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Data
491
Propagação da Fé Paris
1
Cairo
1. 1.1873
N.o 491 (459) - À PROPAGAÇÃO DA FÉ DE PARIS

APFP, Boîte G 84, N. 113



Cairo, 1 de Janeiro de 1873



Estatísticas das missões e notas administrativas.

N.B. O mesmo documento foi enviado à Propag. da Fé de Lião.





492
Jean François des Garets
0
Cairo
15. 1.1873

N.o 492 (461) - A M. JEAN FRANÇOIS DES GARETS

Presidente da Obra da Prop. da Fé de Lião

APFL Afrique Centrale, 1

Cairo, 15 de Janeiro de 1873

Senhor presidente,

[3117]
Hoje, que tenho diante do nosso Instituto, no Nilo, os dois barquitos que devem levar a minha expedição apostólica até ao começo do deserto, é-me grato dar-lhe esta notícia enquanto lhe envio o resumo de contas de 1872 e as previsões orçamentais para 1873.


[3118]
As tropas egípcias acampadas frente à Abissínia tomaram todos os camelos do deserto e as autoridades sanitárias que o quedive mandou à Núbia, devido à pretensa doença da cólera, estenderam o raio de acção até ao trópico e Tebaida e requisitaram também as embarcações. Assim que a nossa grande caravana se poderia ver sem barcos e sem camelos para a sua viagem de três meses de duração.

Porém, tendo enviado ao deserto e a Cartum no dia 26 de Novembro dois missionários e quatro irmãos, eles conseguiram arranjar os camelos em Korosko, após vinte dias de espera, e agora dirigem-se a Cartum. Quando o senhor receber esta carta, terei deixado o Cairo, com mais de trinta pessoas entre homens e mulheres: é a primeira vez que a irmã e a mulher do Evangelho vão sulcar o Nilo no Alto Egipto e na Núbia para, depois, atravessar o deserto; mas foi preciso muita prudência e preparativos.


[3119]
Na minha carta de Julho passado mostrei-lhe o grande bem que o senhor fez à mais vasta e difícil missão do universo, dando-me com uma caridade e rapidez extremas a importante soma de 45 000 francos. Eu nunca cesso de agradecer à Propagação da Fé, que me deu a possibilidade de empreender a Missão, o que de outro modo teria sido impossível.


[3120]
É no primeiro ano que os sacrifícios são mais necessários. Por isso a Propagação da Fé é a única obra sólida capaz de dar vida à missão da África Central. A Sociedade de Viena, que noutros tempos deu tanto dinheiro a esta missão, teve que reunir todos os fundos existentes na sua caixa desde há muitos anos, para poder entregar-me 6590 francos. As outras são pequenas sociedades da área.

Rogo-lhe, pois, que redobre os seus generosos esforços e me conceda uma grande ajuda este ano, metade do qual passaremos na areia, em embarcações, etc., com o céu como tecto e só com a protecção de Deus.


[3121]
Pelo resumo de contas que junto, o senhor verá o estado desta missão, que não tem nenhuma comparação com outras missões, como lhe manifestei em minha carta datada em Roma no dia 5 de Junho. Aqui é preciso fazer tudo, pagar tudo e até comprar as pessoas, ao princípio. Requerem-se grandes sacrifícios, porém, em poucos anos, a Obra da Propagação da Fé ficará feliz por ver brilhar a luz do Evangelho nas tribos da África Central, onde mais de cem milhões pedem a salvação.


[3122]
Agora peço-lhe me conceda duas graças para este mês de Janeiro.

1.o Mandar à madre Emilie Julien, superiora geral das Irmãs de S. José da Aparição, em Marselha, a importância de 5000 francos, à conta de uma dívida de 8000 francos que tenho com ela.

2.o Enviar-me, dentro do exercício de 1873, a soma de 5000 francos, porque, com tantas pessoas numa viagem de três meses, não quereria parar no deserto por falta de dinheiro.


[3123]
Tudo isto peço-o para este mês. A semana passada recebi de mons. Ciurcia uma letra cambial de 2400 francos, pelo que estou infinitamente agradecido.

Eis a direcção do meu representante no Egipto, para quem pode mandar o dinheiro e as cartas para mim.

P.e Bartolomé Rolleri

Missionário ap. e superior dos institutos

de negros do Cairo (Egipto).


[3124]
Ele negociará as letras e far-me-á chegar o dinheiro a Cartum e ao Cordofão por meio do divã do Cairo. As cartas e o correio em geral chegar-me-ão pelo cônsul da Áustria em Cartum.

Esta semana enviar-lhe-ei a foto da expedição, à frente da qual partirei dentro de uns dias. Também lhe mandarei um relatório de Carcereri que me chegou do Cordofão para as Missions Catholiques e que receberá Laverrière.

Digne-se, senhor presidente, receber a homenagem da minha profunda veneração e de eterno agradecimento, com os quais tenho a honra de me declarar



Seu dev.mo servidor

P.e Daniel Comboni

Pró-vigário ap. da Africa C.

Original francês

Tradução do italiano






493
Discurso do Cairo
0
Cairo
25. 1.1873

N.o 493 (462) - DISCURSO PRONUNCIADO NO CAIRO

ACR, A, c. 27/19, n. 2

Cairo Velho, 26 de Janeiro de 1873

[3125]
Finalmente chegou o momento tão suspirado por mim e por vós, ó irmãos e irmãs em Cristo, em que podemos desafogar o prolongado desejo do nosso coração. Agradeço-vos a paciência com que me esperastes na minha longa ausência, a abnegação com que suportastes tantas privações, incómodos e pobreza. Tudo me dá fortes garantias que posso contar com a vossa cooperação na magna e árdua empresa que a Santa Sé se dignou confiar-me. Talvez os sacrifícios passados não sejam senão um ensaio para os muitos que teremos ainda que sofrer para conseguirmos plantar no coração da África o estandarte da redenção; porém, não temamos, pois o Deus que nos amparou nas penas passadas não nos abandonará nas futuras.


[3126]
Façamos um holocausto da nossa vida pela santa empresa e essa terá um êxito seguro: caíram os Apóstolos, mas a sua fé chegou até nós e durará até ao fim dos séculos. A minha longa ausência, se, por um lado, submeteu a vossa paciência a dura prova, assegurou, por outro, a existência e o futuro da nossa missão. Com donativos de particulares pude comprar em Verona dois grandes imóveis, onde se abriram dois institutos para formar alunos e alunas para a missão.


[3127]
Das sociedades de Lião, de Colónia e de Viena consegui obter receitas regulares anuais para o nosso sustento e para todos os gastos originados pela implantação da missão na Nigrícia. Por último, o que é mais importante, obtive da Sagrada Congregação da Propaganda, com a sanção da Santa Sé, toda a missão da África Central com o título e jurisdição de pró-vigário apostólico. A messe, portanto, está conseguida: não falta senão o nosso trabalho. Trabalho requerido pela nossa vocação, pela Santa Igreja, pelos fiéis que nos apoiam e pela própria infeliz Nigrícia, que desde o interior ardente nos estende as suas negras e descarnadas mãos amarradas pelo Demónio. Avante, pois, irmãos e irmãs, filhos e filhas do Senhor. Sigamos sem mais este irresistível impulso do nosso coração, que nos leva a salvar um povo desamparado, uma gente lacerada e envolvida em mil costumes e erros. Armemo-nos do escudo da fé, do elmo da esperança, da couraça da caridade, da espada de dois gumes da divina Palavra e marchemos animosos a conquistar para o Evangelho esta última nação do universo.


[3128]
Eia, vamos destruir entre aqueles povos o império de Satanás, implantar aí o estandarte triunfante da cruz e eles verão a luz sob o esplendor deste sinal. Vamos regar com nossos suores, com a água da vida eterna, aquelas áridas e abrasadas regiões, as quais farão brotar para o Criador um novo povo de fiéis adoradores.



P.e Daniel Comboni






494
Uma Irmã de São José
0
Siut
10. 2.1873

N.o 494 (463) - A UMA IRMÃ DE S. JOSÉ

ASSGM, Afrique Centrale Dossier

Siut (capital do Alto Egipto)

10 de Fevereiro de 1873

Minha veneradíssima madre,

[3129]
Uma só palavra para lhe dar notícias das nossas irmãs. A Irmã Germana é a Marta da nossa expedição; comporta-se verdadeiramente bem. A semana passada avançámos lentamente, porém, agora temos um bom vento. A Ir. Madalena encontra-se em perfeita saúde; nunca a vi tão cheia de saúde. A Ir. Josefina está bem, embora tenha ficado doente do peito por ter trabalhado muito com os preparativos do Cairo e começou a fazer o mesmo no barco, quando tivemos dois dias e duas noites de Inverno; porém, eu obriguei-a, por obediência, a ficar na cama e agora melhorou. Fazemos o possível por curá-la; assim poderá terminar a viagem e trabalhar no Sudão.

Dentro de quinze dias chegaremos a Schellal, no começo do vicariato. Dou graças ao senhor por me ter concedido as Irmãs de S. José.


[3130]
São umas heroínas as três que tenho. Defenda a minha causa perante a madre geral para que me mande mais seis, no próximo mês de Março. Dê-lhe notícias nossas e agradeça-lhe da minha parte o que fez por mim. Este novo mundo da África Central pertence a S. José. Rezamos sempre pela nossa madre geral, por si, pela madre assistente, pela Ir. Catarina, superiora de Roma e por todas as irmãs. Reze também por nós. Estamos nas mãos de Deus e refugiados no Sagrado Coração. Faço todos os dias um sermão às irmãs e às negras. Elas estão felizes, pelo que vejo; são boas. Mil saudações à madre geral e às suas queridas filhas. Reze por este que é



Seu devot.mo servidor

P.e Daniel Comboni

Pró-vigário ap. da África Central



Navegando desde o Cairo até Schellal, fizemos três sétimos da viagem. De Schellal, espero chegar a Cartum em 40 dias.



Original francês

Tradução do italiano






495
Card. Alexandre Barnabó
0
Scellal
7. 3.1873

N.o 495 (464) - AO CARD. ALEXANDRE BARNABÓ

AP SOCG, v. 1003, ff. 720-721

Schellal (Núbia Inferior)

7 de Março de 1873



Em.o e Rev.mo Príncipe,


 

[3131]
Eis-me aqui, finalmente, chegado ao vicariato da África Central, depois de uma lenta e penosa navegação de mais de trinta e oito dias desde o Cairo. Saí da capital do Egipto com dois pequenos barcos, num dos quais iam os missionários e os irmãos leigos e no outro as excelentes Irmãs de S. José e as mestras negras: ao todo vinte e seis pessoas. O Senhor visitou-nos com a morte de um bom irmão leigo, agricultor veronês, que, ao passar pelo Alto Egipto, adoeceu no barco de uma terrível varíola e a quem o prefeito, o P.e Ângelo, mandou enterrar em Negadeh, perto de Tebaida.


[3132]
Apesar dos meus esforços de correr quanto antes para o meu vicariato, até agora tinha-me sido totalmente impossível:

1.o Pelo cordão sanitário estabelecido pelo Governo entre o Egipto e a Núbia por causa da pretensa existência de cólera em Berber, Cartum e Suakin, patranha ideada a fim de subtrair esses países à vigilância diplomática e impedir que se espiassem os movimentos das tropas do quedive nas operações para a conquista da Abissínia (empresa agora frustrada pelo Gabinete Britânico). Disso derivou a total falta de camelos para percorrer o deserto e a escassez de embarcações para sulcar o Nilo; pelo que os dois missionários e quatro leigos que no dia 26 do passado mês de Novembro eu tinha mandado do Cairo a Cartum, a fim de prepararem os alojamentos para as duas caravanas, ficaram imobilizados durante oitenta e um dias em Korosko, limiar do deserto, por não terem podido encontrar camelos; e tive que conseguir por meio do consulado que o divã do Cairo mandasse uma ordem telegráfica, para que arranjassem quatro, enquanto os outros dois permaneciam em Korosko esperando a minha chegada.


[3133]
2.o Por a rev.da madre geral de S. José se ter demorado a enviar as obediências às irmãs destinadas ao Sudão, que foram assinadas em Marselha só a 2 de Janeiro e recebidas por elas a 19, isto é, apenas uma semana antes que as nossas expedições partissem do Cairo. Eu já tinha cumprido há tempos as minhas obrigações para com as irmãs, segundo o acordo estipulado em Roma entre mim e a madre geral. Porém, assim dispondo o Senhor as coisas, respeitáveis pessoas trataram de impedir por meios que acho injustos a colaboração das santas e eficientes irmãs na minha árdua e laboriosa missão; e não foi tanto a minha sagacidade e os meus esforços que conjuraram o perigo, como a misericórdia de Deus, que vela com piedoso cuidado pela sua obra.


[3134]
3.o Pelas múltiplas preocupações e trabalhos suportados no Cairo, dos quais darei notícia a V. Em.a quando chegar à minha residência e pela tediosa e cansativa tarefa de reunir as provisões para tantas pessoas para uma difícil viagem de três meses, e de preparar os objectos necessários para erguer e equipar modestamente dois importantes estabelecimentos que há que erigir no vicariato.


[3135]
A minha presença no Cairo teria sido necessária para tratar devidamente o assunto da compra de um terreno para nele construir dois pequenos estabelecimentos preparatórios para a missão da África Central, com o fim de evitar o gravoso arrendamento das duas casas actuais, para cujo fim já realizei as oportunas diligências com o I. R. agente diplomático e com o cônsul-geral austro-húngaro no Egipto para o obter gratis de S. A. o quedive. E ainda mais útil teria sido para vigiar a guerra surda que, permitindo-o o Senhor, se faz no Egipto contra a santa obra da regeneração da Nigrícia. Alguns, que por vocação deveriam favorecer tudo o que tende só para a glória de Deus, procuraram, e talvez procurem ainda, multiplicar-lhe as dificuldades e não deixaram de arranjar forma de me prejudicar.


[3136]
A minha obra é por si árdua e penosa e só a omnipotência divina pode levá-la a cabo. Por isso, pus toda a minha esperança no Coração de Jesus e na intercessão de Maria e estou disposto a sofrer seja o que for pela salvação dos povos a mim confiados, convencido de que a cruz constitui a marca das obras divinas – sempre que não seja devida à nossa imprudência e malícia –, e confortado pela sentença divina: qui seminant in lacrymis in exultatione metent.


[3137]
Sim, por tais motivos a minha presença teria sido útil no Cairo. Porém, bem ponderado tudo, decidi confiar o instituto e os meus assuntos do Cairo à cuidadosa vigilância e prudência do meu excelente missionário P.e Bartolomeu Rolleri, homem de provada integridade, discrição e zelo apostólico, que desde há cinco anos trabalha louvavelmente no meu instituto do Cairo e correr logo com as duas caravanas para o vicariato, por ser hic et nunc urgente e mais conforme com o pensamento da Propaganda ocupar o vicariato e fazer a sua visita, assim como pôr convenientemente em andamento a estação de Cartum e a do Cordofão.


[3138]
Quanto a Schellal, encontrei a casa em óptimo estado de solidez; porém, completamente vazia dos objectos que possuía no valor de mais de dois mil escudos, os quais foram em parte vendidos e consumidos, em parte roubados e em parte destruídos pelas formigas brancas. Como aqui temos um clima excelente e um amplo terreno produtivo na nossa propriedade (75 000 metros quadrados) e, tendo em vista que Schellal é um sítio que se pode tornar importante, é minha intenção devolver a esta Estação a vida e torná-la útil para a missão, segundo o objectivo para que foi fundada, como lhe exporei depois da visita pastoral do vicariato.

Beija-lhe a sagrada púrpura com toda a veneração



Seu hum. devot.mo e obed.mo filho

P.e Daniel Comboni

Pró-vigário apost. da África Central






496
Propagação da Fé, Lião
0
Scellal
18. 3.1873

N.o 496 (465) - À PROPAGAÇÃO DA FÉ DE LIÃO

«Missions Catholiques», 203 (18073), p. 196

Schellal, 18 de Março 1873

[3139]
Empregámos trinta e oito dias na viagem do Cairo até Schellal e precisaremos de mês e meio para chegar a Cartum. Temos uma grande confiança em Deus. Animou-nos concedendo-nos um milagre, por intercessão da rev.da madre de Canossa, tia do arcebispo de Verona, fundadora das religiosas chamadas canossianas. A superiora das religiosas da expedição estava a morrer, pelo que iniciámos uma novena à rev.da madre de Canossa.

Ao terceiro dia, ou seja, no dia 10 de Março, a doente pôde levantar-se e hoje está completamente curada. Prepare as colunas do Boletim para o meu relato da nossa expedição. Tenho que concluir este bilhete porque a violência do vento me impede de escrever.

P.e Daniel Comboni

Original francês; tradução do italiano.






497
Madre Emilie Julien
0
Scellal
19.3.1873

N.o 497 (466) - À MADRE EMILIE JULIEN

ASSGM, Afrique Centrale Dossier

J. M. J.

Schellal (Núbia Inferior)

19 de Março de 1873



Minha queridíssima e rev.da madre,


 

[3140]
Já entrei, após uma navegação de trinta e oito dias pelo Nilo, no vicariato da África Central. Hoje as irmãs renovaram o seus votos. São as primeiras religiosas que pisam o interminável espaço da África Central. Estas três irmãs são anjos, devo confessá-lo à sua querida madre e faço-o com uma sinceridade e um sentimento de júbilo.

Que graças nos concederam Deus, a Santíssima Virgem e S. José! Porém, hoje devo assinalar outra grande protectora da África Central e das Irmãs de S. José da Aparição: a venerável marquesa Madalena de Canossa, tia do bispo de Verona, cuja canonização está a ser instruída em Roma. A Ir. Josefina Tabraui, digna superiora das nossas irmãs, embora quinze dias antes da nossa partida do Cairo gozasse de bastante boa saúde, trabalhou tanto nos preparativos da viagem que caiu doente: cuspia sangue e foi tomada de febre, que não a deixava.


[3141]
Devo dizer-lhe a si que se torna difícil moderá-la: é incansável e, apesar das minhas censuras, dos meus rogos e os das irmãs, empenha-se a trabalhar, não tem nenhum cuidado com a saúde. É indomável. Deus sabe quanto trabalhámos e sofremos para a obrigar a abandonar o camarote convertido num forno ou para a impedir de descer a terra quando, com o vento contrário, ficámos parados. Esperando poder curá-la com o descanso da navegação, partimos no dia 26 de Janeiro. Porém, a febre não a deixou nunca durante a viagem de 38 dias.


[3142]
Remédios, sangrias, repouso, alimentação, tudo foi inútil. Como está verdadeiramente tísica, a meio da viagem comprei uma burra com o seu potro por 145 francos; mas o leite caía-lhe mal. Chegados à nossa casa de Schellal, foi deitar-se e às sete confessou-se e comungou. Nós pensávamos administrar-lhe os santos óleos. Que dor para mim e para as irmãs!

Decidimos ficar em Schellal com toda a caravana de vinte e cinco, à espera das irmãs que a madre me tinha prometido, porque nem eu nem as suas companheiras podíamos abandoná-la para cruzar o deserto. Aí, cada dia representava para mim uma despesa de 60 francos.


[3143]
Estávamos desolados. Era enorme a quantidade de orações, novenas e tríduos que dirigíamos a todos os santos, a S. José, etc.; mas o dia 9 de Março eu não pensava vê-la com vida. E a Ir. Germana também era tomada de convulsões e palpitações.

No meu desespero, determinei finalmente fazer uma novena à marquesa de Canossa, fundadora das Irmãs da Caridade de Verona, que fez muitos milagres e que morreu em 1835.

Nos dois primeiros dias da novena piorou; mas Ir. Madalena e Faustina, minha prima, gritavam que a de Canossa tinha que fazer o milagre.

Ao terceiro dia da novena, a febre desapareceu por completo. Eu queria fazer-lhe beber a água de La Salette. Não – disseram as Irmãs –, não devemos dar-lhe nada; é a de Canossa que deve curá-la.


[3144]
Em suma, no final da novena, ou seja, no dia 17, a Ir. Josefina levantou-se sã e salva e agora trabalha mais que nunca. Cessou quase totalmente a tosse que a consumia e a febre não voltou a aparecer. A Ir. Josefina está mais forte que em Deir-el-Kamar e no Cairo. Hoje, sob um Sol ardente, fez uma viagem a Assuão de 4 horas e meia para tratar um assunto com o governador. E espero que dentro de quarenta dias cheguemos a Cartum. Vou escrever ao bispo de Verona e farei o relatório para juntá-lo à causa de beatificação. As irmãs prometeram a Deus não deixar que passe um dia sem rezar à de Canossa e fazer um jejum e um retiro de três dias em Cartum se nos conceder a graça de chegar lá sãos e salvos.


[3145]
A Ir. Germana está curada. Quanto à Ir. Madalena, desde que partiu do Cairo até agora não sofreu nunca uma dor de cabeça, tem uma pele bronzeada e uma saúde tal que nunca a vi tão saudável e alegre, desde 31 de Julho de 1864 até ao presente. Trabalha por duas com muita calma e sensatez; o mal é que as outras duas irmãs também querem trabalhar. Por isso, se nestes países longínquos preciso de mais é também para poupar estas três verdadeiras filhas do Evangelho.


[3146]
Depois de ter lido esta carta, dê a conhecer o conteúdo a Ir. Maria Bertholon e diga-lhe que a espero na África Central para a curar e torná-la apóstola dos negros. Saúde-a, além disso, da minha parte, como também à Ir. madre assistente da qual queremos uma foto.

Mande-me irmãs árabes: pelo menos dez. Para que hei-de falar-lhe do apostolado das irmãs neste país? Os doentes vêm às centenas todos os dias, de lugares a trinta e quarenta milhas de distância para serem tratados por elas.

A Ir. Germana é agora a Ir. Rosália de Tunes. Compreende-me bem?


[3147]
Schellal é uma povoação situada em frente da ilha de Filé, de quinhentos habitantes disseminados pelas cataratas. Nós temos uma boa casa com 15 feddans de terreno sobre o Nilo, onde farei um grande jardim (15 feddans são 75 000 metros quadrados). O ar é magnífico. Ora bem, se as irmãs são solicitadas nesta aldeia, que sucederá em Cartum, em El-Obeid, no Cordofão, onde há uma população tão numerosa?... Por conseguinte, rogo-lhe insistentemente que me mande ao menos sete irmãs rapidamente. Procure que me seja destinada uma boa farmacêutica, porque se trata de apostolado. Espero que para meados de Abril possa fazer com que partam de Marselha.


[3148]
Dê-me santas irmãs como as três que tenho comigo. Mande-me verdadeiras irmãs como as do hospital do Cairo, porque é preciso um grande espírito de sacrifício para esta missão...

Em três anos espero fazer de Schellal uma grande estação, com um belíssimo jardim. Construirei uma igreja toda de granito oriental, como o do obeslisco que está na Praça de S. Pedro em Roma, que foi daqui.


[3149]
Consagrarei a estação de Schellal a S. José. O clima é dez vezes mais saudável que o do Cairo.

Mil saudações à madre assistente. Escreva para Roma, à Ir. Catarina sobre o milagre que eu irei escrever-lhe de Cartum.

Espero as irmãs



Seu filho em N. S.

P.e Daniel Comboni



Original francês

Tradução do italiano






498
Card. Alexandre Barnabó
0
Schendy
29. 4.1873
N.o 498 (467) - AO CARD. ALEXANDRE BARNABÓ

AP Acta, Ponenze, v. 241, f. 689



Schendy, na Núbia Superior

29 de Abril de 1873



Em.o e Rev.mo Príncipe,



[3150]
Enquanto estamos encalhados há dois dias entre as cataratas de Halfaya e impedidos de avançar também pelo vento contrário, tenho a honra de lhe anunciar que me chegaram do Cairo as suas veneradíssimas do dia 8 e do dia 28 de Novembro, assim como o decreto do Santo Ofício de 11 de Dezembro com a dispensa da abstinência ao sábado, pelo que lhe agradeço imenso.


[3151]
O ilustre Sir Bartle Frère, embaixador de S. M. Britânica, que me foi recomendado por sua estimada carta de 28 de Novembro, veio visitar-me com o seu séquito ao meu instituto do Cairo e conversámos durante mais de três horas sobre o doloroso tema da escravidão. Embora este exímio senhor pertença à Igreja Anglicana, parece muito animado pela missão filantrópica, à qual foi destinado pelo seu Governo. Não se dirigia à África Central, que é o verdadeiro e lamentável teatro da escravidão, mas a Mascate por Zanzibar. Quer pôr-se em contacto com aqueles sultões para abolirem praticamente o tráfico de escravos e, depois de uns meses, voltará à Europa, isto é, a Londres. Combinámos manter correspondência usque ad mortem sobre o mencionado fim humanitário. Julguei prudente, contudo, não lhe dizer nada, por agora, sobre estragos que neste momento está a fazer entre os negros, desde Gondokoro até às nascentes do Nilo, outro inglês, Sir Samuel Baker, porque antes quero comprovar o facto.


[3152]
Não obstante pareça ser certo o que me contaram, porque o capitão do meu barco, de onde escrevo, me assegura que esteve com Sir Baker três longos anos, até há oito meses, e que junto com Baker, o mais velho e Baker júnior, mataram bastantes milhares de negros, incluindo os seus chefes, porque se negavam a acompanhá-lo até aos N’Yamza. Mas sobre isto escreverei mais adiante.


[3153]
O processo que seguiram até agora as potências europeias, sobretudo a Inglaterra, no sentido de acabar com o tráfico de negros é ineficaz para alcançar o objectivo proposto. Os sultões dos países mencionados receberão S. E. o embaixador com gentileza e esplendor, como já o fez Sua Alteza o quedive; assinarão algum tratado e darão todas as garantias sobre o papel. Porém, partido o embaixador, continuarão a promover e proteger o infame tráfico, porque isso está na natureza dos princípios do Alcorão e para eles é fonte de algumas receitas e comodidades. Nos três longos meses e mais de viagem do Cairo até aqui, vimos mais de quarenta embarcações com escravos e escravas completamente nus, que iam como sardinhas em lata, e no deserto encontrámos mais de vinte caravanas de negras que, totalmente nuas, marchavam a pé, empurradas por vezes à força de chicotadas.


[3154]
Todas elas eram conduzidas em pleno dia, diante dos olhos do Governo local, que é o primeiro cúmplice e promotor, e tinham como pontos de destino o Cairo e Alexandria. E não falo do imenso número de escravos arrancados todos os anos do nosso vicariato e que vão parar aos portos de Trípoli e Tunes. Por isso não pude senão abanar a cabeça quando em Berber li no Times o seguinte fragmento do discurso da Coroa que no passado dia 6 de Fevereiro a rainha da Inglaterra pronunciou no Parlamento de Londres: «O meu último discurso, mylords e senhores, referiu-se às medidas adoptadas para acabar eficazmente com o tráfico de negros nas costas orientais da África. Mandei um embaixador a Zanzibar (Sir Bartle Frère); leva instruções que me parecem as mais adequadas para conseguir o objectivo que propus. Recentemente chegou ao seu destino e pôs-se em contacto com o sultão».


[3155]
O único meio de eliminar ou diminuir o tráfico de negros é ajudar eficazmente o apostolado católico nessas infelizes regiões, de onde são arrebatados violentamente milhares e milhares de pobres negros, cometendo os mais terríveis excessos e onde se exerce o infame tráfico. Entre todos os países do mundo é a África Central onde se perpetram as mais tremendas atrocidades contra estes infelizes seres. E como esta horrível chaga da humanidade afecta sobremaneira o meu vicariato, vou ter muito que fazer e escrever acerca de tal assunto. Eu poderia ter nas minhas mãos os cordelinhos para tratar sobre isto com os mais altos dirigentes das grandes potências da Europa, porém, hoje mandam só governos ateus e revolucionários; portanto não darei um passo sem submeter tudo previamente ao sábio juízo da S. C. e, sobre o assunto, agirei unicamente segundo as suas instruções.

Beijo-lhe a sagrada púrpura e declaro-me de Vossa Eminência



Hum.mo e devot.mo filho

P.e Daniel Comboni, pró-vigário ap.






499
Homilia de Cartum
0
Cartum
11. 5.1873

N.o 499 (468) - HOMILIA DE CARTUM

«Annali B. Pastore» 4 (1873), pp. 32-35

Cartum, 11 de Maio de 1873

[3156]
Estou muito contente de finalmente me encontrar de novo entre vós, depois de tantas vicissitudes penosas e de tantos ansiosos suspiros. O primeiro amor da minha juventude foi para a infeliz Nigrícia e, deixando tudo o que me era mais querido no mundo, vim, faz agora dezasseis anos, a estas terras para oferecer o meu trabalho como alívio para as suas seculares desgraças. Depois, a obediência fez-me voltar para a Europa, dada a minha enfraquecida saúde, que os miasmas do Nilo Branco em Santa Cruz e em Gondokoro tinham incapacitado para a acção apostólica. Parti para obedecer; porém, entre vós deixei o meu coração e, tendo-me recomposto como Deus quis, os meus pensamentos e os meus actos foram sempre para convosco.


[3157]
E hoje, finalmente, recupero o meu coração voltando para junto de vós para o abrir na vossa presença ao sublime e religioso sentimento da paternidade espiritual, da qual quis Deus que fosse investido, faz agora um ano, pelo supremo chefe da Igreja Católica, nosso senhor o Papa Pio IX. Sim, eu sou vosso pai e vós meus filhos e como tais pela primeira vez vos abraço e estreito contra o meu coração. Estou-vos muito reconhecido pelas entusiásticas recepções que me tendes dispensado: demonstram o vosso amor de filhos e persuadem-me de que quereis ser sempre a minha alegria e o meu diadema, como sois o meu dote e a minha herança.


[3158]
Tende a certeza de que a minha alma vos corresponde com um amor ilimitado para todo o tempo e para todas as pessoas. Eu volto para o meio de vós para nunca mais deixar de ser vosso e totalmente consagrado para sempre ao vosso maior bem. O dia e a noite, o Sol e a chuva encontrar-me-ão igualmente e sempre disposto a atender as vossas necessidades espirituais; o rico e o pobre, o são e o doente, o jovem e o velho, o patrão e o servo terão sempre igual acesso ao meu coração. O vosso bem será o meu e as vossas penas serão também as minhas.


[3159]
Quero partilhar a vossa sorte e o dia mais feliz da minha existência será aquele em que eu possa dar a vida por vós. Não ignoro a gravidade do peso que lanço sobre mim, já que, como pastor, mestre e médico das vossas almas, terei de velar por vós, instruir-vos e corrigir-vos; defender os oprimidos sem prejudicar os opressores, reprovar o erro sem censurar o que erra, condenar o escândalo e o pecado sem deixar de ter compaixão pelos pecadores, procurar os transviados sem encorajar o vício: numa palavra, ser ao mesmo tempo pai e juiz. Mas resigno-me a isso, na esperança de que todos vós me ajudareis a levar este peso com júbilo e com alegria em nome de Deus.


[3160]
Sim, antes de tudo confio no teu trabalho, reverendo padre e meu caríssimo vigário-geral: em ti, que foste o primeiro que me ajudou nesta obra da missão para a regeneração da Nigrícia e o primeiro que arvoraste o estandarte da santa cruz no Cordofão e ensinaste àqueles povos os primeiros rudimentos da fé e da civilização. E também confio em vós, estimados sacerdotes irmãos meus e filhos neste apostolado, uma vez que sereis os meus braços na acção de dirigir pelos caminhos do Senhor o seu povo e ao mesmo tempo meus anjos conselheiros. E igualmente confio em vós, veneráveis irmãs, que com mil sacrifícios vos associastes a mim para colaborar comigo na educação da juventude feminina. E do mesmo modo confio em todos vós, senhores, porque sempre querereis confortar-me com a vossa obediência e docilidade às afectuosas insinuações que o meu dever e o vosso bem me aconselhem a fazer-vos.


[3161]
Quanto a si, ilustre representante de S. M. I. R. A. o imperador Francisco José I, nobre protector desta vasta missão, enquanto com prazer lhe agradeço quanto fez até agora por ela, apresso-me a exprimir-lhe a esperança de que quererá continuar a render gloriosamente a homenagem da espada à cruz, a defender os direitos da nossa religião divina, no caso de serem ignorados e espezinhados.


[3162]
E agora é a vós a quem me dirijo, ó piedosa Rainha da Nigrícia, e, aclamando-vos como Mãe amorosa deste vicariato apostólico da África Central entregue aos meus cuidados, atrevo-me a suplicar-vos que nos recebais solenemente sob a Vossa protecção a mim e a todos os meus filhos, para que nos guardeis do mal e nos dirijais para o bem.


[3163]
Ó Maria, Mãe de Deus, o grande povo dos negros dorme ainda na sua maior parte nas trevas e sombras da morte: apressai a hora da sua salvação, aplanai os obstáculos, dispersai os inimigos, preparai os corações e enviai sempre novos apóstolos a estas remotas regiões tão infelizes e necessitadas.


[3164]
Meus filhos, eu confio-vos neste dia solene à piedade dos Corações de Jesus e de Maria, e, no acto de oferecer por vós o mais aceitável dos sacrifícios ao Altíssimo Deus, rogo humildemente que seja derramado sobre as vossas almas o sangue da redenção, para as regenerar, para as sarar, para as embelezar na medida da vossa necessidade, a fim de que esta santa missão seja fecunda para a vossa salvação e para a glória de Deus. E assim seja.



P.e Daniel Comboni



Original árabe, traduzido para italiano pelo P.e Carcereri

Tradução do italiano






500
Card. Alexandre Barnabó
0
Cartum
12. 5.1873

N.o 500 (469) - AO CARDEAL ALEXANDRE BARNABÓ

AP SOCG, v. 1003, ff. 724-725

Em.o Príncipe,

[3165]
Aos noventa e oito (98) dias da minha partida do Cairo, cheguei finalmente com a grande expedição a Cartum. Não lhe posso exprimir por palavras os sofrimentos, os incómodos, as fadigas, como tão-pouco a ajuda e as graças do Céu, nem as vicissitudes, enfim, desta perigosa e difícil peregrinação. Os Santíssimos Corações de Jesus e Maria, que foram incessantemente o doce e suave assunto das nossas esperanças e preces, salvaram-nos de todos os perigos e protegeram-nos a todos e a cada um dos membros da nossa considerável caravana, especialmente no árduo e terrível percurso do grande deserto de Atmur, no qual, durante mais de 13 dias, desde o meio dia até às quatro da tarde, tivemos 58 graus Réaumur e nos quais galopámos de 16 a 17 horas por dia; aos 4 do corrente mês, todavia, chegámos todos sãos e salvos a Cartum. Dois despachos telegráficos, um meu para o Cairo e outro do I. R. cônsul austro-húngaro para Londres, anunciavam no mesmo dia este acontecimento.


[3166]
Por estar muito cansado, não lhe falarei agora da favorável impressão que a minha chegada a Cartum e a das irmãs produziu em todo o Sudão, nem dos assuntos da missão e como a encontrei, nem do verdadeiro milagre que a marquesa Madalena de Canossa, morta em odor de santidade, fez em Schellal, em favor da minha superiora, Ir. Josefina Tabraui, a qual, curada de uma doença mortal ao terceiro dia de uma novena, pôde atravessar incólume o grande deserto, etc., etc. De tudo isto escreverei dentro do mês. Agora limito-me a informá-lo da feliz chegada da caravana a Cartum, para a qual o meu vigário-geral tinha tudo preparado, a quem três meses antes eu mandara vir para aqui com esse fim, após a partida dos dois franciscanos que ocupavam esta estação.


[3167]
Já desde a minha entrada no vicariato, nas primeiras cataratas do Nilo, comecei a mostrar aos governadores turcos o grande decreto que Sua Majestade Apostólica o Imperador Francisco José I obteve do grande sultão de Constantinopla, a favor do meu vicariato da África Central; pelo que todas as autoridades turcas rivalizaram em nos favorecer em tudo ao longo da dificultosa viagem. Em Korosko, em apenas dois dias, conseguimos ter à nossa disposição sessenta e cinco camelos escolhidos para o deserto; em Berber, o próprio paxá governador me disponibilizou a sua embarcação para navegar em 15 dias até Cartum, etc., etc. Depois, a entrada na minha sede foi um verdadeiro triunfo, que me deixou desconcertado. O cônsul austríaco, com uniforme de gala, seguido de toda a colónia cristã de cada seita de Cartum, foi até ao barco, ao meu encontro, e dirigiu-me um emocionante discurso, no qual me felicitava em nome de S. M. Apostólica pela minha nomeação como pró-vigário e pela minha chegada ao vicariato e, em nome de toda a colónia cristã do Sudão e da cidade de Cartum, me agradecia por ser o primeiro a trazer irmãs para o Sudão para a educação da juventude feminina e convidava-me a tomar posse da minha sede.


[3168]
Eu, depois de uma apropriada resposta, e apresentados os missionários e as irmãs, pelas ruas principais da cidade, entre o estrondo de morteiros e fuzis, rodeado dos missionários e do corpo consular e seguido de toda a colónia cristã, dirigi-me à igreja e depois à minha majestosa residência, onde o cônsul me apresentou a personalidades da colónia. À tarde veio visitar-me com o seu numeroso séquito o chefe turco do Governo Geral do Sudão, o qual, felicitando-me pela minha chegada, se ofereceu para ajudar em tudo o que pudesse ser do meu agrado. Esperemos!!!


[3169]
Não faltou depois quem repetisse uma benévola frase do cônsul, ou seja, que agradecia cordialmente ao Pontífice Pio IX por ter dado nova vida ao vicariato e ter mandado as irmãs ao serviço da missão. O Doutor Angélico rezava assim: Da mihi, Domine, inter prospera et adversa non deficere, ut in illis non extollar, in istis non deprimar. Por minha parte, depois de ter ouvido os hossanas, preparo-me para o crucifige.


[3170]
Ontem, além disso, fiz a minha entrada solene. Inter missarum solemnia pronunciei em língua árabe a minha pastoral, na qual expus claramente o objectivo da missão recebida do imortal Pio IX Assistiam mais de cento e trinta católicos, grande número de hereges de todos os cismas, muçulmanos e idólatras, pelo que estava cheia a capela, os pórticos e o pátio da missão. Asseguraram-me que havia onze longos anos que do altar não se tinha ouvido a palavra de Deus, coisa em que eu ainda não posso crer. Aqui espera-nos não pouco trabalho, porque, à excepção de duas famílias, todos vivem em concubinato. Confio na graça do Sagdo. Coração de Jesus, a quem dedicarei solenemente todo o vicariato no quarto domingo de Agosto, dedicado ao Sagrado Coração de Maria. O S. Coração de Jesus, invocado pelos membros do Apostolado da Oração, como escreveu o P.e Ramière, deve conseguir o milagre da conversão dos cem milhões de almas, de que consta esta imensa missão.


[3171]
A nova missão do Cordofão parece estar em bom começo; porém, necessito de dinheiro para os estabelecimentos. Aqui, em Cartum, as irmãs e as mestras negras estão alojadas num palácio situado a três minutos de distância do jardim da missão, separado dele por uma ampla rua de Cartum.

Receba os obséquios do meu vigário-geral, o P.e Estanislau, dos missionários, das irmãs e do seu



Indig.mo filho

P.e Daniel Comboni

Pró-vigário apostólico