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Data
271
Mons. Lavigerie
0
Paris
15.10.1868

N.o 271 (256) - A MONS. LAVIGERIE

APBR, B. I, 468

Paris, 22 Rue des Saints Pères

15 de Outubro de 1868



Excelência rev.ma,


 

[1721]
Consagrado desde há quinze anos ao apostolado da África Central, no qual decidi gastar a vida inteira, apesar de tantas dificuldades e perigos como os que eu suporto nas tribos do equador e do deserto, que eu atravessei por quatro vezes, não posso ficar indiferente perante a sorte e as esperanças que me parece contemplar a respeito da África, a parte do mundo mais desgraçada e mais abandonada por causa dos enormes obstáculos que lhe tem colocado o Islamismo; não posso estar indiferente perante os triunfos que a coragem e a constância católicas conseguiram. O senhor, monsenhor, foi objecto da minha admiração e do espanto quando, no Cairo, fui informado pela imprensa católica de que teve a força e a coragem apostólicas de defender e proteger os sublimes interesses de uma parte desta querida África que a Providência divina, mediante a autoridade do Vigário de Cristo, confiou ao seu grande zelo, à sua perspicaz inteligência, numa palavra, ao seu coração episcopal, que porfia com o coração do ilustre bispo de Milão, Santo Ambrósio.


[1722]
V. E. triunfou, monsenhor, contra a hidra multiforme da impiedade que guiava o seu rebanho; o senhor, pastor incomparável, soube proteger as suas queridas ovelhinhas contra os ataques dos lobos maus, e a sabedoria e o coração do imperador, com a graça de Deus, atribuíram-lhe a vitória. Na minha pequenez de pobre e modesto missionário, que só vive para o bem e a felicidade da África, atrevo-me a render-lhe homenagem e a congratular-me de todo o coração, tanto mais que a Santa Sé e o ilustre Vigário de Cristo, que é guiado pelo Espírito Santo, souberam escolher a pessoa mais capaz e activa para empreender a obra muito difícil, mas muito importante, da evangelização de uma grande parte da África Central que desde há tantos séculos se acha ainda nas trevas e sombra da morte.

O vicariato apostólico do Sara é um novo repto ao seu grande zelo de apóstolo, que estabelecerá uma nova era de salvação para os infelizes africanos. E isto constitui uma das maiores alegrias da minha vida, porque os seus esforços e os seus cuidados proporcionarão muita luz para encontrar pouco a pouco o meio mais conveniente e prático de evangelizar os indígenas e as populações nómadas da África interior.


[1723]
Eu já tive a sorte de o ver algumas vezes com mons. Massaia e conversar consigo em Paris por ocasião da sagração episcopal do bispo de Chalons; também tive a honra de lhe falar em Roma [...] seu apostolado de Nancy e Toul. Porém, como não podia prever que se ia transformar em apóstolo da África, nunca aproveitei a ocasião para o consultar sobre a pequena obra que empreendi para a conversão da Nigrícia. E quando o ano passado promovi em Roma uma reunião de bispos, e, sobretudo dos chefes das missões africanas, fui procurá-lo ao seu hotel em Roma e lamentei muito não o encontrar, porque no dia anterior tinha partido para França. Essa reunião tinha por objectivo concretizar a fundação dos dois primeiros institutos com base no meu plano; de facto escolheu-se o Cairo, onde os fundei recentemente sob a protecção de mons. Ciurcia, arcebispo de Irenópolis, vigário e delegado apostólico do Egipto.


[1724]
Recomendo a minha obra às suas orações e desejo que se estabeleça um centro de comunicação entre nós, no Coração de Jesus. É minha intenção informá-lo sobre o andamento da minha obra, a fim de que no futuro possa obter luzes da sua experiência prática para melhor alcançar o objectivo de estabelecer a fé católica no centro da África, que confina com a parte oriental do seu grande vicariato. Quero dar a V. E. notícias sobre o estado actual da minha obra, que está ainda no seu início.


[1725]
Desde 1848 a 1861 tivemos trinta e nove missionários que percorreram a África Central entre os 23 e os 4 graus de latitude norte. Fundámos quatro estações: Schellal nos 23o, Cartum nos 15o, Santa Cruz nos 6o e Gondokoro nos 4o Compusemos um dicionário e uma gramática em duas línguas e aprendemos a numeração de mais de 20 línguas. Porém, morreram 32 missionários e eu mesmo estive onze vezes prestes a perder a vida. Em seguida chamámos os franciscanos, que enviaram sessenta pessoas entre sacerdotes e leigos da sua ordem; mas regressaram todos eles, à excepção de um que está em Cartum.


[1726]
Não creia, monsenhor, que se morre tão facilmente. Nós fomos os primeiros a ir até lá; a maior parte dos missionários eram alemães, muito capazes, muito santos, mas queriam alimentar-se segundo o costume alemão e isso é prejudicial naqueles países. Eu entendo que com prudência e as precauções necessárias se pode viver lá, sobretudo no deserto, onde o ar é puro e saudável. Basta que se faça segundo o espírito católico e a moderação e sobriedade que a Igreja nos recomenda e que são necessários para viver. Um dos nossos caros companheiros, o P.e Pedemonte, um jesuíta napolitano de sessenta anos, esteve muito tempo em Cartum e entre os Bari, nos quatro graus, até que o chamaram para Nápoles, onde vive ainda.


[1727]
A Propaganda, porém, vendo a morte de tantos missionários, entregou-se a uma séria reflexão. O card. Barnabó encarregou-me de fazer um relatório sobre o estado da missão da África Central e de lhe propor um Plano, mediante o qual expusesse os meus pontos de vista sobre a maneira de implantar o catolicismo naquelas tribos centrais. Este Plano é geral, porque a própria propaganda é que devia efectuá-lo, uma vez que conta com a influência e o poder de convidar congregações religiosas, etc.


[1728]
Como sistema prático e geral, este plano foi julgado muito oportuno por um grande número de bispos que consultei e pelo próprio Papa, que o leu todo. Entre outras coisas, estabelece-se nele o princípio de encarregar os vigários e os bispos que residem nas zonas costeiras das missões do centro para uma válida direcção das mesmas, o que a Propaganda já começou a pôr em prática. Pela minha parte, na minha pequenez, fiz nascer as obras seguintes, depois de ter rogado a mons. Canossa, bispo de Verona e a quem conhecia desde a minha infância, que fosse chefe e presidente:

1.o Criou-se em Verona um seminário para as missões da África Central e a Obra do Bom Pastor para o manter. Se Deus abençoar este seminário e nos for possível fundar outros, espero que possamos ser úteis também ao seu grande apostolado.

2.o Fundei há pouco no Cairo um instituto para negros e outro para negras com algumas religiosas francesas. Estes funcionam muito bem e já converteram muitas almas, porque tenho dezasseis mestras negras que conhecem quatro línguas e todos os lavores femininos. Algumas destas negras apresentámo-las o ano passado ao Papa, que nos jardins do Vaticano passou duas horas com elas, assim como com mons. Castellacci, o conde Vimercati e eu, que as acompanhávamos; permito-me enviar a V. E. umas fotos tiradas na altura. No Cairo constatei que, sempre que alguma jovem negra pagã vê as minhas negras ou as ouve falar ou cantar na igreja, pede para se tornar católica e eu já preparei e baptizei muitas este ano. O mesmo acontece com os rapazes. Contudo, para escolher as pessoas que hão-de ser apóstolos dos outros, é melhor admiti-las de tenra idade e então haverá mais garantias de sucesso.


[1729]
Como vê, monsenhor, a minha obra está ainda na sua infância. Recomendo-a às suas santas preces. Pela minha parte, farei rezar todos os dias pela prosperidade de V. E. e pela sua grande obra. Pelo que pude compreender, estou convencido de que o senhor terá muito sucesso na generosa obra que empreendeu e que Deus lhe confiou, porque com a graça de Deus nada lhe será impossível.

Enquanto me felicito consigo, peço-lhe perdão por ousar escrever-lhe esta carta e sinto-me honrado de lhe beijar as suas santas mãos e de me subscrever com os mais profundos sentimentos de veneração e respeito



De V. E. hum. e devot.mo servidor P.e Daniel Comboni

Missionário Apostólico da África Central

Superior dos instos. de negros do Egipto



Apresenta-lhe os seus respeitos o barão de Havelt, de quem sou hóspede. Apenas esteja impresso em francês, enviar-lhe-ei o meu Plano para Conversão...



Original francês

Tradução do italiano






272
Marie Deluil Martiny
0
Paris
15.10.1868

N.o 272 (257) - A MARIE DELUIL MARTINY

AFCI, Berchem Anvers

Vive + Jésus!

Paris, 15 de Outubro de 1868



Muito venerável irmã,


 

[1730]
Por ocasião da minha viagem à Alemanha para intervir no Congresso Geral dos Católicos, celebrado em Bamberg, falei muito da nossa estimada Guarda de Honra, procurando propagá-la, e distribuí todas as medalhas e impressos que me deu a venerada primeira zeladora. No célebre Santuário de Nossa Senhora de Altötting há um magnífico convento das Damas Inglesas que é a casa-mãe de outros oito conventos espalhados pela Baviera. Os conventos acolhem a elite das jovens da Alemanha e da Áustria e uma infinidade de alunos. Agora eu acordei com a superiora geral implantar a Guarda de Honra em todas as suas instituições e nas paróquias e dioceses onde se encontram. Esta veneranda superiora geral tem um zelo admirado e um espírito eminentemente religioso. As regras desta congregação são as dos padres jesuítas.

Ela tem a seu lado uma irmã de notável santidade e bom senso, que conhece muitos idiomas e é como francesa para a iniciativa de uma obra.


[1731]
Mas, para ter êxito nisto, é necessário que a senhora envie para Altötting tudo o que puder: medalhas, quadros, livros, etc. Mande-os também em latim, para que a obra se enraíze entre os redentoristas e o piedoso clero de Passau. Ao enviar para lá todos estes objectos, ponha-se em comunicação com o vigário. A senhora irá fundar um posto de apostolado para a Guarda de Honra, que será muito do agrado de Jesus.

Esta é a direcção que deve pôr:



Rev.da Madre Maria Xavier de Königer

Directora e mestra de noviças

Convento das Damas Inglesas

Altötting (Baviera)



Como Loreto na Itália, Altötting é um dos primeiros santuários da Alemanha, onde chegam cada dia mais de dois mil peregrinos. Aí haverá também quem propague a Guarda de Honra.


[1732]
Peço-lhe que reze e faça rezar por mim e pela nossa obra, porque tenho tantas cruzes que é um milagre se eu conseguir continuar a viver. Porém, Jesus é omnipotente. E a Guarda de Honra constitui para mim uma fonte de tanta força e alento que o Diabo ficará frustrado, porque é só por Jesus que trabalhamos. Além disso, as mesmas terríveis cruzes que me oprimem são para mim o maior conforto, porque Jesus sofreu, Jesus é uma vítima, Jesus escolheu a cruz, Jesus disse: «Os que semearem com lágrimas, colherão com alegria...».

Ah, esse coração bendito, que não bate senão pelas almas, que é uma vítima contínua e que foi ferido por uma lança, é uma grande ajuda para nós... Ah, que feliz sou com as minhas penas! Tenho-as de todas as espécies, no Egipto e na África Central, em Roma e em Verona e até na França. Porém, sou feliz porque na sua Guarda de Honra o Sagrado Coração de Jesus me assiste poderosamente.


[1733]
Eis aqui traduzido em francês o que estou para escrever ao Card. Barnabó, prefeito da Sagrada Congregação da Propaganda Fide, o qual é meu chefe: «Deve saber, Eminência, que desde há algum tempo a cruz me é tão amiga e tão continuamente próxima que a escolhi por estimadíssima esposa, até ao ponto de ter decidido viver sempre com ela até à morte e, se fosse possível, na eternidade. Sabe, Eminência, que o Coração de Jesus foi ferido pela lança na cruz, quando Ele estava morto e que essa lançada horrível trespassou o Coração da nossa Mãe Maria; esse golpe de lança terá repercussões também na África.


[1734]
Pois com a minha cruz levei para a África a Guarda de Honra do Coração trespassado de Jesus, que talvez V. Em.a não conheça, mas que terei a sorte de lhe dar a conhecer. Sabe que força proporciona ao meu espírito esta Guarda de Honra na qual venero o Coração de Jesus e a ferida da lança? Ela dá-me a força de levar a minha cruz com alegria, como se tivesse conseguido uma fortuna para as missões. E com a cruz, minha caríssima esposa e mestra de prudência e de sabedoria, com a Santíssima Virgem, minha querida Mãe, e com Jesus, meu Tudo, não temo Eminência, nem as tempestades de Roma, nem as perseguições do Egipto, nem o furor da Nigrícia, nem as nuvens escuras de Verona, nem Diabo do Inferno, porque sou o mais feliz dos homens e estou na situação mais desejável.


[1735]
Oh, o meu Jesus mostrou uma sabedoria profundamente divina quando, depois de ter criado o universo, fabricou a cruz! Ora com a cruz, que é uma sublime efusão da caridade do Coração de Jesus, tornamo-nos poderosos. Tenho um esclarecimento a fazer aqui e é que estou convencido de ser um grande pecador. Não me envergonho nada de lhe confessar a minha insignificância, minha boa irmã, porque, por outro lado, possuo um grande remédio. Uma vez que Jesus veio salvar os pecadores, veio salvar-me também a mim e, como se digna dar-me a sua cruz, é o sinal mais certo de que me quer salvar. Veja a bondade do Bom Jesus! Enquanto me dá tantas cruzes, faz com que realizem tanto bem os meus institutos, que há pouco fundei no Egipto, junto à gruta da Sagrada Família.

Acaba de me chegar a notícia de que há uns dias três negras de vinte anos receberam o baptismo das mãos dos meus missionários e que outras três estão à minha espera para que eu as baptize. Uma morreu com a pagela da Guarda de Honra sobre o coração, três dias depois de ter sido baptizada.


[1736]
Reze, portanto, e mande rezar pela conversão das almas mais abandonadas da terra, os pobres negros da África Central. Parece-me que, nestes tempos em que os cristãos conspiram contra o Senhor e o seu Cristo, o Coração de Jesus deve derramar de modo redobrado o seu amor sobre os que estão ainda mergulhados nas trevas e nas sombras da morte. Desejo enviar-lhe o meu Plano para a Regeneração da África, que sairá do prelo dentro de poucos dias e que concebi no Vaticano no dia 18 de Setembro de 1864, enquanto assistia à beatificação de Margarida Maria Alacoque. Na primeira edição de 1864 aparece escrito também o dia da beatificação. Espero, pois, que a bem-aventurada me assista, dado que ela amava muito o Sagrado Coração de Jesus.

Tenha-me presente nas suas orações e escreva-me. No meu regresso irei a Bourg. Viva Jesus no seu Sagrado Coração!



P.e Daniel Comboni.



Passei um dia em Bamberg, perto de Munique, no convento das Irmãs da Visitação, que me entregaram uma jovem negra. Entre elas está implantada a Guarda de Honra. Peço-lhe que apresente os meus respeitos à mui reverenda madre superiora.



Original francês

Tradução do italiano






273
Mons. Luis de Canossa
0
Paris
15.10.1868

N.o 273 (258) - A MONS. LUÍS DE CANOSSA

ACR, a, c. 14/60

Sejam louvados J. e M. eternamente, ámen.

Paris, (22 Rue des Saints Pères)

15 de Outubro de 1868



Excelência rev.ma,


 

[1737]
Tardei em escrever porque estive ocupadíssimo; os assuntos em Paris prolongam-se e passei muitas noites a velar, assistindo doentes de importância. Recebi cortês alojamento do il.mo barão de Havelt, protector da Terra Santa e comissário pontifício para a Exposição Universal, o qual, para me ajudar, convida para almoçar as personagens que me podem ser favoráveis, como Druin de Luís, o ministro da Marinha, o presidente da Propagação da Fé, etc. Apesar disso, os afazeres são longos; eis os principais:



1.o Solicitar ajudas das seguintes obras:

a) Propagação da Fé

b) Santa Infância

c) Oeuvre des Ecoles d’Orient

d) Oeuvre Apostolique (objectos de culto)

e) Oeuvres des Tabernacles

2.o Cartas de recomendação para o paxá do Egipto e outros mandatários influentes.

3.o Algum subsídio do Ministério dos Negócios Estrangeiros, dos fundos destinados ao Oriente.

4.o Passagens e transporte de provisões gratuitos a partir de Marselha.

5.o Sondar o terreno no instituto de África para ver que vantagens podemos obter.

6.o Carta especial de recomendação do ministro dos Negócios Estrangeiros, Moustier.

7.o Fontes de onde obter missas para V. E.

8.o Visita a alguns insignes benfeitores. Hic et nunc, quase todos estão no campo. Por isso, um pouco de paciência.


[1738]
Antes de deixar a Baviera, explorei a adequada fonte no Ministério do Culto, para procurar obter alguns milhares de missas de Altötting. O caminho a seguir, que me foi sugerido no dito ministério, é o seguinte: V. E. deve escrever a mons. Henrique Hofstätter, bispo de Passau (Baviera), expondo-lhe que os seus missionários e grande número de sacerdotes da sua diocese, etc... tudo o que puder dizer... e pedindo-lhe que o autorize a receber o ónus de sete ou oito



(P.e Daniel Comboni)

Carta incompleta.






274
M.me A. H. De Villeneuve
0
Paris
20.10.1868

N.o 274 (259) - A MADAME A. H. DE VILLENEUVE

AFV, Versalhes

Paris, 22 Rue des Sts. Pères

Mansão do barão de Havelt

20 de Outubro de 1868

Senhora,


 

[1739]
Não sei exprimir-lhe a alegria que me proporcionou com a sua estimada carta. Acaba de me chegar às mãos com o resto da correspondência, pois havia muito que não passava pelo Hotel das Missões Estrangeiras, uma vez que estava alojado em casa do barão de Havelt.

A sua grande bondade incita-me a ir visitá-la, porque desejo vê-la a si, bem como ao sr. Augusto, meu estimado amigo, e exprimir-lhe o meu agradecimento por tanta bondade que teve para com o jovem Urbansky. Recebi de Dresden notícias sobre o bem que fez a esse jovem; parece que os seus solícitos cuidados o salvaram da morte. A senhora cumula-me de bondade e eu sinto-me ingrato a seu respeito.


[1740]
Embora tenha saído do Cairo de improviso, contudo consegui juntar objectos da madre Rosa, muito interessantes para o nosso querido Augusto. À minha chegada a Alexandria, estava tudo partido, mas ainda consegui encher uma pequena bolsa de viagem. O conteúdo desta, por sua vez, sofreu na viagem à Alemanha, de maneira que ficou pouca coisa. Pedi a Cartum (a dois meses de viagem do Cairo) uma colecção de armas dos negros, porém, ainda não chegaram ao Cairo.

Hoje escrevi a Verona para que me mandem relíquias; este cofrezinho que tenho é para si. Agora estou muito ocupado; quando ficar livre, irei a sua casa. Espero que para essa altura esteja terminada a impressão do meu Plano, que está a ser feita em Paris, para lhe levar alguns exemplares.

Muitas saudações a Augusto e a Désiré, etc., do



Seu afmo. P.e Daniel Comboni

Original francês

Tradução do italiano






275
Augusto De Villeneuve
1
Paris
20.10.1868
N.o 275 (260) - A AUGUSTO DE VILLENEUVE

AFV, Versalhes



Paris, 20 de Outubro de 1868

Breve nota





276
P.e Estanislao Carcereri
0
Paris
20.10.1868

N.o 276 (1150) - AO P.e ESTANISLAU CARCERERI

AGCR, 1964/54

Paris, 20 de Outubro de 1868

[1741]
Se os camilianos têm uma missão que antepõem ao seminário de Verona, a qual implica “non quaero gloriam meam sed eius qui misit me”, eu tenho anualmente, fixos, dez mil francos, mais o que consigo arranjar. Cedo cinco mil deles (com o compromisso de conseguir outros tantos) aos camilianos, desde que sejam satisfeitos os desejos do meu caro Estanislau.



P.e Daniel Comboni






277
Mons. Luis de Canossa
0
Paris
21.10.1868

N.o 277 (261) - A MONS. LUÍS DE CANOSSA

ACR, A, C. 38/10

Paris, 21 de Outubro de 1868


 

[1742]
Aproveito esta ocasião para lhe enviar os meus respeitosos e filiais cumprimentos. No nosso estimado P.e Calisto encontramos um homem que busca unicamente a glória de Deus, a salvação das almas e a verdadeira honra da ínclita ordem trinitária, à qual, tendo cessado a escravidão dos cristãos, compete uma parte do apostolado dos negros.

Quanto às diligências que se deverão realizar com a Propaganda, o vigário apostólico do Egipto e os franciscanos, para ajudar a ordem trinitária a participar no importantíssimo apostolado da África Central, estudaremos e examinaremos as coisas com serenidade, em Verona, após vermos os resultados do actual pleito com os camilianos.


[1743]
Entretanto, confiemos em Deus e n’Aquela que V. E. Rev.ma teve a honra de ser o primeiro a proclamar Rainha da África e receba a afectuosa expressão deste seu filho que lhe é todo devoto



P.e Daniel






278
Claude Girard
0
Paris
31.10.1868

N.o 278 (262) - A CLAUDE GIRARD

AGB

Paris, 31 de Outubro de 1868

Meu caríssimo amigo,


 

[1744]
Espero que venha a Paris e que me escreva antes de ir a Orleães. Saúdo-o afectuosamente, rogando-lhe que apresente os meus respeitos à senhora Girard e aos seus queridos filhos. Se me escrever, dirija as cartas para «22 Rue des Saints Pères», onde estou alojado.

Depois de amanhã sairá da encadernação o meu Plano; metade já foi publicada no Apostolat. Se vier, será para mim como que ressuscitar. Não voltei a receber a sua publicação. Adeus, meu amigo, até à vista. O nosso querido e estimado P.e Calisto é um amigo do tipo do rev.do Girard, quer dizer, incomparável; prestou-me muitos serviços. Adeus.

Do Cairo, boas notícias: baptismos, etc.

O P.e Zanoni, graças a Deus, foi-se embora. Fez mal, mas não importa nada.

A caixa com o ostensório já chegou ao Cairo.



P.e Daniel Comboni






279
Mons. Luis de Canossa
0
Paris
11.1868

N.o 279 (263) - A MONS. LUÍS DE CANOSSA

ACR, A, c. 14/64

Louvados J. M. eternamente. Ámen

Paris, início de Novembro de 1868



Excelência rev.ma,


 

[1745]
Qui confidit in Domino non confundetur. A Propagação da Fé de Lião e Paris atribuiu-me definitivamente ontem a quantia de cinco mil francos, a levantar imediatamente em Lião. Comunicaram-mo esta manhã Nicolas, Cochin e o octogenário presidente, que me leu o relatório do Conselho de Lião e a carta do Em.mo card. Barnabó, o qual recomendou de modo especial a nossa obra e P.e Comboni. Isto é uma graça extraordinária de Deus e um sinal de que é Ele quem actua e não o homem. Deus põe remédio aos meus desatinos com a sua graça. Todos os membros de Lião e Paris tiveram comigo especiais mostras de atenção: nunca dão dinheiro a não ser na distribuição geral de Maio, nem concedem importâncias em dinheiro de forma imediata a não ser aos vigários e prefeitos apostólicos. Como os pagamentos destinados à África são feitos pelo caixa de Lião, será lá que levantarei o dinheiro. Sou levado a esperar que a dotação para o próximo ano venha a ser maior. Bendigamos ao Senhor e contemos sobretudo com a Providência de Deus, mesmo quando parece estarmos abandonados. Agora já não temo a falta de meios.


[1746]
Além disso, a Obra do S. Sepulcro atribuiu-me quinhentos francos. O ano que vem receberei mais. Por outro lado, estou a organizar um comité de senhoras e amanhã, às quatro, serei recebido pela princesa Clotilde, à qual talvez rogue que seja a presidente: é o momento oportuno, agora que o príncipe Napoleão está em Inglaterra.

É provável que consigamos formar um comité masculino em Paris. Porém, antes é preciso estudar a susceptibilidade da Prop. da Fé, cujos conselheiros não querem que lhes façam sombra.


[1747]
Encarreguei monsieur l’abbé Cloquet, director do Apostolado, de formar um conselho diocesano da Obra do B. Pastor e aceitou. Só me disse que o nome não agrada em França, porque com esta denominação aqui só se pensa num comité para socorrer mulheres perdidas.

Amanhã chegará a Paris Mr. Girard. Escreveu-me ontem à tarde de Orleães, dizendo-me que virá com o superior dos gregos de Constantinopla e acrescentava: «Tachez de nous faire admettre à votre table chez Mr. le baron du Havelt, ou vous êtes logé». Veremos.


[1748]
Conviria que V. E. Rev.ma respondesse ao P.e Calisto, dizendo-lhe que quando eu for a Verona se falará sobre a maneira de atender os seus desejos e que V. E. ficaria feliz e contente de cooperar na introdução da ínclita ordem trinitária no apostolado dos negros. Acrescente ao mesmo tempo que, tendo ouvido de P.e Comboni que ele entregou muitas esmolas de missas (500), lhe pede que se ocupe deste assunto, porque tem centenas de sacerdotes sem esmolas. O P.e Calisto, só através das freiras trinitárias de França, poderá arranjar a V. E. bastantes milhares delas. Já lhe recomendei isto. Porém, tem mais força a petição de V. E., de quem espera ser favorecido nos seus desejos africanos.

Espero subsídios também da Santa Infância e da Obra das Escolas do Oriente. Muito grande é o bem que o meu caro barão de Havelt me está a fazer e seria meu desejo que, quando V. E. me escrevesse, tivesse expressões de agradecimento para com ele, porque convida ministros e outras importantes personagens só para me ajudar.



Seu indigmo. filho

P.e Daniel



Mando-lhe o opúsculo que elaborou o Apostolado. Esta tarde receberei cartas do Egipto. Saudações ao marquês Octávio, etc.






280
Mons. Luis de Canossa
0
Paris
13.11.1868

N.o 280 (264) - A MONS. LUÍS CANOSSA

ACR, A, C. 14/61

Paris, 13 de Novembro de 1868

Festa de St.o Estanislau Koska



Excelência rev.ma,


 

[1749]
Mme. Terèse, a quem vi ontem e que se encontra muito bem, manda que lhe apresente os seus respeitos. Saúda a marquesa Clélia e toda a família. É zeladora da nossa obra nas Damas do Sagrado Coração. É uma alma que reza.


[1750]
Enquanto nós invocamos a ajuda do céu para a obra de África, o Senhor quer a nossa cooperação. Sua Eminência o cardeal Barnabó, com a sua famosa circular, tornou ineficaz a nossa carta manuscrita do Santo Padre e declarou ilegítima a nossa actuação. Além do mais, baseou-se no falso princípio de que a Obra do Bom Pastor serve para manter os institutos do Cairo e deu a entender que o fundamento da sua proibição reside nos conselhos da Propagação da Fé. Sem muitas explicações, por amor à brevidade, anuncio-lhe o facto que estou a pôr em execução e que paralisa os esforços do cardeal. Nós fazemos isto pelo bem da África e por respeito ao Papa, que com pontifício documento manuscrito concedeu indulgências à obra.


[1751]
Estou a criar em Paris um comité com as personalidades católicas mais distintas de França, que tem como finalidade recolher esmolas para o seminário de Verona e para outros que viermos a fundar. Pertencem a este comité três dos mais distintos e activos membros do conselho da Propagação da Fé de Paris e são:

Mr. Baudon, presidente das Conferências de S. Vicente de Paulo;

Mr. Cochin, do Instituto e Academia de França;

Mr. Nicolas (Augusto), conselheiro da corte imperial e autor dos Etudes Philosoph.

Estes aceitaram e aderiram também:

O barão de Havelt, em cuja casa estou hospedado, o qual é fundador da Obra da Peregrinação à Terra Santa e comissário pontifício para a Exposição Universal;

Mr. Faugère, ministro plenipotenciário e director do Ministério dos Negócios Estrangeiros;

Mr. le Cte. de Courcelles, antigo embaixador francês em Roma;

Mr. le prince Boglie, da Academia Francesa;

Mr. le Cte. de Mèrode, irmão de Mgre;

Mr. le Cte. de Segur, irmão de Mgre;

Mr. de Valette, cónego de Notre Dame de Paris;

Mr. de Reineval, vigário na Madalena e irmão de um antigo embaixador em Roma;


[1752]
Mr. Edmond Lefont, presidente do Óbolo de São Pedro.



Tenho outras personalidades e membros do clero. Eu sou da opinião de não dizer nada a Roma deste comité, nem sequer depois de estar fundado (coisa de uma ou duas semanas). Depois convém que V. E. lute com as armas de que dispõe; e no caso de o cardeal triunfar (o que me parece impossível), a existência do comité de Paris, composto de homens da máxima categoria, será a arma que decidirá a vitória. Não me alargo a expor as múltiplas razões pelas quais é útil este comité.


[1753]
Recebi de Viena uma carta esplêndida e muito afectuosa do duque de Modena, na qual me diz palavras de encorajamento.

Estabeleci estreitas relações com Carlos vii e com a sua esposa, filha da duquesa de Parma. Se subir, como espero, ao trono de Espanha, bom para a África. Visito amiúde estes dois devotíssimos jovens.

Espera a aprovação e bênção de V. E. Rev.ma



O seu hum. e indigmo. filho

P.e Daniel Comboni



Por respeito ao cardeal, não consenti que o Apostolat publique o decreto de erecção canónica do B. Pastor sem a sua prévia autorização.