto o europeu como o indígena africano.


[2765]
Estes institutos masculinos e femininos, cada um estabelecido e erigido segundo as normas das constituições canónicas, devem acolher rapazes e raparigas da raça negra, com o fim de os instruir na religião católica e na civilização cristã, para criar com eles outros tantos corpos de ambos os sexos, destinados, cada um por seu lado, a penetrar pouco a pouco e estender-se pelas regiões interiores da Nigrícia para aí implantar a fé e a civilização recebidas.


[2766]
Para dirigir estes institutos seriam chamadas ordens religiosas e as instituições católicas masculinas e femininas, aprovadas pela S. Congregação de Propaganda Fide, com o beneplácito desta e de mútuo acordo com os responsáveis e superiores gerais dessas ordens e instituições.


[2767]
Estes institutos seriam colocados sob a jurisdição dos vicariatos e prefeituras apostólicas já existentes na costa de África ou dos que a Sagrada Congregação da Propaganda Fide decidisse fundar, segundo os progressos do novo Plano.


[2768]
O pessoal da direcção destes institutos orientaria os respectivos corpos de alunos negros, atendo-se às regras e ao espírito da própria instituição, com adaptação à conveniência e às necessidades da África interior; e teria como objectivo específico obter a manutenção e o bom funcionamento dos institutos de negros e negras, mas sem deixar de promover e realizar todo o bem que puder aos países onde os institutos estão situados.


[2769]
A fim de formar corpos de missionários europeus para dirigirem, com base nas condições recém-mencionadas, os institutos africanos e também para assumir novas missões entre os povos negros, fundar-se-ão na Europa pequenos colégios para as missões africanas, com o intuito de abrir o caminho do apostolado de África a todos os eclesiásticos seculares das nações católicas que fossem chamados por Deus a tão sublime e importante missão.


[2770]
Respeitando plenamente a liberdade e o sistema de cada ordem ou congregação religiosa masculina e feminina de educar os indígenas segundo as ideias do próprio instituto e de formar segundo o seu talento religiosos e religiosas, nós atrevemo-nos a expor submissamente a nossa opinião de que a formação que em geral se deverá dar a todos os indivíduos de ambos os sexos pertencentes aos institutos que rodearem a África consistirá em infundir na sua alma e fazer que se arreiguem nela o espírito de Jesus Cristo, a integridade nos costumes, a firmeza na fé, as regras da moral cristã, o conhecimento do catecismo católico e os primeiros rudimentos do saber humano de primeira necessidade. Para além disso, os elementos masculinos serão instruídos na ciência prática da agricultura e numa ou mais artes de primeira necessidade; do mesmo modo, cada mulher será instruída nos trabalhos domésticos de primeira necessidade. E isto a fim de que os primeiros se convertam em homens honrados e virtuosos, úteis e activos e as segundas cheguem a ser, por seu lado, virtuosas e hábeis mães de família. Julgamos que esta activa aplicação ao trabalho, a que desejamos submeter todos os membros dos institutos africanos, pode redundar grandemente no bem moral e espiritual dos indivíduos de raça negra, muito inclinada à preguiça e à inacção.


[2771]
Quando os alunos de ambos os sexos tiverem completado a sua educação religiosa e civil, a direcção do respectivo instituto favorecerá o mais possível cada indivíduo que sair da sua jurisdição, prestando-lhe ajuda e conselho para que se encontre em condições de conservar os sãos princípios da religião e da moral que lhe foram inculcados com a formação recebida.


[2772]
Cada um desses institutos que rodearem a grande península africana dará origem ao respectivo corpo masculino e feminino, destinado a penetrar gradualmente nas regiões da Nigrícia central, a fim de iniciar e estabelecer nesses lugares a obra salvífica do Catolicismo e criar aí estações que difundam a luz da religião e a civilização.


[2773]
O corpo de jovens negros, formado por indivíduos considerados aptos para o grande fim, será formado:

1.o Por catequistas, aos quais se dará um conhecimento mais vasto das ciências sagradas.

2.o Por mestres, que se instruirão tanto quanto possível nas ciências de primeira necessidade adaptáveis às terras do interior.

3.o Por artesãos, a quem se ministrará o ensino prático das artes necessárias e mais úteis nas regiões centrais, para os formar como virtuosos e hábeis agricultores, médicos, sangradores, enfermeiros, farmacêuticos, carpinteiros, alfaiates, pedreiros, sapateiros, etc.


[2774]
O corpo de jovens negras, integrado igualmente pelas que se mostrarem mais aptas para o grande fim, será formado:

1.o Por instrutoras, que serão formadas o melhor possível na religião e na moral católicas, a fim de que difundam as suas regras e a sua prática na sociedade feminina africana, da qual, como entre nós, depende absolutamente a regeneração da grande família dos negros.

2.o De mestras e mães de família, as quais deverão promover a instrução feminina, quanto a ler, escrever, fazer contas, fiar, coser, tecer, cuidar dos doentes e exercer todos os trabalhos femininos mais úteis nos países da Nigrícia central.


[2775]
Entrando estes grupos, pouco a pouco, nos diversos pontos do interior, por meio de cada um dos diferentes institutos que rodearem a África, cada indivíduo, enquanto trabalhar em propagar a religião e a civilização, para o que foi instruído no instituto, e em promover a agricultura nas terras virgens, de livre ocupação, poderá abraçar o estado de vida para o qual se sentir mais inclinado.


[2776]
Da classe dos catequistas formada pelo grupo dos jovens negros criar-se-á uma secção com os indivíduos mais distintos pela sua piedade e saber, nos quais se descubra uma provável disposição para o estado eclesiástico; e esta será destinada ao exercício do ministério divino. Na preparação desta secção privilegiada, excluir-se-á a multiplicidade de matérias a que estão sujeitos os alunos dos seminários da Europa e limitar-se-á o ensino às disciplinas teológicas e científicas de primeira necessidade, suficientes para as necessidades e exigências daqueles países. E, tendo em conta o precoce desenvolvimento físico e intelectual do indígena africano, não quereríamos que este ensino durasse os doze e mais anos estabelecidos para a Europa, mas desejaríamos que ficasse limitado a uma duração de seis a oito anos, conforme se julgar oportuno. Contudo, a especial condição da inconstância e indolência que marcam a índole e o carácter da raça negra deverá impor a mais rigorosa cautela, ao determinar, para os aspirantes ao sacerdócio, a época da sua promoção às ordens sagradas. Nós estamos plenamente convencidos de que é absolutamente necessário estabelecer que não as recebam senão após bastantes anos de provada firmeza nos princípios aprendidos, e na circunstância de um severo e inatacável celibato, vivido nas estações já existentes no interior da Nigrícia. Julgamos necessária a mesma precaução para formar, de indígenas de ambos os sexos, religiosos de qualquer ordem.


[2777]
Do grupo das jovens negras, de entre as que não se sentirem inclinadas ao estado conjugal, criar-se-á, do mesmo modo, a secção das Virgens da Caridade, formada pelas que se distinguirem pela piedade e conhecimento prático do catecismo, das línguas e dos trabalhos femininos. Esta secção privilegiada constituirá a mais selecta falange da família feminina, destinada a dirigir as escolas de meninas, realizar as funções mais importantes da caridade cristã e exercer o ministério da mulher católica entre as tribos da Nigrícia.


[2778]
Deste modo, graças ao importantíssimo ministério do clero indígena e das Virgens da Caridade, secundado pela acção benéfica dos catequistas, mestres, artesãos, e das instrutoras, mestras, e mães de família, formar-se-ão pouco a pouco numerosas famílias católicas e surgirão florescentes sociedades cristãs; e a nossa santa religião, estendendo o seu saudável influxo sobre a família africana, alargará, pouco a pouco, o seu benéfico império na vasta extensão das inexploradas regiões da Nigrícia inteira.


[2779]
Tendo a experiência demonstrado que só a continuada permanência nas terras do interior – e não uma estada temporária – é perigosa e até fatal para o europeu, as fundações de missões e de cristandades que, com o andar do tempo, se virão a estabelecer nos países da África interior, com prévia autorização dos respectivos vigários ou prefeitos apostólicos, serão iniciadas e postas em andamento pessoalmente por missionários europeus. Estes, anualmente, ou, quando muito, dentro do prazo de dois anos, deverão revezar-se em turnos no governo imediato das diversas missões do centro da África, até que a experiência tenha demonstrado que se podem confiar com segurança a sacerdotes e catequistas indígenas de provada idoneidade a direcção permanente das estações e cristandades já iniciadas e postas em andamento pelos missionários europeus.


[2780]
Por outro lado, as estatísticas das missões africanas vieram a evidenciar que a mulher europeia, dada a vantajosa capacidade de adaptação do seu físico, da índole da sua moral e dos hábitos da vida doméstica e social, resiste bastante mais que o missionário europeu à inclemência do clima africano. Por isso, em conformidade com o critério dos respectivos vigários ou prefeitos apostólicos, poderão estabelecer-se institutos religiosos femininos da Europa nos países do interior da África menos letais para o europeu, a fim de prestar com eficácia os maravilhosos e importantes serviços da mulher católica em favor da regeneração da grande família dos negros.


[2781]
Como a índole e o carácter dessa raça é muito variável e inconstante, consideramos oportuno e necessário que a S. Congregação da Propaganda Fide autorize os vigários e prefeitos apostólicos de legítima jurisdição a decretar frequentes visitas apostólicas às missões e cristandades estabelecidas no interior, com vistas a corrigir, fortalecer e melhorar as condições do Catolicismo naquelas perigosas terras, onde amiúde um egoísmo e fanático furor do Islamismo corrompem e desfazem a obra do sacerdócio cristão; e onde o teor de vida, o clima e outras especiais circunstâncias contribuem para enfraquecer, a par do corpo, o espírito, e a afrouxar a disciplina eclesiástica, com grave perigo da fé. Com essa finalidade enviariam missionários europeus idóneos, que sem risco absoluto da vida, pela razão antes exposta, poderiam levar a cabo com grande proveito a sua importante missão.


[2782]
A fim de cultivar as inteligências que se poderiam revelar mais destacadas na secção dos missionários indígenas, para os formar como hábeis e iluminados responsáveis das missões e das cristandades do interior da Nigrícia, a sociedade destinada a realizar e dirigir o novo plano, vistos os progressos da grande obra, poderá fundar pequenas universidades teológicas e científicas nos pontos mais importantes da periferia da grande ilha africana, que seriam, a nosso juízo: Argel, o Grande Cairo, St. Denis, na ilha Reunião, no oceano Índico; e uma das cidades mais importantes das costas ocidentais da África, no oceano Atlântico.


[2783]
Nestes quatro centros universitários, como também noutros pontos de grande importância das ilhas e costas que circundam a África, poder-se-iam fundar com o passar do tempo pequenas oficinas de aperfeiçoamento para os jovens negros da classe dos artesãos considerados mais aptos para receber uma mais elevada instrução, a fim de que, com a introdução de artes que melhorassem as condições materiais das vastas tribos da Nigrícia, os missionários encontrassem facilitada a sua tarefa para implantar lá mais arreigada e estavelmente a fé.


[2784]
Para pôr em prática e dirigir o novo plano, constituir-se-á uma sociedade formada de pessoas inteligentes, magnânimas e muito activas, a qual tomará o nome de SOCIEDADE DOS SAGRADOS CORAÇÕES DE JESUS E DE MARIA PARA A REGENERAÇÃO DA NIGRÍCIA, sob o patrocínio da VIRGEM IMACULADA, DE SÃO JOSÉ ESPOSO DE MARIA E DOS PRÍNCIPES DOS APÓSTOLOS.


[2785]
A missão específica desta sociedade será desdobrar e pôr em funcionamento todas as forças do Catolicismo em benefício da África. Pelo que à sociedade competiria:

1. Pôr-se em comunicação com a S. Congregação da Propaganda Fide, para tratar sobre cada uma das empresas mais importantes da nova sociedade.

2. Entrar em contacto com os centros gerais das ordens e congregações masculinas e femininas, a fim de combinar com elas sobre o pessoal necessário para a fundação dos institutos africanos ou para a erecção de novos vicariatos ou prefeituras apostólicas nas regiões da África.

3. Tratar com a pia obra da Propagação da Fé e com as associações que têm a mesma finalidade, a fim de assegurar os meios pecuniários e materiais às missões e institutos que se fundarem em terras africanas, com a prévia autorização da S. C. da Propaganda Fide.

4. Procurar os meios pecuniários e materiais para a criação e manutenção das obras preparatórias da Europa, destinadas a formar pessoal para as missões da África.


[2786]
5. Fundar, pouco a pouco, pequenos colégios para as missões africanas nos lugares mais convenientes das diversas nações católicas, com o objectivo de abrir o caminho do apostolado da África a todos os membros do clero secular, chamados por Deus a tão elevado ministério; e estabelecer, pouco a pouco, centros de artes práticas para instruir gente idónea para introduzir nos institutos africanos o ensino de todos os ofícios necessários de utilidade pública.


[2787]
6. Quando a sociedade puder dispor do pessoal necessário para a fundação de um instituto em África, e se tiver assegurado que as pias sociedades concederão a assistência específica para o mesmo, com prévio acordo com o em.o card.-prefeito geral da S. Congregação da Propaganda Fide, dirigir-se-á ao vigário ou prefeito apostólico da missão em cujo território e sob cuja jurisdição pretende estabelecer o dito instituto, com o fim de obter a necessária autorização.

7. A sociedade pôr-se-á em comunicação directa com os vigários ou prefeitos apostólicos de todas as missões africanas, para se informar quanto possível, sobre as mesmas quanto à sua geografia, aos seus costumes e história dos povos que as habitam e sobre o trabalho apostólico nelas realizado, a fim de estar em condições de preparar o pessoal mais adequado para promover com a maior eficácia e na máxima extensão o desenvolvimento e a acção do catolicismo nas tribos da África Central.


[2788]
8. Finalmente, estudando e empregando os meios mais eficazes para a realização do novo plano, a sociedade suscitará e porá em funcionamento todos os elementos do Catolicismo que actualmente faltam para a regeneração dos negros e infundirá maior vida e vigor nos que já existem. E desdobrando de tal modo todas as forças do catolicismo em favor da África, a sua acção será fecunda em novas ideias, novas luzes, novas instituições, novos planos capazes de desenvolver mais ampla e eficazmente o ministério evangélico nas vastas e inexploradas regiões de toda a Nigrícia.


[2789]
Tal é o nosso plano que, como assinalámos, parece mais um plano de operações para o assédio da fortaleza até agora inexpugnável da Nigrícia. Tendo sido até agora impossível entrar lá por assalto em repetidas expedições apostólicas empreendidas, as quais terminaram sempre só com o sacrifício dos intrépidos assaltantes, adoptámos a táctica do assédio; e os nossos institutos, criados nos confins da grande península africana, vêm a ser como os fortins e aproximações necessários para tal fim.


[2790]
Sorri-nos na alma a mais doce esperança de que o novo Plano para a Regeneração da Nigrícia, que foi tão agradável ao coração do nosso Santíssimo Padre, o imortal Pontífice Pio IX, e que foi acolhido muito favoravelmente e com entusiasmo por muitos insignes prelados e bispos da Igreja Católica e pelas mais destacadas e sublimes inteligências do âmbito eclesiástico e civil, obterá a cooperação de todas as santas instituições que até agora se ocuparam ou trataram de promover o bem espiritual da raça negra. Temos a esperança de que receba a protecção e a ajuda dessas pias sociedades que fornecem os meios económicos e materiais às obras instituídas para a propagação da fé, e de que encontre um eco de aprovação e um impulso favorável e de ajuda no coração dos católicos de todo o mundo, identificados e fundidos com a sobre-humana caridade que abrange a totalidade do universo e que o divino Salvador veio trazer à Terra.


[2791]
Esperamos, sim, esperamos que a Santa Igreja, o eco da eterna Palavra do Filho de Deus através dos séculos, destinada a reinar sobre todas as nações do mundo, estenda o seu manto glorioso sobre tão considerável parte da sua herdade e que os seus generosos filhos acorram solícitos de todos os cantos da Terra a prestar a sua ajuda para cristianizar e civilizar as errantes tribos africanas, abrasadas pelos raios do Sol ardente, porém, ainda não iluminadas, em quarenta séculos, nem sequer por um raio da verdadeira luz. Os apóstolos que partirem para essa grande conquista não trarão para a Europa os despojos dos vencidos, mas levarão a estes o tesouro da fé católica e da civilização europeia; não subjugarão aqueles povos a modo de bélicos conquistadores, mas, à imitação do Divino Pastor, tomarão, dos espinhos em que se encontravam e da opressão em que jaziam, aquelas míseras ovelhas sobre os seus ombros para as levar em triunfo às livres e férteis pastagens da Igreja. E assim os conquistados, não vencidos pela força, mas vencedores de si mesmos e da sua natureza, serão conquistadores, mediante o baptismo, da verdadeira religião e do grande benefício da vida civilizada.



P.e Daniel Comboni m. a.



[Reproduzimos do PLANO o primeiro manuscrito de 1864 e esta última edição como documentação das mudanças verificadas até esta última.]






423
Propagação da Fé, Lião
1
1871
N.o 423 (396) - À PROPAGAÇÃO DA FÉ DE LIÃO

«Annales de la Propagation de la Foi»

v. XLIV (1872), pp. 21-25, Lione



1871





424
Extracto (original espanhol)
1
1871
N.o 424 (397) - EXTRACTO

DE UMA MEMÓRIA DE D. COMBONI

«Mensageiro do Sagrado Coração» 1871, v. II, pp. 33-39



1871





425
Mons. Luis de Canossa
0
Inizio 1872

N.o 425 (398) - A MONS. LUÍS DE CANOSSA

ACR, A, c. 14/91

Início de 1872

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

[falta desde o começo até:]


 

[2792]
His positis, eu seria de opinião que V. E. desenvolvesse as seguintes ideias em resposta ao P.e Calisto, remetendo-o para a Propaganda no caso de querer realizar imediatamente os seus projectos africanos.


[2793]
«É-me muito grato ver que o senhor se mantém firme na ideia de pressionar os trinitários franceses a que se dediquem ao apostolado dos pobres negros; eu desejaria poder apoiá-lo validamente com todas as minhas forças em tão santos propósitos. Agora, porém, é-me impossível fazê-lo pelos seguintes motivos:

1.o Dadas as consequências da guerra, nem a Propaganda de Lião e de Paris, nem a pequena Sociedade de Colónia dão já aos meus institutos do Cairo as ajudas de antes; por isso, tive que enviar P.e Comboni a diversas cidades à procura de esmolas para ir suprindo e só no meio de duras penas os institutos seguem em frente.

2.o Depois da experiência feita com os camilianos, que estavam munidos de breve pontifício, já não estou na disposição de aceitar regulares no meu instituto do Egipto sem o pleno acordo dos respectivos gerais, porque isso poderia acarretar-me sérios dissabores com os mesmos e até com a Propaganda que quer tudo conforme as regras.

3.o Por outro lado, se os meus institutos do Egipto puderam fundar-se, foi devido à especial autorização do delegado apostólico do Egipto; e agora não seria oportuno pedir-lhe autorização para aceitar os trinitários entre os meus, sem primeiro ter consolidado bem os meus institutos, para o que é necessário que cesse a tempestade de tantos transtornos, se faça calma e se normalizem os piedosos donativos das sociedades benfeitoras.


[2794]
Entenda-se que isto é por agora. Depois, quando estivermos um pouco calmos e tivermos obtido da Santa Sé uma vasta missão para os meus Institutos com jurisdição própria e imediata, o que não tardará muito a suceder, então veremos como pôr-nos de acordo sobre o modo mais legal e oportuno de satisfazer os seus santos desejos. Entretanto, o senhor terá tempo para arranjar bons religiosos na França, tão fecunda em vocações para as obras do Céu; e tendo sucesso em tão importante assunto, já verá como os seus superiores de Roma se resolvem a favorecer os seus magnânimos projectos.


[2795]
Junto-lhe uma cópia da resposta às suas cinco perguntas, a qual me foi enviada por P.e Comboni, que lhe envia as suas mais cordiais saudações».

1.o Se é do agrado de mons. o bispo de Verona, responsável da obra, receber os trinitários entre os nossos no Egipto, também o será do meu; se tal não agradar a S. E. rev.ma, nec mihi hoc placebit.

2.o Opino que é melhor que os trinitários vistam no Egipto como nós: o hábito dessa obra dedicada à redenção dos cativos é demasiado conhecido e poderia ferir a susceptibilidade dos nossos inimigos, produzindo com isso funestas consequências à nossa obra.

3.o Aos franceses convém-lhes sair de Marselha. Quem não tem o aval da Propaganda e da embaixada austríaca, em Trieste recebe apenas um mesquinho desconto, que não compensa os gastos realizados na viagem desde a França até Trieste ou Bríndisi.

4.o O concílio não fez nada pela África, porque foi suspenso ante tempus; porém, o Papa aceitou o Postulatum pro Nigris Africae Centralis, permitindo que se tratasse sobre ele na secção de Missionibus Apostolicis.

5.o É preciso que os trinitários estejam munidos dos papéis expedidos pelos seus superiores de Roma, tendo-se estes posto previamente de acordo com a Propaganda. Pedindo-lhe a bênção e beijando-lhe o sagrado anel, declaro-me nos Sagdos. Corações de J. e de M.



Seu hum. e indig.mo filho

P.e Daniel Comboni m. a.






426
Irmãs Girelli
0
Verona
1.1872

N.o 426 (399) - ÀS IRMÃS GIRELLI

AAB

V. J. M. J.

Seminário de Verona, Janeiro de 1872

Gentilíssimas senhoras,


 

[2796]
O ecónomo, na sua bondade e sabedoria (tendo bom coração e cabeça erguida), inspirou essa excelente religiosa de Pádua de que lhes falava a consagrar-se à obra da Nigrícia; pelo que fui buscá-la e instalei-a, junto com outra postulante, na casa de Montório Veronese, perto de Verona. Por isso, seria conveniente que viesse imediatamente a boa postulante que vi em Bréscia.


[2797]
Dentro de pouco irei a Bréscia e falaremos longamente das nossas coisas; entretanto, recordem-se do que lhes disse de viva voz. Numa palavra, neste caso é bem que ambas, levantados os olhos ao Céu num ímpeto daquele ardor que impele à acção no qual a alma se exalta e, ao mesmo tempo, se humilha, repartam entre si a Europa e a África como um campo, ficando uma com a Obra de St.a Ângela Merici, a outra com a infeliz Nigrícia.

Ocupadíssimo como estou, desejo que este ano lhes seja felicíssimo e me mandem imediatamente a boa postulante que vi em vossa casa. O Senhor cumule de bênçãos os vossos corações. Tais são os votos do



Vosso devot.mo e af.mo

P.e Daniel Comboni






427
P.e Lorenzo Negroni
1
Verona
13. 1.1872
N.o 427 (N. 1205) - A PADRE LOURENÇO NEGRONI

ACR



Verona, 13 de Janeiro de 1872



Dedica-lhe o seu Antiphonarium Romanum.





428
Regras e Organização
0
Verona
2.1872

N.o 428 (400) - REGRAS E ORGANIZAÇÃO

DO INSTITUTO PARA AS MISSÕES DA NIGRÍCIA

AP SOCG, v.999, ff. 513-521

Princípio de Fevereiro de 1872

REGRAS E ORGANIZAÇÕES

DO INSTITUTO PARA AS MISSÕES DA NIGRÍCIA DE VERONA

CONSELHO CENTRAL DA OBRA

PARA A REGENERAÇÃO DA NIGRÍCIA


 

[2798]
1.o Presidente geral: S. E. rev.ma mons. Luís Marquês de Canossa, bispo de Verona.

2.o Vice-presidente: Il.mo e rev.mo mons. Luís Perbellini, cónego arcipreste da catedral de Verona.

3.o Director-geral: P.e Daniel Comboni, superior dos institutos de negros do Egipto.

4.o Vice-director-geral: P.e António Squaranti, reitor do Instituto das Missões para a Nigrícia de Verona.

5.o Secretário-geral: P.e Tomás Toffaloni, director da Propagação da Fé em Verona.

CONSELHEIROS



6.o O ilustríssimo e rev.mo mons. Estêvão Crossatti, camareiro-secretário de Sua Santidade e vigário-geral de Verona.

7.o O ilustríssimo e rev.mo mons. dr. José Codognola, cónego penitenciário da catedral.

8.o Rev.mo P.e Pedro Dorigotti, reitor do Seminário Episcopal de Verona.

9.o S. E. ilma. o marquês Octávio de Canossa.

10.o S. E. ilma. o marquês Francisco Fumanelli.

11.o O marquês José Fumanelli

12.o O m. rev.do P.e Agostinho Mosconi, director da Igreja de Santa Clara, de Verona.



_______________



O INSTITUTO DAS MISSÕES PARA A NIGRÍCIA

DE VERONA



CAPÍTULO I

Objectivos e natureza do instituto




[2799]
O objectivo último do Instituto das Missões para a Nigrícia é especialmente a conversão à fé católica dos pobres negros da África Central, as gentes mais infelizes e abandonadas do universo, que gemem nas trevas mais profundas do paganismo.


[2800]
O objectivo imediato é, por outro lado, preparar e enviar àquelas regiões homens apostólicos que, com a caridade, o ensino e os outros meios do ministério apostólico, se consagrem à regeneração dos negros da África Central, sem excluir nenhuma outra pessoa que porventura lhes aparecesse naquelas terras.


[2801]
Este Instituto, que se declara no dever de estar sempre sujeito e submetido em primeiro lugar ao Vigário de J. C., o Romano Pontífice, e à S. C. da Propaganda Fide, é um seminário dedicado a acolher, educar e aperfeiçoar no ministério apostólico os homens chamados por Deus a esta árdua missão. É presidido e governado pelo il.mo e rev.mo bispo de Verona, com o título de presidente geral e por um conselho composto por alguns eclesiásticos e leigos escolhidos por ele entre os mais distintos da sua diocese (denominado Conselho Central da Obra para a Regeneração da Nigrícia), os quais se reúnem sob a sua presidência para tratar dos interesses espirituais do Instituto.


[2802]
A direcção interna do instituto está a cargo das seguintes pessoas, nomeadas pelo bispo: um superior com o título de reitor, escolhido habitualmente entre os missionários veteranos, um mestre de noviços e director espiritual; um ecónomo para a administração dos bens temporais e um professor de línguas estrangeiras. Estas três últimas pessoas formam o conselho do reitor, o qual é obrigado a consultá-los nos assuntos mais relevantes.

Uma vez que o Instituto fica contíguo ao Seminário Episcopal, utiliza os serviços dos professores do mesmo para o ensino teológico e científico.



CAPÍTULO II

Meios para alcançar os fins do instituto




[2803]
Os meios para alcançar os fins do insto. são de duas espécies: formais e materiais. Primeiro falaremos dos meios formais, que são o pessoal a enviar para a missão.

Os aspirantes a membros do instituto podem ser eclesiásticos, isto é, clérigos e sacerdotes, ou somente leigos; mas tanto uns como os outros provenientes do estado secular.



Artigo primeiro



Qualidades dos aspirantes ao ingresso no instituto




[2804]
As qualidades que se exigem aos aspirantes ao ingresso no Insto. das Missões para a Nigrícia são as seguintes:

1.o Todo o aspirante deve ser dotado de saudável constituição física, de critério correcto e ao menos de capacidade intelectual normal.

2.o Deve ter cumprido os dezasseis anos e não ter ultrapassado os trinta e cinco.

3.o Se é clérigo ou sacerdote, não pode ser admitido sem consentimento do seu ordinário e, se é menor de idade, sem a autorização do seu pai ou de quem faz as suas vezes.

4.o Deve gozar de excelente fama, tanto pela piedade e integridade de costumes como compostura de carácter e contenção no seu agir.

5.º Deve ter uma firme vontade de se consagrar a Deus para a regeneração da Nigrícia nos ministérios que por obediência lhe atribuir e isso até à morte.


[2805]
O reitor do instituto é obrigado a informar-se escrupulosamente sobre as qualidades do aspirante e, quando estas existirem, deve propor a aceitação ao il.mo e rev.mo mons. o bispo, de quem depende unicamente a admissão.



N. B. Quanto à idade e à possibilidade de o aspirante provir também de um estado regular (desvinculado devidamente da sua ordem ou congregação), no caso de concorrerem qualidades e circunstâncias extraordinárias, o bispo, como presidente geral, poderá conceder à oportuna dispensa.



Artigo segundo



Normas que o reitor seguirá na admissão dos aspirantes




[2806]
Quando se trata de admitir no instituto um aspirante, o reitor terá sempre presente a glória de Deus e o bem das almas, sem atender nem a recomendações, nem a considerações de posição, nem a relações do aspirante. E como a prosperidade da missão depende da boa escolha dos operários apostólicos, utilizará a máxima diligência ao examinar cada aspirante e ao ver se possui as qualidades referidas no artigo anterior.


[2807]
Em seguida, após ter-se encomendado fervorosamente a Deus e de o ter feito rezar para ter também a necessária clarividência na escolha, explicará ao aspirante a árdua e sublime empresa a que pretende unir-se, as fadigas e incómodos a que se deverá submeter, o risco a que estará frequentemente exposto de perder a vida, o total isolamento em que não raramente se encontrará, e igualmente os perigos a que, sem uma corajosa virtude e constante e irrepreensível hábito de castidade, estaria exposta a sua alma devido aos costumes daqueles povos.


[2808]
Deve, além disso, advertir o aspirante que cuide bem de se deixar guiar na sua pretensão por algum fim secundário, como a glória mundana, a curiosidade de conhecer novas terras, etc., fazendo-lhe saber que nada levará a cabo na sua missão, se não estiver disposto a ocupar o último lugar; que muitas vezes lhe caberá trabalhar, afadigar-se e suar, sem ninguém, a não ser Deus, saber o que ele faz e sem que disso fique lembrança alguma; e que, além disso, em certas alturas, por causa do terreno ingrato em que trabalha, não encontrará nos negros, sempre receosos e justamente desconfiados dos estrangeiros, a mínima correspondência, pelo que ficará tão abatido e num tal isolamento, que é tentado a abandonar a empresa. Em contrapartida, se se consagrar à missão unicamente por Deus, Ele confortá-lo-á intimamente, tornando-lhe ligeira toda a fadiga, doce toda a pena, enfrentando facilmente todo o perigo.


[2809]
Em seguida, o reitor deverá informar-se com o maior cuidado sobre o aspirante e assegurar-se de que está munido de todas as qualidades requeridas pelo Instituto.

Deverá também consultar sobre o assunto os membros do seu conselho e outros companheiros inteligentes e perguntar-lhes se, tudo ponderado, julgam em consciência que o postulante deve ser admitido.

Se este fosse um jovem com boa parte dos estudos ainda por fazer, dever-se-á adverti-lo de que não tente ingressar no Instituto com o fim de ter meios de prosseguir os estudos de uma carreira, quer esta seja secular, regular ou simplesmente eclesiástica, sem querer depois consagrar-se à missão, porque em tal caso estaria obrigado a reembolsar o Instituto do gasto suportado contra a sua finalidade.

No caso de tudo estar em ordem, será dever do reitor informar de tudo o presidente geral, para que, se lhe agradar, dê a autorização de admissão.



Artigo terceiro



Educação dos candidatos do instituto




[2810]
Os alunos do Insto. no primeiro mês do seu ingresso fazem dez dias de exercícios espirituais e uma confissão geral com o confessor que o superior designar. Depois disto, entram no noviciado, que dura dois anos, os quais serão dedicados a formar o espírito dos candidatos, habituando-os à oração, à mortificação, ao recolhimento e àquele espírito de renúncia à própria vontade que os dispõe a realizar qualquer sacrifício, o que é essencialíssimo ao missionário da Nigrícia.


[2811]
Quanto ao método de educar e aperfeiçoar os noviços, especialmente no espírito, o mestre ater-se-á em geral às regras observadas no noviciado da Companhia de Jesus.

Terminado satisfatoriamente o noviciado e perseverando na vocação, cada um dos candidatos faz perante o bispo a profissão de fé e pronuncia o voto de obediência a ele e aos seus sucessores e representantes, tanto em Verona como na África. Este voto deve renovar-se bienalmente na casa onde se encontrarem.


[2812]
Feito o voto de obediência, os clérigos continuam os seus estudos, assistindo às aulas no Seminário Episcopal e os sacerdotes, quando não necessitarem de estudos ulteriores, serão enviados à casa filial do Egipto, para onde irão igualmente os clérigos, uma vez terminados os estudos teológicos.

N. B. No caso de vocação de um aspirante que apresente características fora do comum, quer seja pela provada virtude quer pelo exercício do ministério sacerdotal, em tais casos extraordinários o bispo, ouvido o parecer do Conselho Geral da Obra para a Regeneração da Nigrícia, poderá dispensar de um tempo considerável de Noviciado; de modo que, ao fim de alguns meses de prova, o indivíduo em questão poderá ser enviado para a casa filial do Egipto.




[2813]
Artigo quarto



Horário quotidiano dos clérigos e alunos

que terminaram o noviciado



Manhã

5.00: Elevação da mente a Deus, sinal da cruz e levantar. Depois, faz-se a cama e faz-se a limpeza do quarto e a higiene pessoal, sempre em silêncio.

5.30: Na capela, breves orações matutinas, o Angelus Domini, o salmo Laudate Deum omnes gentes. Depois disso, no próprio quarto, meditação sobre o tema proposto na noite anterior. Depois, reflexão sobre a meditação.

6.45: Missa. Em seguida, retiro no quarto até ao pequeno-almoço. Quem comungar deve ficar um quarto de hora na capela, após a missa. Os sacerdotes, terminada a reflexão sobre a meditação, celebrarão pela ordem, no lugar e no tempo que o reitor estabelecer, procurando cumprir este dever com o máximo recolhimento e devoção, para o que terão um quarto de hora de preparação antes da missa e um quarto de hora de acção de graças depois dela. Depois disso irão tomar o pequeno-almoço.

7.30: Pequeno-almoço para os estudantes, os leigos e os noviços. Depois, recreio e tempo livre.

8.00: Os estudantes aplicam-se ao estudo para depois, às nove, passar às respectivas aulas no Seminário Episcopal até às onze e meia. Os noviços, por seu lado, dedicar-se-ão às tarefas que, segundo as respectivas condições, lhes forem atribuídas pelo reitor ou pelo mestre de noviços, o qual, ao mantê-los ocupados todo o dia, seguirá o método da Companhia de Jesus.

Os sacerdotes, durante todo este tempo, até às onze e meia, dedicam-se ao estudo, especialmente de línguas, após terem celebrado a S. Missa, tomado o pequeno almoço, tido um pouco de recreio e rezado as horas canónicas.

11.30: Estudantes, noviços e sacerdotes têm um quarto de hora de recreio.

11.45: Exame de consciência geral e particular no próprio quarto.

12.00: Na capela, o Angelus. Depois, almoço, com leitura de uma passagem do Novo Testamento, de vidas de mártires e santos e dos mais famosos missionários, dos Anais da Propagação da Fé e similares, conforme a escolha do reitor. Posteriormente, visita ao Ss.mo Sacramento e recreio.



Tarde

13.45: No Inverno, estudo (no Verão, uma hora de sesta ou descanso) até ao momento das aulas para os estudantes. Logo após as aulas, passeio. Em seguida, visita ao Ss.mo Sacramento na capela, leitura espiritual e terço. Após isso, estudo até ao jantar.

No Verão, a visita e a leitura espiritual fazem-se na capela após a sesta ou descanso a seguir ao almoço e, depois, há estudo até à hora de aulas.

Os sacerdotes, por seu lado, utilizam do seguinte modo o tempo de aulas: uma hora de estudo, a que se segue outra de conferência, na qual dão conta ao reitor das coisas estudadas.

20.00: Jantar, visita ao Ss.mo Sacramento na capela, e depois recreio até às vinte e uma.

21.00: Na capela, exame geral e particular e proposta dos pontos de meditação para o dia seguinte. Depois, ida para o quarto.

21.45: Hora de dormir.




[2814]
Quanto ao horário dos domingos, festas e férias, o reitor, de acordo com o espírito e esquema precedente e seguindo o critério do bispo, fará as modificações que forem adequadas às circunstâncias.

Além de dedicar a máxima vigilância para que todos pratiquem pontualmente e com verdadeiro espírito as actividades prescritas, o reitor procurará que todos os domingos o mestre de noviços faça um sermão a estes e aos membros do Instituto, no qual os instrua sobre os deveres do novo estado por eles escolhido e sobre a perfeição a que devem tender com todo o esforço.

Deve animá-los especialmente a morrer totalmente para si mesmos e a adquirir uma profunda humildade, fundamento de todas as virtudes; uma ardente caridade disposta a qualquer sacrifício pela salvação das almas e uma obediência pronta e cega, aceitando ser governados pelo toque da campainha e pelas indicações de qualquer superior como se fossem a voz de Deus, pelo que farão com alegria tudo o lhes for mandado e estarão sempre contentes até no último lugar, na certeza de fazer sempre a vontade de Deus. Exporá, além disso, de vez em quando, a natureza especial e a condição das árduas missões da Nigrícia e a necessidade de que eles estejam dispostos a viver e a morrer sem ver os frutos das suas fadigas apostólicas, contentes de trabalhar nos alicerces de um edifício que só os vindouros verão erguer-se do solo. Procurará sobretudo habituá-los a morrer para si mesmos e a não trabalhar a não ser para Deus e a obter satisfação apenas d’Ele.


[2815]
Para além das mencionadas ocupações, os alunos terão cada ano dez dias de exercícios espirituais, segundo o método de S. Inácio e um dia de retiro cada mês; e frequentarão, ao menos uma vez por semana, o sacramento da Penitência com o confessor ordinário do Insto., excepto no tempo dos santos exercícios e no tríduo de renovação do voto de obediência, altura em que se designará um confessor extraordinário. Os alunos fazem também as novenas do Natal, da Epifania, do Sagdo. Coração de Jesus, do Sagdo. Coração de Maria, da Imaculada Conceição, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e de S. Francisco Xavier, bem como os tríduos dos santos protectores e, enfim, os meses de Maio dedicado à Virgem Maria e de Março a S. José, a via crucis todas as sextas-feiras e outras devoções segundo o parecer do reitor.


[2816]
Quanto à educação dos irmãos leigos, destinados a serem catequistas e mestres de artes e ofícios e a ajudar os missionários em tudo o que for preciso, segue-se em tudo as normas prescritas para a educação dos irmãos leigos da Companhia de Jesus.



Artigo quinto



Casa filial do Egipto

(veja-se a informação de 15 de Abril de 1870 à S. C.)




[2817]
O objectivo do insto. do Cairo é o seguinte:

1.o Os missionários provenientes do insto. de Verona exercem os primeiros ministérios do apostolado especialmente em prol dos negros residentes no Egipto e, com a ajuda de Deus, aprendem também a ser na prática verdadeiros missionários.

2.o No instituto forma-se um clero indígena, bem como catequistas e mestres de artes e ofícios destinados a converter-se depois em apóstolos da fé e da civilização para a gente da sua terra.

3.o Os missionários e irmãos coadjutores provenientes de Verona aclimatam-se no instituto, onde aprendem as línguas das tribos do interior, bem como os costumes orientais, etc.

4.o No insto., os missionários preparam-se para os ministérios e serviços de caridade necessários para aquela missão que a S. C. de Propaganda atribuir no interior ao Instituto de Verona.

5.o A casa serve, além disso, para nela se estabelecerem os missionários alquebrados pelas fadigas do centro da África.


[2818]
No instituto, os missionários provenientes de Verona são submetidos a uma segunda prova ou noviciado, para verificarem a sua vocação para as missões do interior e de amadurecerem melhor as virtudes apostólicas, que são necessárias em grau elevado para essa difícil e laboriosa empresa.


[2819]
Esta casa é governada por um superior, do qual dependem de forma imediata todos os missionários e as casas femininas que colaboram na missão. Além disso, é presidida por um reitor, que substitui o superior na sua ausência, tem a administração da casa e das esmolas mandadas para a ajuda da missão, sempre sob a dependência do superior.


[2820]
Quando a S. C. da Propaganda tiver atribuído ao nosso instituto uma missão específica na África Central, o superior da casa do Egipto será proposto por mons. o bispo de Verona à S. C. como chefe de toda a missão. Uma vez eleito para esse cargo, ele tem a direcção de toda a obra e dele depende a escolha das pessoas que há que mandar para um lugar ou para outro e determinar o campo e o modo de actuação, e tudo o demais.


[2821]
É obrigação sua estar em contínua relação com o Insto. de Verona, mantê-lo informado do funcionamento de toda a missão e, de maneira reservada, informar o bispo presidente do comportamento de cada um dos missionários, quer se trate dos residentes no Cairo ou dos dispersos no interior da África, dando de todos as mais exactas referências. E isto também para que mons. o bispo possa dar conta cada quinquénio à S. C. da Propaganda do estado da missão e assim completar a informação quinquenal que deve oferecer à S. C. do andamento do Instituto e de toda a obra.


[2822]
O chefe da missão, com os relatórios que deverá apresentar ao bispo de Verona sobre os indivíduos a seu cargo, deverá propor um ou dois deles, os que ele, em consciência, julgar mais aptos e dignos, para lhe sucederem em caso de morte.



Artigo sexto



De como os alunos se tornam membros efectivos do instituto

e de como deixam de pertencer a ele




[2823]
Depois do noviciado, os alunos podem encontrar-se no instituto de Verona para continuar a sua educação apostólica ou para se ocuparem dos ministérios inerentes ao mesmo ou então podem estar nas missões da África.


[2824]
Os alunos que depois do noviciado permanecem no instituto, sempre que estiverem à altura da sua vocação, serão declarados membros efectivos do instituto três anos depois de pronunciarem o voto de obediência. E os alunos que passaram às missões de África, depois de darem dois anos de boa prova de vocação, também serão declarados membros efectivos. Por seu lado, o reitor do insto. de Verona, como também o superior da missão da África, devem fazer a proposta com as respectivas informações de cada aluno ao bispo de Verona, a fim de que ele, se eles se tiverem mostrado dignos, os declare, mediante oportuno decreto, membros efectivos do instituto. E este fica assim com a obrigação de se ocupar completamente deles até à morte, mesmo em caso de incapacidade para o ministério, sempre que continuem no Instituto.


[2825]
Os membros efectivos do instituto podem deixar de pertencer a ele por livre vontade ou por demérito.

No primeiro caso, o membro efectivo que deseja abandonar o Instituto deve solicitar ao reitor, se se encontrar no insto. de Verona, ou ao superior se estiver em África, expondo os motivos pelos quais não quer continuar a carreira empreendida. Se o reitor, ouvido o conselho, reconhecer tais motivos como justos, põe o il.mo e rev.mo bispo ao corrente do assunto, o qual dá ao solicitante autorização para se ir embora, dispensando-o do voto de obediência, se ainda estiver em vigor por não ter expirado o biénio e conceder-lhe-á os meios para voltar ao seu lugar de origem. De modo semelhante em África, o superior da missão, no caso de considerar justas as razões alegadas pelo peticionário, manda a correspondente informação ao bispo, o qual ordena que se dispense o interessado e que a casa lhe forneça os meios para a viagem. Por outro lado, se o respectivo superior não julgasse suficientes os motivos, deverá, por todos os meios, dissuadir o solicitante da sua determinação; mas se nada o conseguisse convencer e persistisse no seu desejo de partir, então, após a devida informação ao bispo e com a aprovação deste, procederá ao despedimento.


[2826]
Podem verificar-se dois casos: o membro efectivo pode encontrar-se em Verona ou na África, e, pela sua má conduta, apesar das prévias admoestações do superior, tornar-se prejudicial para a pia obra, merecendo, por isso, ser expulso.


[2827]
Se estiver em Verona, o reitor dará conta de tudo ao bispo e, conforme a decisão deste, despedi-lo-á. Se se encontrar em África, o superior, ponderado bem o assunto diante de Deus, e depois de ouvir o seu conselho, formado pelos missionários mais selectos, terá autoridade para o expulsar imediatamente, quando as circunstâncias do caso o exigirem, e enviá-lo de regresso à Europa, dando depois informações de tudo ao bispo de Verona. Porém, havendo possibilidade de consultar o bispo antes da expulsão, o superior deverá esperar que ele decida.



CAPÍTULO III

Meios materiais para conseguir

os fins do instituto




[2828]
Além da propriedade dos seus locais de residência e do estabelecimento, o instituto está provido dos recursos que se indicam na carta do bispo de Verona ao Em.o card.-prefeito da S. C., com data de 1 de Fev. de 1872.






429
Mons. José Marinoni
0
Verona
3. 2.1872

N.o 429 (401) - A MONS. JOSÉ MARINONI

APIME, v. 28, p. 15

Verona, 3 de Fevereiro de 1872

Rev.mo monsenhor,

[2829]
Inúmeros assuntos impediram-me de ir a Roma; porém, já terminei e partirei quarta-feira. Quinta ou sexta-feira espero poder apresentar-lhe os meus respeitos e levar-lhe as regras que me foram imensamente úteis e que já quase sei de cor.

No meu regresso de Roma passarei por Milão ou avisá-lo-ei por carta, porque quinze dias depois partirei para o Egipto. Estou muito contente por poder satisfazer plenamente os seus desejos sobre o que falámos. O senhor deve dispor de mim como de coisa sua, in omnibus et quoad omnia. Se mons. o bispo estivesse aqui, mandar-me-ia que lhe enviasse um abraço de todo o coração; mas partiu há duas horas. Saúde atenciosamente da minha parte a todos os da casa, enquanto lhe renovo os meus mais calorosos sentimentos de gratidão para com a sua caridade sem limites e de devoção para com toda a sua pessoa.



Seu hum. P.e Comboni






430
Abadessa Serafina Oberbizer
0
Verona
5. 2.1872

N.o 430 (402) - À ABADESSA SERAFINA OBERBIZER

ACR, A, c. 15/156

V. J. M. J.

Verona, 5 de Fevereiro de 1872

Rev.da madre abadessa,

[2830]
De Roma enviar-lhe-ei a carta para o rev.mo P.e Nicolau Negrelli, porque agora: 1) ele encontra-se na Baviera; 2) vou estar assoberbado de ocupações até à minha partida, de modo que não poderei escrever-lhe. Porém, como tenho o assunto da adoração presente dia e noite e como é necessário que Deus a assista a si e às suas santas irmãs nesta obra sublime e tão útil à Igreja, estou certo de que não me vou esquecer disso; e, para este objectivo, além disso, pedi ao meu secretário que me avise sempre. Escrever a P.e Negrelli é como escrever à imperatriz. A madre, em todo o caso, prepare uma petição para a imperatriz para a juntar à minha, que lhe mandarei aberta de Roma. E reze e faça rezar e obterá tudo, porque Cristo é Homem de palavra, e disse petite et accipietis; e a Santa Clara as suas santas filhas rezam-lhe de verdade. Receba as minhas respeitosas saudações e reze por



Seu dev. e hum. serv.

P.e Daniel Comboni