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Data
861
Card. João Simeoni
0
Roncegno
26.08.1879

N.o 861; (818) - AO CARDEAL JOÃO SIMEONI

AP SC Afr. C., v. 8, pp. 961-968

N.o 9

Roncegno (Trentino), 26 de Agosto de 1879

Em.o e Rev.mo Príncipe,

[5770]

Com a sua venerada carta de 14 do corrente, a n.o 5, Vossa Eminência mandava-me informá-lo sobre o sac. Carmelo Loreto e expor-lhe os motivos pelos quais eu o suspendi de celebrar missa e me convidava a dispensá-lo do juramento de servir a missão.
 


[5771]

Eu nunca o suspendi da missa, nem nunca lhe escrevi da sua voluntária e não autorizada partida da missão e ele nunca me escreveu nem me comunicou a sua chegada a Nápoles, embora soubesse que eu estava em Roma; como tão-pouco nunca me anunciou que tinha sido suspenso a divinis, salvo V. Em.a Rev.ma e ao mesmo tempo uma carta do seu pai. E contudo, nos onze meses que viveu comigo em Cartum e o tive diante de meus olhos, pude verificar que P.e Carmelo Loreto não só não possui nenhuma virtude apostólica ou sacerdotal, mas que apenas tem uma extraordinária soberba.
 


[5772]

É um homem falso, caluniador, hipócrita, invejoso, egoísta, amigo de arranjar capelinhas e sem amor pelos pobres infiéis. Este último aspecto não tem nada de estranho, dado que, depois de ter sido expulso da ínclita ordem dominicana, conseguiu, por meio do P.e Carcereri, vir para África e juntar-se à missão não com vontade de se consagrar a ela para toda a vida, mas com intenção de conseguir surripiar a sagrada ordenação e depois voltar à sua terra; e não estranho também que, dado que abandonou a missão, embora fosse o único missionário que nunca teve a febre e apesar de em todo o ano anterior e neste nunca ter estado doente. Pois bem, tendo em conta tudo isto, e o facto de que nunca cumpriu o dever que se lhe tinha imposto de se ocupar e catequizar os meninos negros (se bem que, por outro lado, me tenha ajudado com certa diligência na assistência aos doentes e nas funções paroquiais; e nisto devo dizer que tenho que o louvar), eu limitei-me a escrever ao veneradíssimo mons. Salzano, arcebispo de Edessa, residente em Nápoles, que sempre foi generoso benfeitor do sac. Carmelo Loreto, para lhe rogar:
 


[5773]
1.o Que comunique a P.e Loreto que eu o despedi da missão e que, portanto, deixou de pertencer ao meu instituto e à África Central.

2.o Que faça as devidas diligências junto do ordinário de Nápoles, a fim de que Loreto seja incorporado nessa arquidiocese, a que pertence por razão da origem.


[5774]

Com isto está incluída implicitamente a intenção declarada de que eu tencionava dispensá-lo do juramento de servir a missão.

Ora, para prestar contas a V. Em.a da rectidão e justiça do meu procedimento (e confesso que antes de tomar esta medida invoquei a luz do Senhor e reflecti com calma e ponderação), devo dar a V. Em.a algumas referências não só de P.e Carmelo Loreto, mas também do seu companheiro e colega P.e Vicente Marzano, os quais, depois de os ter ordenado eu sacerdotes, planearam abandonar a missão e regressar à sua terra. Isto tiro-o duma carta de Marzano, escrita do Cordofão a Loreto, que estava em Cartum, na qual lhe sugere que faça um jogo falso e me rogue que o autorize a ir por uns meses a Nápoles, aonde, depois, o próprio Marzano não tardaria a ir ter com ele.
 


[5775]

Tendo caído nas minhas mãos esta carta autógrafa, mandei-a para Nápoles, a mons. Salzano; e talvez por isso, esse prudentíssimo e digno arcebispo terá sabiamente feito o necessário para conseguir a suspensão a divinis de Loreto, que indevidamente e contra os seus paternais conselhos tinha abandonado a missão e regressado a Nápoles e para dar assim um aviso a Marzano, a fim de que esse, considerando o pouco bom acolhimento dispensado ao seu companheiro Loreto por parte do ordinário de Nápoles, não se atreva a abandonar a missão, mas que permaneça no Cordofão. Isto me dizia querer fazer o veneradíssimo mons. Salzano, mas ainda não me comunicou tê-lo levado a cabo. E agora a informação sobre os dois.
 


[5776]

Ambos os clérigos, isto é, Carmelo Loreto e Vicente Marzano, de Nápoles, foram admitidos para a África Central em Roma, em 1874, pelo P.e Estanislau Carcereri, dos camilianos. Este levou-os consigo para o Vicariato, embora eles não tivessem ainda realizado os estudos teológicos, pelo que me vi obrigado a utilizar durante três anos e meio dois dos meus melhores missionários para lhes ensinarem as matérias teológicas.
 


[5777]

Nem o P.e Carcereri, nem os dois clérigos, nem ninguém me informaram nunca de que estes dois napolitanos eram já dominicanos professos e que tinham sido expulsos dessa santa ordem pelo rev.mo P.e M. José Sanvito, então provincial e hoje vigário-geral dos Dominicanos. Só em 1877 soube em Roma do próprio rev.mo P.e Sanvito que tinham sido dominicanos. Mas então eu pensei que só tinham sido noviços dessa ordem, enquanto ultimamente me foi assegurado que fizeram a sua profissão e que tinham sido expulsos pelo dito rev.mo padre.
 


[5778]

Durante mais de dois anos recebi excelentes informações dos superiores sobre a sua conduta; mas sempre me mostrei contrário a promovê-los até às ordens menores, porque o rev.mo P.e Sanvito, amavelmente, me tinha aconselhado a proceder com cuidado e a que não me apressasse a impor-lhes as mãos e sempre me neguei a ligar aos superiores de Cartum e do Cordofão, que me suplicavam em favor da sua ordenação. A minha negativa devia-se também ao facto de que P.e Luís Bonomi, o meu actual representante em Cartum, me tinha escrito (tinha sido seu mestre de dogmática) a dizer-me que eram hipócritas, falsos, egoístas e demasiado pouco inclinados à abnegação e mortificação que são necessárias na África.
 


[5779]

Depois do meu regresso a Cartum em Abril do ano passado, venceram-me as súplicas dos quatro superiores e as lágrimas dos postulantes, bem como o conselho do meu saudoso administrador-geral, P.e António Squaranti, em parte também porque eu tinha necessidade de bons operários evangélicos que soubessem a língua. Por isso ordenei-os sacerdotes e destinei P.e Marzano ao Cordofão, retendo comigo em Cartum P.e Loreto, a quem conheci a fundo nos onze meses em que ficou debaixo do meu olhar. De modo que o juízo que lhe dou do sac. Loreto é bem ponderado e certo.
O resto da informação enviá-la-ei amanhã, porque vai já sair o correio e não tenho força para escrever. Seu devot.mo filho

† Daniel Comboni


[5780]

Já tempos atrás, quando a carestia fazia tremendos estragos e se aproximava a tremenda epidemia que V. Em.a Rev.ma conhece, não sei se por temor ou por outro motivo, que penso inútil assinalar, apercebi-me de que se tinha formado uma capelinha secreta, quase diria uma camorra, entre os sacerdotes e leigos napolitanos, membros da missão, os quais combinaram abandonar o Vicariato e regressar à Europa e até ganharam para o seu grupo um hábil artesão das Marcas, que era bom e estava contente de se encontrar na missão. Bem cedo partiu o cabecilha, ao qual, chegado a sua casa, eu despedi para sempre, ainda que me suplicasse arrependido que queria voltar em seguida; após este, outros da camorra se foram embora, que foram incitados a abandonar a missão sobretudo por P.e Carmelo Loreto, como alguns deles me confessaram em Cartum e ultimamente em Roma.
 


[5781]

Eu, que desde há quatro meses tinha descoberto as secretas intenções destes napolitanos, observava com cem olhos Loreto e Marzano, entre os quais havia uma intensa e clandestina correspondência; eu esperava que ambos, ainda que sãos, me viriam com qualquer pretexto para também eles regressarem à Europa, segundo o plano preestabelecido.
 


[5782]
E eis que entre as cartas que, por divina disposição, vieram cair nas minhas mãos (numa das quais Marzano diz a Loreto que é preciso fingir, que ele cometerá desatinos, e grandes, que ameaçará e que depois de ter cometido esses grandes desatinos poderá, com toda a consciência, exclamar com Job: “In his omnibus non peccavi”!!!. Esta carta autografada tenho-a em Verona e estou disposto a mostrá-la), entre elas – dizia –, encontra-se aquela que, como disse mais acima, enviei para Nápoles, a mons. Salzano. Nela Marzano escreve do Cordofão a Loreto, que estava em Cartum, falando-lhe da necessidade de fazer o joguinho de falsidade e de me suplicar que o autorizasse por quatro [...]a ausentar-se da missão para ir a Nápoles e assegurava que ele não tardaria muito em segui-lo.


[5783]

Como esperava, P.e Carmelo Loreto fez com que me fosse pedida licença para poder ir a Nápoles ver o seu velho pai e até, por três vezes, ele próprio me escreveu sobre esse assunto. Eu, que já estava maldisposto, e que sabia ser ele o mais saudável de todos, respondi-lhe com um não, dizendo-lhe que esperasse até depois das chuvas. Mas ele tanto fez, tanto ameaçou, que, por fim, o meu benigníssimo vigário P.e Luís Bonomi, julgando sabiamente que era melhor que ele se fosse para casa, lhe deu a autorização e o dinheiro necessário e Loreto regressou a Nápoles.
 


[5784]

O ex.mo mons. Salzano, que tanto bem tinha feito a estes dois, e que me tinha escrito sempre exortando-me a ser um pai para eles e, agradecendo-me por os ter ordenado, teve um grande desgosto quando soube que Loreto, contra os seus conselhos, tinha regressado a Nápoles. E, depois de aprovar verbalmente a minha conduta, e de me dar razão quanto ao facto de o ter despedido da missão para sempre, quando no passado dia 6 de Julho fui a Nápoles levar ao barco a minha pequena expedição, ele disse-me que tinha intenção de fazer com que o arcebispo de Nápoles suspendesse Loreto, a fim de que Marzano, que está no Cordofão, vendo que o seu companheiro tinha sido suspenso em Nápoles, não pensasse seguir o seu exemplo, regressando também ele.
 


[5785]

Eu aprovei esse projecto e até agradeci a mons. Salzano, porque P.e Vicente Marzano, também na opinião do seu superior do Cordofão, possivelmente irá singrar bem estando longe do seu companheiro Loreto e da camorra, que agora já não existe; e talvez (sendo eu nisto secundado por seu pai) fará bom uso dos talentos que Deus lhe deu e das qualidades de que é dotado). Mas tem enormes defeitos e veremos se conseguiremos corrigi-los.
 


[5786]

Mons. Salzano já não me escreveu nada depois, mas, pela carta de V. Em.a, deduzo que pôs em execução o seu sábio plano, que eu aprovo:

1) porque P.e Carmelo Loreto fez muitos danos ao Vicariato e merece a suspensão a divinis, ao menos por um ano; e se eu fosse o ordinário de Nápoles obrigaria P.e Carmelo a voltar a fazer os estudos teológicos e pô-lo-ia durante uns anos sob a disciplina do seminário para se tornar um padre de, pelo menos, duas velas; 2) porque com esta medida talvez se salve o seu companheiro P.e Marzano, que poderia ser útil à África.
 


[5787]

Esta é a minha humilde opinião. Não obstante, sujeito tudo ao venerado juízo de V. Em.a rev.ma, a quem declaro que da minha parte o dispenso do juramento de servir a missão; assim que se pode aproveitar do benfeitor que lhe constituiu o sagrado património. Eu fico contente de não ter nada mais a ver com esse sujeito, a quem, contudo, desejo de coração boa sorte e todas as bênçãos divinas.
 


[5788]

Quanto ao resto, tenho consoladoras notícias do Vicariato, onde reina um paz invejável; e, embora haja lá muito trabalho, todos os missionários e Irmãs veroneses se encontram com saúde. Espero que o Coração de Jesus, depois de termos sofrido tanto, nos conceda grandes satisfações.

Confio que a minha cura dos banhos arsenicais de Roncegno me será benéfica e me dará forças para regressar rapidamente à África Central.

Dentro de uma semana voltarei a Verona, ao meu instituto.

Perdoe-me V. Em.a por esta longa carta e abençoe quem se declara

Seu indigni.mo e devot.mo filho

† Daniel Comboni, Bispo e vig. Apostólico


862
Mons. Pedro Capretti
0
Roncegno
27. 08. 1879

N.o 862; (819) - A MONS. PEDRO CAPRETTI

BAM, sez. manoscritti, Z 320 sup.

J. M. J.

Roncegno (Trentino), 27 de Agosto de 1879


Dulcissime rerum, meu caro P.e Pedro,

[5789]

Na volta do correio faça favor de me dar notícias sobre a saúde do santo anjo da diocese de Bréscia, porque ouvi dizer que estava mal e talvez assim continue.

Desfeito pelas febres em Roma, em Nápoles e até em Pejo, aonde fui com o bispo de Placência beber as águas, vim parar a Roncegno, após consulta médica muito séria, para tomar os banhos arsenicais.

Parece-me que aqui estou realmente a pôr termo à doença que contraí por causa dos enormes sofrimentos africanos.

Agora a salubridade na África Central é bastante boa, melhor que na Itália. Ainda prolongarei por algum tempo a minha estada em Roncegno: já que me encontro aqui e a cura vai bem, quero terminá-la como é devido.


[5790]

Foi-me expedida para aqui a sua estimadíssima de 17 do corrente. Fez uma exacta descrição do candidato Sebastião Alberto, de Saxónia. Ah, dá gosto tratar consigo tais assuntos, porque tem consciência, rectidão e conhecimento do espírito humano.

Por isso eu, evidentemente, aceito no meu instituto o seu proposto Sebastião e pode mandá-lo para Verona até já agora, dirigindo-o ao M. R. P.e Mainardi, regente do meu instituto africano.


[5791]

Recorde, não obstante, que espero me envie muitos outros saídos do seu colégio. Quando o senhor julgar que o candidato tem verdadeira vocação e o espírito adequado para as missões da África Central, mande-o logo, porque eu tenho plena confiança na sua inteligência e juízo. Entretanto rogarei sempre por si ao Coração de Jesus, a N.a Sr.a do Sagrado Coração e ao meu ecónomo Beppo, a quem ordenarei que mande dinheiro conforme o grande bem que faz.


[5792]

Muitas lembranças para os senhores bispos e para Carminati, e abençoo de coração, um a um, não só os 213 alunos que tinha no seu seminário quando da minha visita a Bréscia, mas também os que entraram depois.

No Coração de Jesus serei sempre



Seu af.mo amigo

† Daniel bispo e vigc. ap.


863
Mons. Pedro Capretti
0
Roncegno
29. 08. 1879

N.o 863; (820) - A MONS. PEDRO CAPRETTI

BAM, sez. manoscritti, Z 320 sup.

Roncegno, 29 de Agosto de 1879


Breve bilhete.

864
Cón. J. C. Mitterrutzner
0
Roncegno
29. 08. 1879

N.o 864; (821) - AO CÓN. J. C. MITTERRUTZNER

ACR, A, C. 15/81

J. M. J.

Roncegno (Tirol), 29 de Agosto de 1879



Dulcissime rerum,

[5793]

Rogo-lhe que me envie notícias de si para aqui, para Roncegno, para onde distintos médicos tiroleses, reunidos numa séria consulta, me mandaram para matar os germes da minha doença do baço que as febres africanas me causaram, as quais se repetiram terrivelmente em Nápoles, Roma, Verona e até em Pejo, nas altas montanhas do Valle di Sole, aonde fui com o bispo de Placência. Acreditava eu que os meus males eram irremediáveis porque gravibus laboribus et angustiis confectus fui. Mas, chegado de Pejo a Rovereto mais morto que vivo e com uma febre de 116 pulsações por minuto, por iniciativa de mons. Strosio e do meu patrício o prof. Bertanza (que está aqui comigo e lhe envia cumprimentos) foi chamado o prof. Manfroni, que, por sua vez, chamou o prof. Goldwin e prescreveram-me os banhos arsenicais de Roncegno, sem me garantirem de maneira nenhuma a cura. Por isso em Verona sequestraram-me ou detiveram-me a correspondência. Tomei já dezanove destes banhos e espero tomar mais onze. E pelo efeito produzido até agora, penso que me farão recuperar as forças de modo que possa enfrentar ainda durante vários anos (estou sempre disposto a morrer) o apostolado tão difícil e laborioso, como o da África Central, que tanto importa à Santa Sé. Trata-se de que inter alias aerumnas, ao longo de catorze meses, trabalhando dia e noite, não dormi nunca nem uma hora cada vinte e quatro. Recorde as suas fadigas quando partiu de Roma em 1870.


[5794]

Hoje cometi uma infracção; contra a ordem dos médicos, pus-me a escrever; mas já me sinto melhor. Penso ficar aqui até quarta-feira e, depois, irei a Verona e a Limone.

Dê-me notícias suas. Em Cartum (e em todas as estações do Vicariato) fez-se um grande funeral com missa cantada, que contou com a presença dos cônsules e de Hansal, pelo eterno descanso do santo e saudoso Vicente, anjo de Bressanone, segundo carta de P.e Bonomi, meu vigário, recebida esta manhã.

Vale et fave.



Tuissimus in Corde Iesu

† Daniel ep.pus et vic. apost.


865
Card. João Simeoni
0
Roma
16. 09.. 1987

N.o 865; (822) - AO CARD. JOÃO SIMEONI

AP Udienze, v. 193, P. II, f. 1676

Roma, 16 de Setembro de 1879


Petição de faculdade.

866
Leão XIII
0
Roma
19. 09. 1879

N.o 866; (823) - A LEÃO XIII

ASCCS, Q, Johannes N. Tschiderer, 21

Roma, 19 de Setembro de 1879


Beatíssimo Padre,

[5795]

Ainda que em todas as épocas Deus misericordioso se compraza em revelar-se nos seus santos, isso experimentamo-lo especialmente quando correm para a Igreja tempos muito tristes. E, embora seja certo que os inimigos da Igreja sempre e em todos os séculos se esforçaram encarniçadamente por erradicá-la por completo ou pô-la no maior perigo, sem dúvida, neste período em que vivemos, eles maquinam em fazê-lo tão ameaçadoramente e com tal ímpeto, que apenas pode ser salva por meio de muitas orações e muita reflexão. Contudo, o braço de Deus não fraqueja, o qual, como brevemente dissemos mais acima, sustentou, engalanou, fortaleceu a Sua esposa, por sua misericórdia, até aos nossos dias, com homens adornados de toda a santidade.


[5796]

Entre estes, sem dúvida, podemos contar uma esplêndida pérola do sagrado episcopado, João Nepomuceno Tschiderer, que, logo que saiu da adolescência, inflamado do amor de Deus e do desejo de salvar as almas, para atender mais perfeitamente a essa salvação, decidiu consagrar-se ao serviço sacerdotal. Assim, terminados os estudos filosóficos no ginásio do seu lugar de nascimento e os teológicos no Athenaeo Oenipontano e sempre com grande proveito, foi ordenado sacerdote. Desde o início do seu ministério alcançou a perfeição cristã com tal empenho que causou admiração e a todos serviu de exemplo.


[5797]

Por isso, com a maior alegria e com proveito espiritual e material, os alunos do seminário de Trento o tiveram como mestre da sagrada teologia; as paróquias de Sanir e de Merano como pastor; os cónegos da igreja catedral de Bressanone como colega e os fiéis da diocese de Bressanone como vigário-geral. No desempenho de todos estes cargos conduziu ao seguimento do Divino Pastor os alunos, os companheiros e os fiéis mediante o exemplo das suas virtudes, sobretudo da sua heróica caridade e, em toda a parte, recolheu abundantíssimos frutos.


[5798]

O Sumo Pontífice Gregório XVI, recordando felizmente tais coisas e dado que a Igreja de Trento tinha perdido em 1834 o seu pastor, pensou que João Nepomuceno era merecedor de tal dignidade e pô-lo à frente dessa Igreja. Ocupando tão alto cargo, não só não se afastou do teor de vida levado até então, mas até se entregou completamente e com amor ainda mais ardente ao exercício das virtudes cristãs, até ao ponto de ganhar com a sua discrição os próprios inimigos da religião. Todos viram que ele não se abatia nas adversidades nem se exaltava na prosperidade, mas era devoto, prudente, sóbrio, casto. Disposto sempre a fazer tudo por todos, procurava os meios e os conselhos para ajudar os desditosos. E quando se tratava da salvação das almas, ardia de caridade mais do que se pode dizer ou pensar.


[5799]

Nada havia para ele mais religioso que ir várias vezes ao dia venerar ou suplicar a Jesus suspenso na cruz ou escondido por trás do véu sacramental. Além disso, estava possuído de tanto amor pela Mãe de Deus, que a Virgem, intensamente suplicada, lhe apareceu com frequência e o cumulou placidamente de muitas graças.


[5800]

João Nepomuceno, em suma, amado por Deus e pelos homens, cheio de glória, percorreu como um gigante os caminhos do Senhor até que, completada a sua caminhada mortal, viu e concluiu o último dia da sua santíssima vida com uma morte digna dela, aos 9 de Dezembro de 1860. Todos os que o conheceram estão convencidos que se encontra entre os habitantes do Céu e proclamam-no santo.


[5801]

Assim pois, aos votos dos demais junto as minhas humildes súplicas e rogos pela introdução da causa de beatificação do Servo de Deus João Nepomuceno, príncipe bispo de Trento, da Congregação do Santíssimo Redentor, e imploro-vos, beatíssimo padre, que tenhais por bem atender tantas súplicas. A pugnar pela sua causa move-me não só quanto se diz que aconteceu antes e depois da sua morte e quanto ouvi acerca da sua santidade mas também o que eu mesmo pude ver, estimar e admirar da sua incrível caridade para com os pobres.


[5802]

Além disso, tive a subida honra de receber desse santo bispo o sacramento da confirmação em 1839 e as sagradas ordens do subdiaconado, diaconado e presbiterado no mês de Dezembro de 1854, o que sempre com agradecimento tenho lembrado e lembrarei.

Exposto isto, rogo-vos com toda a humildade que benevolamente deis a vossa bênção apostólica a mim e aos colégios ou institutos das missões para os negros, que fundei em Verona, no Egipto e em todo o Vicariato Apostólico da África Central a mim confiado pela Santa Sé.

De Vossa Santidade



Hum.mo, obrig.mo, devot.mo servo e filho

† Daniel Comboni

Vigário Apostólico da África Central



Original latino

Tradução do italiano


867
Card. Luis de Canossa
0
Roma
21. 09. 1879

N.o 867; (824) - AO CARD. LUÍS DE CANOSSA

ACR, A, c. 14/100

Louv. J. e M. para sempre. Ámen

Roma, 21 de Setembro de 1879


Em.o e Rev.mo Príncipe,

[5803]

Mal chegado a Roma, pus todo o empenho em averiguar em que ponto se encontra a causa da venerável marquesa, bem como o assunto dos ofícios dos bispos veroneses.

Quanto ao assunto dos cónegos, o card. Bartolini está fora há dois meses, em Genzano. Também mons. Caprara está ausente, encontrando-se em Alvérnia. Porém, eu escrevi em pormenor ao Em.o Bartolini, recomendando-lhe tudo segundo as instruções de V. Em.a Rev.ma; e estou certo de que o fará. A resposta sobre o tema dos cónegos depende toda dele.


[5804]

A respeito da causa, encontramo-nos no ponto em que estavam as coisas sete meses atrás. O advogado Morani terminou há sete meses o seu trabalho e apresentou-o ao vice-promotor da Fé, mons. Caprara (mons. Salvati, o promotor, é como se não existisse, e o pobre de mons. Caprara – isto fique entre nós – tem que fazer tudo), o qual, tendo já mais de cinquenta causas a que atender, e tendo que estudá-las muito, não pode satisfazer logo a todos. Eu sei em segredo, e em segredo o comunico a V. Em.a rev.ma, que mons. Caprara prometeu que, depois de terem chegado ao fim os interrogatórios sobre os mártires ingleses e sobre uma venerável dominicana, se ocupará da marquesa (postergando outras causas de que trata desde há tempo), isto é, dos interrogatórios sobre as virtudes e milagres em especial para o processo apostólico, agindo nisso – diz – rapidamente; depois passá-los-á logo ao chanceler, o advogado Franceschetti, para a redacção das cartas dimissórias que há que mandar a V. Em.a Rev.ma como delegado apostólico. Tudo isto poderá ser feito dentro de Novembro; mas não creio que antes, pois, em Outubro, a actividade em Roma é pouca.


[5805]

Quanto ao ofício dos bispos, o P.e Tongiorgi concluiu a sua parte há um ano e agora a posição está nas mãos do P.e Calenzio (a quem verei esta tarde), sacerdote do Oratório, que vive na residência paroquial de St.a Maria in Transtevere, e que prometeu terminar quanto antes a sua tarefa. Por seu lado, o P.e Tongiorgi prometeu também fazer forte pressão sobre o P.e Calenzio para despachar o assunto.


[5806]

Tanto o P.e Tongiorgi como o P.e Calenzio vão votar muito em favor dos santos bispos veroneses.

Diga-se o mesmo quanto ao ofício de S. Zeno. Só haverá alguma mudança, também por ordem e recomendação do Em.o Bartolini, sobre a segunda leitura de S. Zeno.


[5807]

Finalmente, o advogado Morani, que também o é da causa da beatificação e canonização do falecido príncipe bispo de Trento, João Nepomu-ceno Tschiderer, antecessor de mons. Riccabona (d. s. m.), suplica a V. Em.a que dirija ao Santo Padre uma carta postulatória com este fim. O postulador é o rev.mo P.e Rizzoli, geral do Prec. Sangue. Eu, que fui ordenado subdiácono, diácono e presbítero por Tischiderer, escrevi a minha.

Amanhã, depois do consistório público, saio para Corneto, Pisa, Génova e Turim, para estar dentro de uns dias em Verona. Recomendo-lhe os padres estigmatinos. Beija-lhe a sagrada púrpura



Seu hum.mo, dev. obed. filho

† Daniel bispo e vig. ap.


868
P.e Boetman
0
Verona
04.10.1879

N.o 868; (825) - AO P.e BOETMAN, S. J.

ASAT, Bélgica

J. M. J.

Verona, Colégio Africano, 4 de Outubro de 1879


Muito venerável padre,

[5808]

Estou muito agradecido à sua extrema bondade pelo bem que fez à minha humilde pessoa e à minha obra de mil maneiras, e sobretudo por me ter dado três bons membros da sua escola apostólica (da qual é também o meu caro amigo o rev.do P.e La Foresta), ou seja, Grieff, Géraud e o jovem Geniésse que – o que espero no Sagrado Coração – se tornarão bons operários de Jesus Cristo.


[5809]

O senhor conhece bem, meu caro padre, a muito fadigosa, difícil e importante obra do apostolado da África Central: Jesus Cristo morreu também pelos pobres infiéis do centro da África; e nós, com a sua divina graça, conseguiremos ganhá-los para a Igreja. Mas, para isso, precisam-se obreiros apostólicos que com alegria estejam dispostos a sofrer tudo e a morrer por Jesus para conquistar almas. Oh, que felicidade sofrer e padecer o martírio por Jesus! Na África Central temos todos os dias o meio para sofrer, tanto com as febres como com as penosas privações, para cumprir o nosso dever e salvar almas.


[5810]

E o senhor, meu caro padre, sabe que a graça de Jesus pôs no coração dos seus filhos um desejo ardente da cruz. Certamente, a cruz é dura para a nossa fraqueza; mas, por outro lado, ela constitui o caminho real para chegar a salvar almas. Quase sou levado a crer que Jesus mostrou mais sabedoria, por assim dizer, a construir a cruz que ao criar o Céu e a Terra. Ele podia ter arranjado um meio cómodo para alcançarmos o Céu; mas a sua sabedoria, o seu talento consideraram que era melhor construir a cruz para nos levar lá, e é através da cruz que os humildes apóstolos da África Central conseguirão salvar os cem milhões de habitantes que a habitam.


[5811]

Ora, dado que o senhor inculca tão bem no espírito dos seus alunos este espírito de sacrifício, de abnegação e da cruz, dirijo-me cheio de confiança à sua grande bondade para lhe rogar insistentemente que conceda à minha missão, tão difícil e laboriosa, o maior número que puder dos seus caros alunos, quer sejam sacerdotes ou estudantes de teologia, filosofia, etc. Quando o senhor julgar com a sua perspicácia e sabedoria que tal ou tal aluno é bom para o meu colégio de Verona ou para os meus institutos de aclimatação do Cairo e para o meu Vicariato, sem esperar pelo meu juízo ou aprovação, ou a aprovação dos meus superiores de Verona, mande-o directamente para Verona depois de ter avisado alguns dias antes o reitor daquele instituto ou o sr. Grieff e eu ficar-lhe-ei infinitamente agradecido. O seu critério é para mim suficiente.


[5812]

Eu tinha previsto deslocar-me a Londres e de passagem fazer uma visita a Turnhout, mas as febres e as doenças que tive até agora impediram-mo. Trata-se de que, entre as cruzes que ultimamente sofri na África Central, estive catorze meses sem dormir uma única hora das vinte e quatro do dia e da noite, e isto paga-se. Mas confio que no mês de Novembro poderei voltar para a África Central e, se fizer essa visita a Londres, irei visitá-lo à escola apostólica.


[5813]

No Cairo temos a sorte de estarem os padres jesuítas. Em Roma acabo de ver o padre geral Becks, a quem em Julho visitei em Fiesole. É um verdadeiro amigo: aos seus oitenta e seis anos tem o espírito e a cabeça de um santo à idade de trinta!

Reze e faça rezar, meu caro padre, por mim e pela África Central. Mando a minha mais sentida bênção para os seus caros alunos, enquanto no Sagrado Coração de Jesus me declaro



Seu devot.mo

† Daniel Comboni

Bispo de Claudiópolis i.p.i.

Vigário Apost. da África Central



Original francês

Tradução do italiano


869
P.e Pedro Milesi
0
Verona
05.10.1879

N.o 869; (826) - A P.e PEDRO MILESI

APT, Brescia

Verona, 5 de Outubro de 1879


Meu caro reitor,

[5814]

Tendo em conta as complicações que tenho, seria para mim um enorme prazer que se fizesse a consagração sábado próximo, 11 do corrente, e se for possível o pontifical no dia seguinte, domingo, dia 12. E em tal sentido vou escrever imediatamente também a P.e João para que se prepare.

Quem o diria! Depois de tantos meses que estou na Europa, não ter podido ir à minha terra passar uns dias!


[5815]

É uma coisa dura ser superior! Mas para servir o Senhor é preciso carregar as correntes. No céu seremos mais livres.

Saúde da minha parte todos os meus parentes e P.e Luís. Vamos ver se poderei vê-los todos em Limone numa circunstância tão extraordinária!

Adeus!



Seu af.mo

† Daniel bispo e vig. apostólico


870
Rómulo Gessi
0
Verona
10.10.1879

N.o 870; (827) - A RÓMULO GESSI

? Asmara

Verona, 10 de Outubro de 1879


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