Comboni, neste dia

In questo giorno (1880) va a Torino e celebra la festa della Propagazione della fede.
A des Garets, 1877
L’Opera della Propagazione della Fede è regolata dalla saggezza dello Spirito Santo, come lo è la Chiesa Cattolica

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N° Escrito
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Sinal (*)
Remetente
Data
1071
Cón. Cristóvão Milone
0
El-Obeid
17. 05. 1881

N.o 1071; (1026) - AO CÓN. CRISTÓVÃO MILONE

«La Libertà Cattolica» XV (1881), p. 509

El-Obeid, 17 de Maio de 1881



Breve bilhete.

1072
Director Museu Mis. Cat.
0
El-Obeid
17. 05. 1881

N.o 1072; (1027) - AO DIRECTOR DO «MUSEO DELLE MISSIONI CATTOLICHE»

«Museo delle Missioni Cattoliche» (26-06-1881)

J. M. J.

El-Obeid, 17 de Maio de 1881



Meu estimado sr. director,

[6734]

Ainda não passou um mês desde que lhe mandei da capital uma carta de recomendação redigida a meu favor por um paxá muçulmano, Rauf Paxá, que governa em nome do quedive do Egipto um território cinco vezes mais extenso que a Itália; e enviei-lha com a intenção de dar a conhecer ao mundo a protecção de que goza a Igreja Católica entre os muçulmanos, especialmente sob a bandeira do quedive do Egipto. Sim, estes governantes daqui reconhecem que a nossa santa religião contribui poderosamente para o bem moral e material dos povos; e sobretudo nestes lugares há a convicção de que os estabelecimentos das nossas missões católicas são a mais esplêndida representação da civilização europeia na África Central.

Agora, com o mesmo fim, envio-lhe um novo documento que, sem dúvida, servirá para a glória de Deus e da Igreja; trata-se de outra carta que ontem à tarde me chegou do mesmo governador-geral e que, sem mais, lhe transcrevo traduzida na nossa língua:

[Segue-se a carta de Rauf Paxá. Veja-se a carta ao Card. João Simeoni de 17-05-1881, n.o 1069, § 6731-6733].


[6735]

Como no território da missão que fundámos em Gebel Nuba vagabundeiam muitos ladrões e assassinos, a pedido dos chefes daí e dos nossos missionários, solicitámos a ajuda do Governo para os expulsar e para velar pela nossa segurança. Amanhã eu parto para aquelas tribos com missionários e com a superiora das Irmãs. O tráfico de escravos recebeu um grande golpe, graças às fortes medidas que tomou o actual quedive do Egipto; sobre esse assunto, escrever-lhe-ei lá mais para diante, se Deus me der vida. Rogue, etc.



† Daniel Comboni

Bispo e vig. ap. da África Central


1073
P.e José Sembianti
0
El-Obeid
18. 05. 1881

N.o 1073; (1028) - AO P.e JOSÉ SEMBIANTI

ACR, A, c. 15/121


N.o 21

El-Obeid, 18 de Maio de 1881


Meu caro padre,

[6736]

Mando-lhe aqui aberta a carta às Peccati, que, rogo-lhe, tenha a paciência de ler, não vá acontecer que, com a pressa (e com as insónias devido ao calor sufocante, etc.), eu me tenha enganado nalguma coisa. Segundo o verdadeiro bem da Nigrícia e as intenções de um autêntico benfeitor dela, parece-me que se deveria sugerir às Peccati – aproveitando sempre o momento oportuno – que o dinheiro que, para os casos urgentes, se lhes der a mais possa ser contado depois da morte de uma delas, dando à sobrevivente, por exemplo, não as 2500 liras, mas 2000 ou 1800, por ser já só uma pessoa e não duas. Isso não o posso fazer eu hic et nunc, depois do que se passou; mas o senhor sim, quando considerar a altura certa, como aquele que em consciência tutela zelosamente os interesses da Nigrícia. Cogita. Encontro-me ainda aqui porque ainda não vieram os cameleiros. Morreram-me em Nuba três dos camelos que foram para lá (103 táleres) e tenho que arranjar outros. Os meus sete soldados de cavalaria estão há uma semana à minha espera.


[6737]

Ultimamente mandei-lhe a si a carta que me dirigiu Marzano, ou seja, a descrição do novo templo consagrado a Nossa Senhora do S. Coração, etc. Juntei-lhe também um fragmento da carta em francês que me escreveu P.e Artur, em que me falava da frequência dos sacramentos em Cartum e que convém incluir no próximo número dos Anais. Agora mando-lhe uma nova e estupenda missiva que escreveu Rauf Paxá a 10 do corrente, a qual mostra a alta posição de que goza a Igreja Católica no Sudão e o respeito que se lhe tem, em contraste com a atitude desses barrabás dos governos europeus, sobretudo os da França e da Itália. Para Lião mandei o desenho interior e exterior da igreja realizado aqui por um protestante gavaziano [da Igreja Livre de Gavazzi] que está connosco. Talvez P.e Luís me entregue em breve uma fotografia da fachada, que tirou esta manhã.


[6738]

Desculpe por não responder às suas cartas: estou afogado de correspondência com os ministros do Egipto e com Rauf Paxá, a quem telegrafei esta manhã para que ao contingente de cem soldados com um oficial seja atribuído um inspector europeu – um excelente católico que está aqui –, para fazer as coisas em regra...

[Aqui falta um pedaço de folha]


[6739]

...Para Verona quer assim, porque para Verona eu tinha encarregado Squaranti quando estava comigo em Cartum. Mas Squaranti conhecia Verona melhor que eu e tinha melhor cabeça que P.e Bartolo. Depois diz-me que faz uma prova se lhe agradar, quanto ao mais, quer ser livre de voltar à Europa quando quiser e até de se desvincular da missão. Que o Senhor o abençoe. Entretanto, suplicou-me que lhe mandasse a autorização de regresso (que lhe mandei) para voltar com Calisto. Realmente a sua saúde deixa a desejar e se tivesse vindo para aqui sofrer o que... [Faltam palavras]... já teria morrido.



[Falta meia folha]

[Escrito na margem esquerda]: Maestro a Pimazzoni e não a ele.

Rogue por


Seu a...† Daniel Comboni


1074
P.e Francisco Giulianelli
0
El-Obeid
18. 05. 1881

N.o 1074; (1029) - A P.e FRANCISCO GIULIANELLI

ACR, A, c. 15/28

El-Obeid, 18 de Maio de 1881

Estimado Giulianelli,

[6740]

Depois dos três mil francos não recebi mais nem um cêntimo. Escrevi-lhe, juntando uma carta para Holz, para lhe pedir seis mil francos. Mas não vi dinheiro nenhum nem de si, nem de Holz e estou em grandes apuros.

O senhor fez mal em escrever para Lião e Colónia a pedir ajuda. A sua súplica a essas Sociedades não fará com que acrescentem um cêntimo mais ao que decidiram entregar depois dos relatórios e rogos do Vicariato Apostólico. Devia era ter escrito aos seus conhecidos com quem eu não estou relacionado: então, sim, receberia algo e um pouco mais do que obteria eu.


[6741]

O senhor deve mandar-me sempre as cartas e quanto chegar de Lião, Colónia, Viena, sociedades benfeitoras, etc., como fazia P.e Bartolo, porque, embora vão, por ordem minha, dirigidas a si, é a mim que pertencem, pois é baseado nelas que eu faço as minhas petições cada ano. Portanto, envie-me as cartas que receber de Lião, Viena, Colónia, etc.

Até nova ordem minha, isto é, enquanto no Cairo forem tão poucos, ordeno-lhe que não compre na Europa mais provisões ordinárias, como queijo, presunto, enchidos, etc., à excepção de tomate em conserva ou macarrões de Nápoles ou algo para enviar para o Sudão. Pode mandar para Suakin, mas sem ninguém a acompanhar, um terço do vinho comprado, dirigindo-o ao sr. A. Marquet, que é o meu verdadeiro procurador.


[6742]

Recomendo-lhe a máxima economia: não gaste mais que o estritamente necessário. Do dinheiro que recebeu em Julho de Lião mande já 6000 francos para Verona, ao P.e Sembianti, dê outros 6000 a Bonavia (se for possível, uma parte em Agosto ou depois) e fique só com 2000 para as necessidades do Cairo: todo o restante mande-mo a mim para Cartum. E igualmente todo o dinheiro de Colónia ou de Viena (o primeiro que chegar até Agosto) mandá-lo-á para mim. Obedeça cegamente às minhas ordens e não como fez quando lhe ordenei que mandasse todo o dinheiro que recebesse; quanto aos quatro gatos do Cairo, aguce o engenho... Quantas vezes não escrevi a P.e Bonomi e a P.e Fraccaro que se arranjassem, ao pedir-lhes que não mandassem para o Cairo mais letras para pagar, e eles lá se arranjaram e confiaram em Deus, e Deus ajudou-os!


[6743]

Depois de o senhor ter pago para as necessidades do Cairo 18 000 francos e mais, com o arranjar-se eu entendia dizer: «Agora que pagou as dívidas do Cairo, contraia outras, e mandando-me a mim todo o dinheiro, deixe que eu possa pagar as minhas dívidas no Sudão.» Não era isto razoável e justo? Eu fi-lo mil vezes com os superiores do Sudão, onde tenho despesas ingentes, e eles obedeceram porque confiavam em Deus. Tanto mais o esperava eu de si, que tanto roga ao Senhor com palavras e desejos ardentes. Mas vejo que está muito atrás na confiança em Deus e na obediência e que os nossos bons missionários do Sudão têm maior confiança. Porque o senhor, como homem fraco e sem confiança em Deus, não só me dirigiu a mim as suas queixas (ao superior fale-lhe sempre de maneira clara e franca, tal como sente, para que ele com a sua lucidez o ajude e dirija) mas também as expôs aos meus subordinados, como fez com P.e Bartolo e talvez com outros. Eu não o repreendo de nada, mas pensava que o senhor confiasse mais em Deus e fez como aquele padeiro que disse ao meu superior no colégio: «Senhor, nas coisas espirituais acredito em Deus e nas coisas temporais nos napoleões de ouro.» A P.e Artur, o superior de Cartum disse-lhe também que se arranjasse e ele lá se arranja e não me pede mais dinheiro.


[6744]

Alberto Sebastião já partiu do Cordofão para regressar à Europa, para se tornar sacerdote. Queria sê-lo a todo o custo: mas durante toda a viagem a El-Obeid e durante a sua estada aqui mostrou tanta soberba, teimosia e desobediência, que, com essa maneira de ser, eu não o ordenaria, nem mesmo que tivesse toda a ciência de São Tomás. Tendo-lhe eu dito que, por agora, não lhe podia dar dinheiro, porque não o havia nem há, ele, contra a minha vontade e a despeito de todos, partiu com dinheiro encontrado. E desde esse momento deixou de pertencer à nossa sociedade. De modo que proíbo-lhe recebê-lo e alojá-lo em nossa casa, bem como dar-lhe dinheiro, nem sequer um cêntimo, nem para viver no Egipto nem para ir para a Europa ou para outra parte, e isto contrariis quibuscumque non obstantibus.


[6745]

Por caridade, pergunte aos Superior dos Jesuítas se recebeu aquela letra cambial da Baviera que eu lhe mandei para o seu colégio.

Saúdo e abençoo de coração a minha prima Faustina, a quem não tenho tempo de escrever, mas que, em contrapartida, me deve escrever amiúde, coisa que essa cabecinha tapa-buracos não faz desde há tempos. Abençoo as outras Irmãs, o Pedro, os irmãos, etc., e desejo ao ex.mo delegado apostólico muitas felicidades no dia de S. Luís, o do seu onomástico.


[6746]

O senhor tenha mais fé em Deus e mais caridade para connosco e mande-nos dinheiro. Entretanto, recomendo-o ao Coração de Jesus e peço-Lhe que lhe conceda a fé que o senhor não tem: tem uma fé mais exterior que interior. Mas esforce-se e rogue a Jesus, que lhe concederá tudo.

Mande-me dinheiro. Dê a P.e Bartolo tudo o que quiser e desejar para ir para a Europa. Se tivesse vindo para El-Obeid, teria cá deixado a vida; até eu quase a deixei...

A nova igreja do Cordofão é estupenda. Já mandei a sua descrição para Roma, Verona, Colónia, etc. Louve a Jesus.


† Daniel bispo e vig. ap.


1075
Card. João Simeoni
0
El-Obeid
20. 05. 1881

N.o 1075; (1030) - AO CARDEAL JOÃO SIMEONI

AP SC Afr. C., v. 9, ff. 133-138


N.o 8

El-Obeid, 20 de Maio de 1881

Em.o e Rev.mo Príncipe,

[6747]

No meu estabelecimento do Cairo, o meu excelente missionário P.e João Dichtl formou e instruiu nas coisas da religião e em italiano um negro de uns treze anos, a quem, com a licença de mons. Ciurcia e seguindo o critério e mandato do P.e Hermenegildo, coadjutor e guardião do Cairo, eu baptizei à minha passagem pelo Cairo.


[6748]

Tendo encontrado nele sólido juízo, piedade religiosa, inteligência e aplicação e, após ouvir o conselho dos meus companheiros, de um padre jesuíta e de muitos outros religiosos que o conheceram, dirijo-me à exímia caridade e ardente zelo de V. Em.a rev.ma para lhe suplicar que se digne fazer com que o Santo Padre o admita no Pontifício Colégio Urbano da Propaganda Fide para o próximo ano escolar 1881-1882.


[6749]

Na firme esperança de que a caridade de V. Eminência me concederia esta graça para o bem do meu árduo e trabalhoso Vicariato, permiti que o dito jovem negro se transferisse em Março passado para o meu instituto de Verona, a fim de que lá receba o conveniente ensinamento e preparação para que esteja em condições de entrar nesse Pontifício Colégio.

Chama-se Pedro Farag e espero que esteja à altura do sublime fim da sua vocação, que sente desde há tempo, de abraçar o estado eclesiástico para suar e morrer pelos negros.


[6750]

Os camelos de que estamos à espera há duas semanas para ir para Gebel Nuba não nos chegam, porque a maior parte desses animais está consumida e fraca pela sede, devido à grande carestia de água que aqui reina. Já escrevi ao governador-geral a dizer-lhe que é preciso tomar grandes medidas, que certamente são possíveis. Entretanto, eu gasto cada dia de 15 a 20 escudos em água, que às vezes não se encontra e os rapazes choram de sede e pedem de beber. A mim, como bispo e vigário apostólico, forçam-me a aceitar um pouco de água para me lavar, mas tem que me durar para três ou quatro vezes e, depois, essa mesma água é bebida pelos negros. É impossível exprimir quanto sofremos devido à sede, ao calor, ao sufoco, em especial eu que sou forte e gordo e que tenho (como dizia mons. Vespasiani, bispo de Fabriano e Matellica, referindo-se à sua barriga) um barril que me pesa e que, para cúmulo, nunca tenho apetite e durmo muito pouco.


[6751]

Mas sinto um grande conforto em ver que todos os meus missionários (excepto Rosignoli, de Frascati, que age assim assim, ama as suas comodidades, mas é razoavelmente bom padre e ficará na missão enquanto aguentar; agora está em Gebel Nuba; exceptuo também P.e Rolleri que está doente e que à primeira febre que o colheu a dois dias de Cartum quis voltar para aí, de onde, quinze dias depois, me pediu para regressar à Europa para se curar); sinto um grande conforto, dizia, em ver todos os missionários e todas as Irmãs sempre alegres, contentes e dispostos a sofrer e morrer. Eles e elas falam de fome, sede, doenças e morte como de coisas belas. E estou convencido de que, quanto à abnegação e espírito de sacrifício, nenhuma missão tem missionários tão sólidos como a minha, quer sejam seculares quer regulares. Para contar com um missionário e dizer que se pode dispor dele na África Central ou Equatorial ou interior, antes é preciso que passe, pelo menos, dois anos no campo de batalha. Se lutar durante dois anos, então pode-se contar com ele. Não se deve dar muito peso aos fervores da Europa (isto aplica-se a todos os institutos). Por exemplo, P.e Rolleri esteve onze anos no Egipto, nunca queria vir para a África Central: no Egipto está-se melhor que na Europa. Mas quando estava já aqui, à primeira febre e apenas a um mês e meio da sua chegada, pede para regressar à Europa; com isso revela que não é um bom missionário da África Central, onde se deve carregar a cruz, como condição sine qua non, para cumprir o próprio dever.


[6752]

Não é para falar mal de ninguém, porque eu quereria que todos fizessem muito bem à África, minha amante, ou até a amassem mais que eu; mas, como homem prático e de experiência nas coisas sobre a África (porque me parece que se prestou uma confiança excessiva, total, para além dos dados reais), antes de emitir um justo e verdadeiro juízo sobre as missões, milagres e coisas de mons. Lavigerie e dos seus missionários de Argel na África Equatorial, atrevo-me a aconselhar a exímia bondade de V. Eminência que vá lenta, pausadamente e com pés de chumbo, como certamente teria feito com a sua peculiar perspicácia e com a sua experiência prática dos homens, das coisas e das santas missões, o nosso sapientíssimo e chorado pai e superior, o Eminentíssimo Barnabó. Vossa em.a rev.ma e os em.mos cardeais da Sagrada Congregação, movidos pela mais ardente, distinta e verdadeira caridade apostólica, sinal dos sucessores dos Apóstolos e dos que se sentam ao lado do vigário de Jesus Cristo, favoreceram todas as não suficientemente ponderadas e justificadas petições desse eminente prelado, cujo juízo e solidez, assim como a sua caridade para com os seus irmãos bispos missionários, não estão certamente à altura da sua dignidade. E, respeitosamente, permito-me ter o receio de que na realidade os resultados fiquem reduzidos a números menores que os apresentados.


[6753]

Sinceramente, para mim seria um prazer que ele convertesse toda a África e ficaria contente de ser o seu último servidor; mas as notícias que recebo do Nyanza Vitória certamente não são boas. Esse P.e Livinhac, superior do Nyanza Vitória, que é, sem dúvida, um homem de valor, com o qual se fez bem em contar, pois compreendeu que não é possível as coisas correrem como se pensava; e dizem-me que ele e os seus companheiros não se encontram em muito boas águas. Segundo fui informado, apesar de estarem lá já há dois anos, ainda vivem em cabanas e não dispõem ainda de uma casa como a que eu construí em Cartum para os rapazes negros. Tais são as notícias chegadas a Cartum com o último vapor de Ladó. Rogo de coração a Jesus e Maria por esses missionários, a fim de que tenham sucesso.


[6754]

Como V. Em.a me tinha ordenado, apenas chegado eu a Cartum, P.e Luís Bonomi deixou de ser vigário-geral, do que se alegrou muito esse humilde missionário. Nenhum tem tanta abnegação e espírito de sacrifício como ele, embora careça de bons modos em certos momentos. Apresso-me a beijar-lhe a sagrada púrpura, etc., etc.


Seu dev.mo, hum.mo filho

† Daniel Comboni bispo e vig. ap.


Ficaria contente de que as notícias recentemente recebidas do Nyanza fossem falsas. Rezemos e esperemos.


1076
P.e José Sembianti
0
El-Obeid
21. 05. 1881

N.o 1076 (1031) - AO P.e JOSÉ SEMBIANTI

ACR, A, c. 15/122



J. M. J.



El-Obeid, 21 de Maio de 1881



[6755]

Com desgosto fico a saber pela sua última carta que está falto de dinheiro e que não poderá ir avante até Julho. P.e Giulianelli, que mantém total silêncio, não me mandou mais que três mil francos desde que eu parti do Cairo. Em Cartum e em El-Obeid vejo-me e desejo-me para ir aguentando a marcha; e, embora aqui não tenhamos um cêntimo de dívida, todos os dias são precisos dez ou mais táleres para água e ontem não os havia. Assim que S. José tem que cumprir o seu dever. Não peço graças, mas justiça. O senhor esteja tranquilo e alegre, e confie em Deus. Com este correio saem algumas cartas que não serão inúteis. Se alguém lhe enviar dinheiro para que mo mande a mim, entende-se que com o mesmo o senhor deve atender às necessidades de Verona e de Sestri. O resto tenha-o à minha disposição e segundo as minhas ordens.


[6756]

Ao tratar com S. José uma pessoa tem que lidar com um gentil-homem; e José é um cavalheiro tal que primeiro pensa no espírito e nas nossas almas, como sendo o substancial da obra, e depois no dinheiro. Sempre foi um homem formal e agora deve sê-lo para mim, que estou em bastantes apuros. Mas, tendo-me José tirado de tantos apertos, haveria agora de me deixar atrapalhado? Oh, não! Em suma, soframos um pouco por amor de Jesus, porque a cruz de Jesus, ou um só pedacinho dela, vale mais que todos os tesouros do universo. Entretanto, o senhor reze e faça rezar. Quero escrever para Praga, e depois de ter falado em meu favor (já que charitas incipit ab ego), quero recomendar as sacramentinas de Verona; e isto por espírito de interesse, porque quem sabe quanto rezarão por nós?! Saúdo e abençoo a todas, a P.e Luciano, etc., e no Coração de Jesus sum miser


† Daniel ep.pus


1077
Card. João Simeoni
0
El-Obeid
22. 05. 1881

N.o 1077; (1032) - AO CARD. JOÃO SIMEONI

AP SC Afr. C., v. 9, ff. 139-144

N.o 9

El-Obeid, 22 de Maio de 1881



Em.mo e Rev.mo Príncipe,

[6757]

Finalmente, graças à pronta ajuda do Governo, temos no nosso pátio todos os camelos para ir para Gebel Nuba. Para aí partirei dentro de duas horas com missionários e Irmãs e esta noite descansaremos ao pé de um colossal baobá (Adansonia) que fica a cinco horas daqui.

Como na minha última lhe falei dos planos e das obras de mons. Lavigerie e do tempo que é necessário antes de emitir um recto juízo sobre a realidade das coisas, sobre o verdadeiro resultado, etc., etc., e dado que agora só pretendo assinalar-lhe um assunto diferente, que diz respeito a outra parte da África, ao Egipto, deixando para depois da minha visita pastoral a redacção de um relatório exacto, que, sem dúvida, oferecerá matéria de estudo à S. C. sobre o muito que se fez, sobre o muito mais que resta fazer, sobre uma organização mais sábia das missões africanas, especialmente das da África Central e sobre um problema interessantíssimo que a minha consciência me obriga a submeter à sabedoria da S. Congregação, o qual hic et nunc me parece um teorema, quer dizer, utrum nene expediat, e se é verdadeiramente útil ou não, se é providencial para os interesses católicos de uma parte da África Central, cinco vezes maior que toda a França, que o Governo do quedive do Egipto tenha conquistado uma parte tão grande da África interior, e se é útil que continue o seu plano, já estabelecido por Mehmet Ali, de prosseguir na medida do possível as suas conquistas no interior da África, para que, em caso contrário, eu saiba regular-me e possa exercer a minha influência – que não é pouca – perante o Divã do Egipto e perante o governador-geral do Sudão, etc., etc.; por isso, impõe-se antes de tudo que eu faça aqui a V. Eminência uma manifestação de acatamento, que é a seguinte:


[6758]

Quando escrevo propondo ou expondo o meu parecer a V. Em.a e à S. Congregação, pretendo que seja um parecer e um juízo subordinado e nunca absoluto. De modo que se V. Em.a ou a S. Congr., depois de examinarem, como lhes aprouver, qualquer das coisas que eu expuser humilde e subordinadamente, pensassem ou julgassem o contrário do que eu penso e julgo, estou disposto a recuar imediatamente, a mudar o meu parecer e juízo não rectos e a pensar e julgar como pensam e julgam V. Em.a e a S. Congregação.


[6759]

Agora, por exemplo, estou profundamente convencido de que a concessão a mons. Lavigerie de quatro pró-vicariatos apostólicos, que não poderá ocupar de maneira substancial nem em trinta anos, ainda que tivesse quatro vezes mais pessoal que actualmente, e que lhe foram dados com grave prejuízo para o meu Vicariato, ao tirarem-me a mim o principal campo de acção do meu instituto, isto é, o principal objectivo das obras e dos estabelecimentos que com tantos suores, tantos gastos e, mais ainda, com tanta ajuda da graça e guia de Deus consegui erguer; ao tirarem-me, digo, as regiões situadas entre os 9o de lat. N e o equador, das quais já dominamos, para além de vários dialectos, duas das principais línguas, o dinca e o bari (algo que os missionários franceses com todo o seu zelo não haveriam de conseguir nem em 10 anos, mesmo que o tentassem).


[6760]

E tudo isto com grave prejuízo também da minha economia, sobretudo quanto ao contributo anual da Propagação da Fé. Pois bem, essa profunda convicção minha é que a concessão a mons. Lavigerie de quatro vicariatos, sem antes ter esperado prudentemente pelo verdadeiro resultado dos esforços iniciais levados a cabo nos dois primeiros pró-vicariatos concedidos em 1878, constitui, segundo o meu subordinado parecer, um verdadeiro equívoco que cometeram V. Em.a e a S. Congregação, o que mostra que, no que se refere à África interior, ainda que na Propaganda haja toda a prudência e sabedoria humanas, todo o zelo apostólico e caridade evangélica, todo o amor a Jesus Cristo e às pobres almas negras, e todo o fervor pelas obras de Deus, de entre as quais destaco o benemérito instituto fundado pelo eminente e solícito arcebispo de Argel para a evangelização da África Equatorial, etc., faltou na S. Cong. um suficiente conhecimento do terreno a que se referia a concessão, houve um pouco de precipitação ao actuar e produziu-se nela, por um momento e sempre com santa intenção, um afastamento daquela sábia ponderação e maturação de juízo que sempre lhe foi habitual, porque para os seus santos fins não procurou a informação necessária em quem lha poderia dar (não me refiro a mim, mas a outros que sabem mais do que eu), nem perguntou primeiro, como foi sempre costume na Igreja, aos chefes de missões afectados, aos quais se pretendia retirar uma parte da sua jurisdição (e aqui, sim, refiro-me a mim). Bem entendido, claro, que isto não é um dever da S. C., mas um prudentíssimo costume, porque a Propaganda é absolutamente dona de dar, tirar e fazer o que quiser, sem ouvir nem consultar ninguém.


[6761]

Ora bem, se V. Em.a ou a S. Congregação me fizessem saber que esta minha opinião está errada e que eu não julguei rectamente, e V. Em.a e a Propaganda agiram bem e de maneira judiciosa ao fazerem o que fizeram em relação aos quatro pró-vicariatos referidos, então eu retractar-me-ia imediatamente e exclamaria de coração: asinus ego, e penso e considero bem feito, sapientíssimo e prudentíssimo o disposto por V. Em.a e pela Sagrada Congregação.

Realizada esta manifestação de acatamento, passo a outro assunto, que interessa à Igreja, ao Oriente, às missões apostólicas e até um pouco à minha obra. Exponho-o em duas palavras.


[6762]

Este é o momento oportuno, preparado pela Providência, de tomar medidas radicais para melhorar o interessantíssimo apostolado católico do Egipto e de lhe dar uma actividade que terá esplêndidos efeitos não somente no Egipto e sobre os descendentes dos seus antigos habitantes, que são coptas, mas também sobre o império etíope e sobre uma boa parte da África Central.


[6763]

Desde há muito que eu estou espantado do excessivo atraso em tomar esta essencial e sábia medida, desde há muito reclamada. Mas eu dizia cá para comigo: «Haverá razões para lá da minha escassa percepção e, portanto, inclino a cabeça.» Mas agora, depois de que V. Em.a rev.ma com sapientíssima e prudente habilidade fez com que se introduzissem no Cairo os padres jesuítas (um grande acontecimento, muito mais glorioso para a prefeitura de V. Em.a rev.ma que quatro...) e, depois de eu ver palpavelmente o que em menos de dois anos lá realizaram só dois jesuítas: o profundo conhecimento que eles adquiriram do Egipto, os seus hábeis recursos para converterem uma alta personalidade, as ideias que têm e o activo e capacitadíssimo pessoal de que podem dispor na Síria para o Egipto e, depois de ter visto muitas outras coisas, que agora me é impossível referir, etc, etc., disse cá para comigo: Este é o momento de dar o golpe mestre, decisivo, necessário, que tanto bem trará ao Egipto e tanta utilidade ao Oriente e tanta glória à S. Congregação e ao nosso muitíssimo querido cheio de zelo, sapiente e providencial Santo Padre Leão XIII. No Oriente estão prestes a acontecer grandes eventos e já vejo claro como a luz do dia que a sabedoria e a agudíssima sagacidade do nosso providencial Sumo Pontífice saberão tirar deles o máximo bem para a Igreja. O Egipto é o quartel general do apostolado católico e da civilização cristã para mais de uma quarta parte de toda a África.


[6764]

Além disso, tendo tudo em conta, eu estou bem certo de que, só com as instituições já existentes, sem aumentar o seu número com outras novas, mas dando-lhes simplesmente o conveniente desenvolvimento e pondo à frente delas um chefe cheio de Deus, da sua sabedoria e do seu amor, enérgico, activo e empreendedor e dotado de zelo e sobretudo de costas duras, para suportar todos os golpes dos adversários, se pode obter com a graça divina um bem dez vezes maior do que se obtém agora por causa do gravíssimo obstáculo que existe e que se opõe directamente ao incremento do ministério apostólico no Egipto.

E qual é esse obstáculo?


[6765]

É o monopólio franciscano que tem amarrado o apostolado católico do Egipto e impede substancialmente o seu desenvolvimento.

E qual é o remédio?...

É a muito prudente e sábia decisão por parte da S. C. e do Santo Padre de não nomear mais vigários e delegados apostólicos pertencentes à Ordem Seráfica, mas designar de agora em diante para a suprema direcção dos assuntos do Egipto prelados seculares dotados das capacidades que acabo de assinalar, os quais, armando-se de coragem e energia, aumentem as paróquias em Alexandria e no Cairo, fundem colégios de jesuítas em Alexandria, no Cairo e em Siut, criem residências e igrejas onde se pregue a palavra de Deus, aumentem o número de escolas, etc., etc. e façam outras inúmeras coisas derivadas destas obras, etc., etc.


[6766]

Esta medida essencial, que se deveria tomar imediatamente, prepararia o terreno para que em poucos anos a Santa Sé pudesse fazer algo também utilíssimo: restaurar o patriarcado latino de Alexandria, sobretudo com o objectivo de o contrapor ao lamentável patriarcado copta cismático (que hoje é encarnado por um piedoso burrinho), a fim de obter, pouco a pouco, a conversão dos coptas cismáticos do Egipto e da Etiópia.


[6767]

Aqui eu devia expor um por um os principais motivos que me levam a propor a Vossa Eminência este oportuníssimo e necessário golpe de estado e apresentar-lhe também um quadro da actual situação religiosa do Egipto, assim como um plano de acção para propor à S. C. e até para mandar quem substitua mons. Ciurcia, sucessor que devia ser nomeado quanto antes. Mas os camelos esperam-me e devo partir já para Gebel Nuba. Só acrescento que quanto aos motivos desta proposta, V. Em.a saberá vê-los e descobri-los todos. A situação actual, ou seja, as condições em que agora se encontra o Egipto no aspecto religioso, conhece-as V. Em.a melhor que ninguém; e no referente ao plano de acção para o novo delegado apostólico, a S. C. tem tempo para o elaborar com toda a comodidade, porque, antes de o pôr em execução, o recém-eleito deverá manter-se calmo e numa prudente expectativa para perscrutar, estudar, examinar e ponderar diligentemente... tudo... os homens... as coisas... e, depois, pôr mãos à obra definitiva. Precisa de um par de anos... para endurecer as costas e para receber os golpes, etc. ad gloriam Dei.

Lembre V. Em.a Rev.ma a precedente manifestação de acatamento daquele que, beijando-lhe a sagrada púrpura, se honra em declarar-se



De V. Em.a indig.mo, obed.mo filho

† Daniel Comboni bispo e vig. apostólico


1078
P.e Julio Chevalier
0
Gebel Nuba
28. 05. 1881

N.o 1078; (1033) - AO P.e JÚLIO CHEVALIER

«Annales de N. D. du S. Cœur» (1882), pp. 14-15

Gebel Nuba, 28 de Maio de 1881

Meu muito rev.do e caro padre,

[6768]

...Passo agora a falar-lhe de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Graças à poderosa ajuda desta dona do Sagrado Coração de Jesus, conseguimos, à força de sacrifícios, e entre doenças e sofrimentos, construir em El-Obeid, cidade de cerca de cem mil habitantes e capital do Cordofão, a Igreja de Nossa Senhora do S. Coração, Rainha da Nigrícia, que é o maior e mais belo templo que até agora se levantou na África Central.

É dotada de uma cobertura de pranchas de zinco galvanizado, a fim de poder resistir às precipitações torrenciais da estação das chuvas e foi construída pelos missionários, os irmãos coadjutores e os negros da nossa missão, sob a direcção de um dos mais jovens missionários, que foi o arquitecto.


[6769]

E o que sobretudo é preciso assinalar nesta obra verdadeiramente milagrosa é que na África Central não há ferramentas nem outros meios de construção, de modo que os missionários e restantes membros da missão tiveram que fazer tudo com as suas mãos e dedos, pelo que custou um imenso trabalho. Acrescente a isso a escassez de água, que nos obriga a comprá-la a elevado preço. Certamente tivemos uma protecção especial de N.a S.a do Sagrado Coração, para ter podido levar a cabo esta obra em sua honra.


[6770]

Foi também uma alegria para mim, depois de todas as penas e fadigas suportadas, ter podido celebrar os ofícios da Semana Santa e uma solene missa pontifical no dia de Páscoa na nossa bela e milagrosa igreja de N.a S.a do Sagrado Coração! Mas ainda não temos mais que a pequena imagem que me ofereceu o senhor em Issoudun, a qual se deteriorou no desastre que sofri no Nilo, quando a água entrou na nossa embarcação estragando tudo. Por isso, suplicar-lhe-ia, meu caro Padre, que procurasse uma grande e sólida de madeira, a benzesse e ma mandasse.


[6771]

...Além disso, na missão e em todas as estações o nome de N.a S.a do Sagrado Coração está em todos os lábios, pelas grandes graças obtidas mediante a sua intercessão. Este culto a N.a S.a do Sagrado Coração é devido ao grande zelo com que o propaga a minha superiora provincial da África Central, Ir. Teresa, que sempre mostrou carinho por esta devoção desde que teve a sorte de a conhecer em Osimo, Itália.


[6772]

Uma das graças mais clamorosas que recebemos foi a cura verdadeiramente milagrosa da Ir. Vitória, superiora da casa de Cartum, a quem, em Cartum, se manifestou um mal de que, segundo os médicos, devia morrer: um cancro. Depois de fazer um voto a N.a S.a do Sagrado Coração e de lhe rezar, a superiora provincial pôde realizar a muito longa e fadigosa viagem de El-Obeid para Cartum, de onde devia partir para a Europa, mas onde ficou em perfeito estado de saúde. Ser-lhe-á mandada pormenorizada notícia desta milagrosa cura.


[6773]

Outra Irmã que há aqui em El-Obeid, e que se encontrava nas últimas, curou-se também depois de rezar a N.a S.a do Sagrado Coração, há um ano, e continua a estar muito bem.

...Não tenho forças para continuar a escrever. O calor, a falta de apetite e de sono e as grandes viagens que em três meses fiz a cavalo, de camelo ou de dromedário, tudo isso me reduziu a uma situação de extrema fraqueza. Sofremos uma grande sede no Cordofão e ainda precisamos de 40 a 50 francos para comprar água suja e salobre. A mim, como bispo, ainda me dão água para me lavar, mas tem que me durar para três ou quatro vezes.


[6774]

O salão de onde escrevo esta carta é uma pequena cabana de palha, na qual, para me livrar da chuva, preciso de ter o guarda-chuva aberto. Tenho um baú por cadeira e ao lado um pequeno leito de missionário. A luz vem-me de um buraco sempre aberto, a modos de janela.

Contudo, nós somos muito felizes e eu mais que todos... aqui tenho os meus missionários e quatro Irmãs da minha congregação que não têm nenhum medo dos leões nem das hienas que nos rodeiam.


[6775]

Os povos entre os quais nos encontramos são completamente primitivos. Mas tenhamos confiança: N.a S.a do Sagrado Coração fará por eles o que nós desejamos.

Deste país primitivo escrevi e datei em 1875 a minha circular sobre a consagração do Vicariato da África Central a N.a S.a do Sagrado Coração. Também aqui erguemos uma igreja, que já está quase terminada, e que é a admiração do país: um altar será consagrado a N.a S.a do Sagrado Coração.

Adeus, meu caro padre. Abençoo-o, bem como a toda a sua comunidade e encomendo-me às suas orações.



† Daniel Comboni

Bispo de Claudiópolis i.p.i.

Vigário Apostólico da África Central


Original francês

Tradução do italiano


1079
P.e José Sembianti
0
Gebel Nuba
29. 05. 1881

N.o 1079; (1034) - AO P.e JOSÉ SEMBIANTI

ACR, A, c. 15/123

N.o 24

Delen (Gebel Nuba), 29 de Maio de 1881

Meu caro reitor,

[6776]

Ontem ao meio dia, em companhia de P.e Luís, P.e Vicente, a Ir. Amália e a Ir. Catarina, com doze camelos e outros animais, escoltado por seis soldados de cavalaria com um bazi-buzuk, montando o cavalo do próprio governador do Cordofão, S. E. Mohamed Said Paxá, cheguei a Gebel Nuba depois de quatro dias e meio de viagem; e fomos recebidos muito bem (apesar de nos apresentarmos de improviso).

Aceitei esta escolta, que me quis dar o Governo para honrar a minha dignidade e posição, também porque estes países estão infestados de ladrões e assassinos, que não param de matar. Até se pode dizer que estes povos exercem o ofício de ladrões, sem se deterem mesmo perante o assassínio de homens, mulheres, meninos e meninas, começando pelos chefes e pelo nosso cojur, o pontífice e rei, que manda os seus súbditos e até o seu filho, a roubar e fazer escravos. Assim, semanas atrás, tendo enviado com essa finalidade o seu filho, este foi capturado e posto em cativeiro; e, quando ele enviou o dinheiro para o resgatar, os Bagara roubaram também o dinheiro.


[6777]

A nossa chegada fez com que o pânico se espalhasse entre todos estes bárbaros a que, ajudados pela cruz triunfadora do mundo e dos poderes infernais, também domaremos.

Encontrei a igreja que os nossos caros P.e Losi e P.e Leão Henriot construíram muito sólida e bonita; ela é uma verdadeira maravilha para estes países.

Dentro de uns dias, acompanhado dos sacerdotes P.e Luís, P.e Losi, P.e Leão e P.e Vicente e de um ou outro leigo, partirei para Golfan e farei o percurso destes montes (em companhia também do pontífice-rei cojur Kakum) e exploraremos tudo, principalmente Carco (pátria de Bajit Miniscalchi) espécie de quartel-general da escravatura junto com Golfan e determinaremos o lugar para fundar a estação central entre os povos Nuba. Tenho que fazer isso rapidamente, porque, de contrário, já não será possível por causa das chuvas.


[6778]

Abençoo a todos e a todas. Dê lembranças da minha parte à superiora e a Virgínia e reze muito por nós. Mil respeitosas saudações ao em.mo, ao P.e Vignola, a P.e Luciano, ao pároco de S. Jorge, a todos os padres estigmatinos, a mons. Bacilieri, a Casella, etc., etc.


Seu af.mo no Senhor

† D. Daniel Comboni e vig. ap.



Quanto aos meios, espero tudo de Deus. Enquanto com a ajuda de Deus mantivermos sólido, firme e em vigor o quaerite regnum Dei, etc., tenho a certeza de que não deixará de se cumprir o haec omnia adiicientur vobis. P.e Rolleri pediu conselho a P.e Losi sobre o que devia fazer: se ficar ou se regressar à Europa. O imbecil en...

 

[Falta o resto da carta]


1080
P.e José Sembianti
0
05.1881

N.o 1080; (1035) - AO P.e JOSÉ SEMBIANTI

ACR, A, c. 20/1 n.o 21

Maio de 1881

Breve bilhete.