N.o 941; (899) - A P.e FRANCISCO GIULIANELLI
ACR, A, c. 15/9
Roma, 20 de Junho de 1880
Meu estimado P.e Francisco,
Quando à administração e ao que o senhor fez nas circunstâncias não fáceis que encontrou, julgo que Deus o assistiu bastante bem. Desejaria que acontecesse o mesmo a respeito do bom governo e da boa observância dos clérigos e leigos que formam o instituto, a fim de que ninguém perdesse tempo e se estudasse o árabe muito bem e de que os artesãos fossem postos nos seus lugares e se fizessem trabalhar devidamente, procurando o cultivo do espírito. Recomendo-lhe também os dois diáconos alemães: que estudem, pois tenho posta neles muita esperança e vou levá-los comigo para o Sudão.
Em Outubro quero estar no Cordofão: urge que eu me apresse a retomar no Vicariato o meu ministério pastoral. O senhor comece a preparar tudo e meta, pouco a pouco, em caixas metade do vinho que agora há no Cairo (depois de recebido o último). A respeito do que há de P.e Bartolo, o que ele tinha guardado para circunstâncias extraordinárias, conserve-o todo até à minha chegada, porque os pobres curas do Vicariato têm mais necessidade dele.
Compre quatro peças de seda branca de Alepo ou de Damasco, seda crua, com a qual se fazem no Cairo os coftan e mande-a a Mr. Brown e Filho, banqueiros, Via Condotti, em Roma. Custa uns 15 ou 17 francos a peça.
Autorizo-o a admitir esse bom jovem alemão que está em Jerusalém, na casa nova, de nome Johann Kohaut, que foi recomendado pelo P.e Paulinus; junto umas cartas para ele. Faça com que Dichtl, a quem saudará em meu nome, as traduza para alemão.
Espero que Rosignoli já tenha chegado. Esta manhã (agora são duas da madrugada) irei à Piazza Mastai, 28, visitar Pennacchi, e pela tarde, às três, partirei para Verona.
Com as letras cambiais que lhe mandarei em Julho completará o pagamento dos cem guinéus do dr. Zucchinetti, a quem dará saudações minhas.
A última carta que recebi de si (porque estive quase sempre de viagem) é de 7 de Junho. Diga ao jovem professor árabe que me explique melhor a sua situação e a da sua irmã, porque teria muito gosto em ajudá-lo: dizem-me que é um bom rapaz. Que os dois catequistas que foram de Verona estudem bem o árabe, porque me são urgentes e, depois, que ajudem seguindo as suas obras.
Aceito pagar 8% de juros pelo dinheiro do sr. Ibrahim Khalifa, como lhe propôs o padre abade dos maronitas; mas faça o possível por lhe pagar não só os dois mil francos, mas se quiser até mais, até reduzir essa dívida a 5000 francos. Escreva-lhe para o Monte Líbano e oxalá tenha recebida a tempo o cálice que Tanfani entregou a Rosignoli para ele e que me custou 240 liras. Espero que a estas horas lhe tenha chegado a si a letra de Colónia, porque o presidente daquela sociedade perguntou-me o seu nome a semana passada. Assim pagaria também a Holz, a quem mando saudações. Por outro lado, no dia 12 de Julho mandar-lhe-ei mais dinheiro, porque o arranjarei.
Em Setembro levarei comigo os dois diáconos, mais uns catequistas e os artesãos bem preparados. Dichtl ser-me-á um secretário oportuno para o alemão; ordená-lo-ei depois no Vicariato, etc., etc.
Abençoo a todos e às Irmãs; dê mil saudações à Ir. Amália. Coragem! Ponha toda a sua confiança no Coração de Jesus e reze muito a esse divino Coração por mim, que tenho muita necessidade disso. Apresente os meus respeitos aos jesuítas. Pela terceira vez insisti ontem na Propaganda a fim de que me preparem para eles uma boa biblioteca, com livros recomendados pelo P.e Normand: insistirei uma vez mais e eu mesmo os levarei para o Cairo.
Seu af.mo † Daniel, bispo
N.o 942; (900) - A MR. JEAN FRANÇOIS DES GARETS
APFL, Afrique Central, 5
Insto. Africano, Verona, 30 de Junho 1880
Senhor presidente,
Comunico-lhe que o cónego Ortalda, de Turim, teve a bondade de me conceder 6000 francos no mês passado, num momento de necessidade, no qual eu tinha intenção de lhe pedir a si que me antecipasse essa soma à conta do exercício de 1879. Por isso rogo-lhe que retenha a dita importância de atribuição à África Central e some-a ao dinheiro destinado ao cónego Ortalda, o qual, a meu rogo, deve ter-lhe escrito o mês passado.
Partirei em fins de Agosto para retomar o meu ministério pastoral no centro da África e espero estar em Gebel Nuba no mês de Novembro. Já recuperei totalmente a saúde e reparei as perdas que sofri no pessoal devido à terrível carestia e epidemia dos anos de 1877-78-79. A carestia persiste ainda em vários lugares do Vicariato e o preço dos víveres e outros artigos de primeira necessidade é aproximadamente o dobro do normal. Mas com a graça de Deus espero que, apesar de todas as dificuldades, a missão fará bons progressos, porque soou a hora também para a África Central.
Quereria ter partido para a missão em Fevereiro passado, mas Sua Eminência ordenou-me que realizasse uns trabalhos para as missões da África e tive que permanecer aqui. A missão vai bastante bem; eu mandar-lhe-ei informações exactas sobre ela em Dezembro, depois da minha visita pastoral.
Agora não é superior dos meus institutos de aclimatação, etc. do Cairo o rev.do P.e Rolleri, que teve que se ausentar de lá por seis meses. Em seu lugar está o rev.do P.e Guilianelli, que é meu procurador no Cairo para a África Central e superior dos institutos de negros. Rogo-lhe que lhe remeta a ele as ajudas que o bom Deus me destinar.
Contudo, o complemento do subsídio da Propagação da Fé para a África Central, correspondente ao exercício de 1879, e que a obra costuma distribuir na primeira metade de Junho, tenha a bondade de mo enviar directamente para aqui para Verona, para o Insto. Africano.
Desde há algum tempo rezamos mais que nunca por essa pobre França, que está tão ameaçada pela maçonaria internacional. A Propagação da Fé é a vida da missão e o Sagrado Coração nunca vai permitir que comece a diminuir. A tormenta passará rapidamente: a França católica, a verdadeira França, rapidamente acabará por triunfar.
Exprimindo-lhe os meus sentimentos de respeito e de agradecimento, declaro-me sempre nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria
Seu devotíssimo † Daniel Comboni
Bispo de Claudiópolis i.p.i.
Vig. Apostólico da África Central
Original francês
Tradução do italiano
N.o 943; (901) - A P.e FRANCISCO GIULIANELLI
ACR, A, c. 15/10
Verona, 3 de Julho de 1880
Meu caro P.e Francisco,
Não é verdade que P.e Rolleri não voltará para o Egipto; voltará para aí porque está bem e fá-lo-á para ocupar de novo o seu cargo. Pelo menos foi o que me disse há umas semanas.
Estou muito contente com a estatística que me mandou dos residentes no Cairo, bem como com o horário. E também estou satisfeito por lhe terem chegado 5000 francos de Colónia. E irei enviar-lhe outro dinheiro mais, na próxima semana.
Diga à Ir. Amália que para a lavagem da roupa chame mulheres de fora. Faça-lhe saber que é meu desejo que ela e as outras se guardem tanto quanto possível para a África Central, para onde eu mesmo as conduzirei em Dezembro.
Ao professor árabe, mantendo fixo o seu antigo vencimento, dê-lhe agora dois napoleões ouro (40 francos) de gratificação. Depois falaremos.
Chegou aqui uma longa carta de Alberto Sebastião com cinco piastras de belos selos, porque leva sobretaxa. Diga a todos que se refreiem em escrever demasiado, tanto para não perder tempo como por economia. Explique a todos que é regra estabelecida que, para sua expedição, as cartas se levem ao superior. Em Verona pusemos cobro a isso e aqui já ninguém escreve senão com a autorização do reitor, o P.e Sembianti (que é um verdadeiro santo).
Faça estudar muito o árabe. Eu estou ocupadíssimo e não posso responder nem a uma terça parte das cartas, enquanto não chegar o meu secretário.
Transmita as minhas saudações ao P.e Pedro; a todos abençoo.
Faça, por mim, uma visita à superiora, Ir. Amália, e diga-lhe que, embora eu escreva pouco, rezo muito por ela. A minha superiora de Verona é um anjo e está cheia de bom espírito.
† Daniel bispo
Na volta do correio, envie a Brown a tela de seda (quatro peças iguais) branca ou de cor próxima do branco. Faça-o rápido, rápido! Compre-as no comércio, sem esperar obtê-las da fábrica, mesmo que já as tenha encomendado, mande rapidamente essas quatro peças.
Ninguém deve jamais ausentar-se do instituto sem permissão do superior.
† Daniel bispo
N.o 944; (902) - AO CÓN. JOÃO MITTERRUTZNER
ANB
Verona, 10 de Julho de 1880
Dulcissime rerum,
Tendo voltado de Roma, aonde fui por ordem da Propaganda para um trabalho relativo à criação de um novo Vicariato na África, a ser confiado a uma nova congregação religiosa por solicitação do rei dos Belgas (fique isto entre nós, porque o Em.o Simeoni me recomendou segredo), lembro-me agora de que estão perto as suas férias. Eu partirei para a África em Setembro, segundo o acordado com a Propaganda (eu talvez adiante a partida); mas antes desejo ter notícias exactas suas para decidir sobre a minha visita que lhe quero fazer, para me aconselhar consigo sobre o último trabalho de que a Propaganda me encarregou.
Por isso rogo-lhe que me informe dos seus projectos para as férias. E se o senhor fizesse uma visita a Verona, onde aqui no instituto teria a sua casa, eu ficaria contentíssimo e ainda mais especialmente porque desejaria apresentar-lhe o novo e muito piedoso reitor, o P.e José Sembianti, tirolês, que tanto o deseja conhecer a si.
Far-me-ia um favor se me desse informação e esclarecimentos sobre 300 florins que o senhor teria recebido de Viena e que mandou para Verona, a Grieff, em fins de Setembro de 1879. Esses florins foram remetidos para o Cairo, onde os recebeu P.e Rolleri com ordem de os destinar a Gebel Nuba e eu dei logo ordem ao superior do Cordofão para os fazer chegar a Gebel Nuba e assim se fez. (Equivalem a 630 francos ouro, em que foram cambiados.) É para as contas gerais.
Portanto, rogo-lhe que me escreva a dizer-me de onde recebeu tal soma (parece que de Viena), se vinha destinada para o tal fim e como se recolheu esse dinheiro: se de donativos ou por meio de jornais, etc.
Queriam fazer-me crer que tal importância foi obtida pela venda de selos usados de cartas (carimbos postais). Oxalá fosse certo! Com o imenso número de relações que temos, poder-se-ia arranjar dinheiro facilmente, se se soubesse quem compra os selos, etc. Em qualquer caso, desejaria saber quem foi a pessoa que lhe enviou de Viena a dita importância e a finalidade dessa generosa esmola e se era para Gebel Nuba.
Diga-me onde está Sua Alteza princ., a quem beijo as mãos.
Em Roma correu voz (e foi ouvido também pelo reitor do Colégio Urbano da Prop. Fide) que o Em.o Simeoni tinha mandado publicar as 49 composições em 49 línguas que foram recitadas perante o Papa e isto por ordem do próprio Papa; mas depois não se fez nada. Mando-lhe o caderno das línguas, etc.
Os três nossos fizeram sensação, especialmente Daniel Sorur (que está mais alto que eu, como Sharif), o qual tem uma grande inteligência. Recitou estupendamente em dinca, sua língua, e em akka; João em galla e em akka e Artur Morsal em bari e em língua etíope; marco no caderno com uma cruz os nossos três.
Cumprimentos a Stigler, etc., etc.
Tuissimus
† Daniel ep.pus et vig. ap.
S. José, patrono da Igreja Católica.
Para aliviar o acabrunhado povo cristão, implorou Pio IX a protecção de S. José, o íntegro e puro esposo de Maria. «Tenha o meu povo na crua guerra – disse – como soberano protector aquele que Cristo escolheu um dia para o seu fiel guarda.» E desde o Tibre até às mais longínquas regiões ressoou a sua voz. Ouviram-na a África Central e os povos negros. E, alegres, cantaram os triunfos da paz e da justiça, de S. José e de Pio IX, etc., etc.
N.o 945; (903) - A P.e FRANCISCO GIULIANELLI
ACR, A, c. 15/11
Verona, 10 de Julho de 1880
Estimado P.e Francisco,
Li e considerei atentamente o horário que me enviou e vejo que tudo foi mudado e destruído no regulamento que durante doze anos governou as minhas casas do Cairo. Talvez tudo tenha começado com a chegada do velhaco ex-capuchinho Benincampi, que foi consigo para o Cairo e que foi justamente expulso ou mandado voltar pelo Em.o Bartolini devido à sua conduta.
Agora mando-lhe um novo e muito suave horário que o senhor, como superior interino, fica encarregado de fazer cumprir. E aqui creio meu dever adverti-lo de que o senhor não só é administrador mas também superior e regulador da disciplina dos membros do instituto. Com essa intenção o destinei para ocupar provisoriamente o posto de P.e Rolleri.
É meu desejo que os que estão em teologia estudem por sua conta a teologia, e especialmente os tratados que são mais necessários e aqueles de que se sabe menos. Quanto ao Francisco, deve estudar muito o latim.
Eu não faço ordenar ninguém até à minha chegada em Setembro. Então, invocado o nome de Deus, farei o que me ditar a minha consciência e nunca agirei contra ela. Avaliar se um está maduro ou não para a sagrada ordenação não cabe ao candidato, mas unicamente aos superiores; e não me importa se no Cairo há alguém que se atreve a criticar um bispo no seu sagrado múnus. Diga isto aos meus caros filhos Dichtl e José, que mostram pouco juízo ao quererem ir a Beirute quando acabarem as aulas ou ser ordenados por outros que não seja o seu próprio bispo.
A razão por que se perde tempo com estas coisas e em pensamentos vãos é que se reza pouco e mal. Convide, pois, os dois que estão em maioribus a recolherem-se devidamente, a estudar e a rezar como melhor puderem, a ter paciência, que é virtude essencial para o missionário, e a exercitarem a santa humildade.
Convide também a todos a não me fazerem gastar tanto dinheiro no serviço postal.
Todos lhe devem entregar a si as cartas que partem para o correio; e só o senhor ou quem o senhor quiser é que deve meter as cartas no correio. Para a teologia, encarregue P.e Paulo de ajudar os dois clérigos. Se eles se portarem bem, eu serei o primeiro a alegrar-me; mas confesso que me dói muito a ideia de que, depois de me terem jurado obediência a mim, insistam tanto e me escrevam certas cartas que me aborrecem sobremaneira. Tenho algumas delas sobre a mesa e fazem-me sofrer. Diga-lhes que façam bem a meditação, o exame de consciência e a leitura espiritual e que se exercitem na humildade e em negar a própria vontade. Quem não se nega a si mesmo vai para a casa do Diabo. Todos devem mortificar-se e mais o missionário, porque, de contrário, nunca ganhará almas para Deus. Por outro lado, que os leigos e os catequistas respeitem os clérigos e os sacerdotes.
Li as duas enormes cartas de vinte folhas que o tontinho do Sebastião escreveu a José e a Titz. Achei preferível não entregá-las, porque estão cheias de maluqueiras e de pormenores não convenientes. Numa dessas cartas havia cinco piastras de sobretaxa e multa. E queria tornar-se padre, sem sequer saber o elementar!
Eu, para nossa Senhora de Setembro, estarei no Egipto.
Portanto, cumpra também a sua missão de superior, dou-lhe a minha bênção. De França mandaram umas letras cambiais a P.e Bartolo, não sei se firmes ou não. O certo é que contêm muitos milhares de francos para mim e para a missão.
Vá ao correio e, se estiverem, faça-as reexpedir ao mesmo P.e Bartolo Rolleri, para Placência.
Saudações a P.e Pedro. Abençoo a todos.
O senhor deve prover P.e José de ceroulas e de outras roupas de que verdadeiramente precisa.
Em geral, quando alguém tiver uma real necessidade, quer se trate de membros do insto. masculino ou do feminino, deve o senhor atendê-la. P.e José escreve-me que lhe solicitou ceroulas, etc. Por que não proporcionar-lhas? Provisoriamente o senhor é superior e ecónomo. As coisas vão por si.
Seu dev.mo † Daniel bispo
Que o horário seja fixado na parede no lugar habitual das reuniões.
N.o 946; (904) - A DEMÉTRIO PRADA
D. Prada, «De Milão ao país da goma arábica» Milano 1919, p. 16
Verona, Insto. Africano, 17 de Julho de 1880
Il.mo senhor,
Recebi aqui em Verona (aonde cheguei há uns dias) a sua carta de 30 de Junho, na qual me diz que os Risgalla lhe entregaram uma caixinha que contém penas de avestruz. Rogar-lhe-ia muito que mas mandasse rápido, na volta do correio, por já as ter prometido.
P.e Luís Bonomi escreve-me manifestando que se julgou no dever de pagar a Piaggia umas 630 liras (ainda que não tenha aceite o convite da Sociedade Milanesa de Exportação Comercial para ir a Shoa) pelo gasto efectuado na viagem desde o território dos Berta, no Nilo Azul, até Cartum. E acrescenta: «Paguei 110 táleres a Piaggia e fi-lo por dever, em virtude do encargo recebido, etc., de que serão testemunhas também Prada e Medici, que com o capitão Casali insistiram em que eu o antecipasse.»
No caso de eu me dirigir à dita benemérita sociedade para cobrar esse dinheiro, estou certo de que por atenção para comigo terá o senhor a gentileza de atestar tal coisa, o que eu lhe rogaria.
Pobre Fraccaroli! Como o senhor sabe, morreu quase de repente em casa do sr. Marquet. Tremendo apuro para mim comunicá-lo aos seus pais, que são muito bons.
Alegro-me muito de que os meus missionários o tenham tratado bem. Mas não todos são como o senhor. Houve aí gente, até no campo do jornalismo, que depois de ter recebido gentilezas e acolhimentos superiores às minhas forças, com a mais negra ingratidão me causaram grandes desgostos. Mas não importa: nós fazemos o bem por um fim supremo, sem nos preocuparmos de que alguém não o saiba agradecer.
À espera das plumas e da sua carta, fica seu devot.mo
† Daniel Comboni
Bispo e vig. ap.
N.o 947; (905) - A MR. JEAN FRAÇOIS DES GARETS
APFL, Afrique Centrale, 6
Verona, 20 de Julho de 1880
Senhor presidente,
Recebi a sua benévola carta de 13 de Julho e ontem chegaram-me do Egipto três letras cambiais cuja importância total ascende a 55 921,52 francos, pelo que lhe estou infinitamente agradecido.
Peço-lhe perdão por ter aceite do cónego Ortalda 6000 francos, como adiantamento do subsídio para a África Central. Na verdade, eu, cá por dentro, não estava satisfeito por aceitar a generosa oferta do cónego, que desejava ajudar-me na minha grande necessidade; é que, todas as vezes que nas mesmas circunstâncias recorri directamente ao conselho central, o senhor sempre me escutou, senhor presidente, nunca deixando de me enviar o dinheiro solicitado, às vezes cinco mil, às vezes dez mil francos. De novo lhe peço perdão, senhor presidente, e esteja certo de que isto nunca mais se repetirá.
Espanta-me muito que Ortalda não o tenha informado dessa soma que me deixou quando, convidado por ele, fui a Turim pregar e celebrar missa pontifical por ocasião da festa da Propagação da Fé, a 13 de Maio passado. Talvez o pobre cónego (que tem muitos desgostos por parte do Governo italiano) se tenha esquecido de o avisar antes de se proceder ao envio dos fundos para o exercício de 1879.
Não se sabe que fazer agora? O melhor, penso, é eu devolver-lhe uma das três letras recebidas, ou seja, a de 10 921,25 francos e o senhor mandar-me outra de 4921,52 fr., retendo assim os 6000 fr. que recebi em Turim. Rogo-lhe que avise os banqueiros srs. Guerin et Fils para pagarem as duas letras, n.os 394 e 395, a primeira no valor de 12 000 e a segunda de 13 000 francos, aos banqueiros que se apresentarem com a minha assinatura.
Estou-lhe muito particularmente agradecido por este subsídio de 1879, que é generoso. Porém, está bem longe de cobrir as grandes necessidades que lhe manifestei na minha informação aos conselhos centrais.
A África Central é terrível quanto a gastos. O próprio mons. Lavigerie me contou que as suas duas expedições ao lago Vitória lhe custaram 600 000 (seiscentos mil) francos.
A carestia e a sede duram ainda na África Central e até nas cartas que recebi esta semana me avisam de que no Cordofão as nossas missões compram ainda a água muito cara. Permito-me enviar-lhe uma carta sobre a carestia e a epidemia da África Central, que escrevi a S. Em.a o card. de Canossa e da qual se imprimiram aqui em Verona 500 exemplares.
No meu relatório aos conselhos centrais escrevi o mesmo, mas mais resumidamente. Rogo-lhe que tome conhecimento disso, para no próximo exercício me mandar um subsídio maior.
Na página 45 provo que a carestia e a epidemia da África Central foram muito mais desastrosas e terríveis que as da China e da Índia e as de todas as missões do mundo. Exprimo esta ideia de maneira não categórica, ou seja, disposto a retractar-me dela se não for exacta, porque pode ter acontecido que tenha havido outras carestias e epidemias mais terríveis e que eu as não conheça.
Em todo o caso, prevejo que, chegado ao meu Vicariato, me verei forçado a suplicar-lhe o adiantamento de algumas somas à conta do exercício de 1880.
Quanto ao resto, estou muito contente de ver os missionários de mons. Lavigerie na África Equatorial, que se separa do meu imenso Vicariato; e até estou a trabalhar de acordo com a Propaganda para abrir para as Missões Africanas de Lião um pequeno campo de batalha numa parte do meu Vicariato, que o digno mons. Planque pediu a essa congregação.
O bom Deus abre à fé a África Central.
Exprimindo-lhe a minha gratidão e o meu mais profundo respeito, nos Sagrados Corações de Jesus e de Maria sou do sr. presidente, do sr. secretário Manis e do conselho central
Devot.mo servidor † Daniel Comboni
Bispo e vig. apost. da África Central
Original francês
Tradução do italiano
N.o 948; (906) - AO CÓN. J. C. MITTERRUTZNER
ANB
Verona, 23 de Julho de 1880
Petição de concessões.
N.o 949; (907) - A P.e FRANCISCO GIULIANELLI
ACR, A, c. 15/12
Verona, 24 de Julho de 1880
Meu caro P.e Francisco,
Expresse o meu reconhecimento a quantos me felicitaram pelo meu aniversário, a todos os quais eu abençoo desejando-lhes mil graças. Faça outro tanto com as Irmãs, porque eu não tenho tempo de escrever e responder.
Lembre-se que, além da administração e da direcção, está encarregado da supervisão geral. E como o senhor sozinho não consegue atender a tudo, vou-lhe proporcionar uma ajuda para a parte directiva e de vigilância. A administração é coisa totalmente sua. Mas, quanto ao resto, nomeio P.e Paulo Rosignoli, ad tempus, seu vice-reitor, até à minha chegada; quer dizer, ele vai ser aquele que faz as suas vezes e que o ajuda naquilo que o senhor não pode conseguir, mas sempre sob a sua responsabilidade.
Aos últimos dois leigos que foram de Roma como noviços, porque, de facto, ainda não fizeram o noviciado, dar-lhes-á vinho só aos domingos e festas: nos outros dias só água. E informe-me sobre eles.
Permito-lhe que destine até vinte missas por mês para dar assistência à sua mãe, à qual dei 40 liras. Não me é possível fazer mais, porque estou sobrecarregado de gastos.
Há mais de quinze dias que o senhor deve ter recebido 4000 francos que me devia Isidoro Legnani e que ele ia receber do sr. João Stogni, de Alexandria, segundo lhe escreveu a si, como consta pela Carta A em anexo.
Com o primeiro vapor mandar-lhe-ei outros 4000 francos para os depositar na casa Ades ou de outros, tal como lhe indicou P.e Luís Bonomi, a fim de que mediante um telegrama possam cobrá-los imediatamente em Cartum, como lhe escreveu ele mesmo na carta que o senhor me mandou. Recomendo-lhe especialmente este assunto. O senhor terá respondido a P.e Luís que pagou aos Frères e tudo o que ele mandou, e a Zuchinetti, etc., etc.
† Daniel bispo
N.o 950; (908) - A FAUSTINO COMBONI
AFC
Verona, 27 de Julho de 1880
Breve bilhete.