Evangelho do pão que trasborda das mãos, dos cestos (Mateus 14,13-21). Sinal a proteger com particular cuidado, narrado por seis vezes pelos Evangelhos, repleto de promessas e profecia. Jesus viu a grande multidão, sentiu compaixão dela e curou os seus doentes. Três verbos reveladores (ver, sentir, curar) que abrem janelas para os sentimentos de Jesus, para o seu mundo interior.
Is 55,1-3; Rm 8,35.37-39; Mt 14,13-21
Evangelho do pão que trasborda das mãos, dos cestos (Mateus 14,13-21). Sinal a proteger com particular cuidado, narrado por seis vezes pelos Evangelhos, repleto de promessas e profecia. Jesus viu a grande multidão, sentiu compaixão dela e curou os seus doentes. Três verbos reveladores (ver, sentir, curar) que abrem janelas para os sentimentos de Jesus, para o seu mundo interior.
Viu uma grande multidão, o seu olhar não desliza sobre as pessoas, mas pousa-se sobre no singular, vê-as uma a uma. Para Ele, olhar e amar são a mesma coisa. E a primeira coisa que erguer-se de toda aquela gente e que o toca no coração é o seu sofrimento: e sente compaixão por eles.
Jesus experimenta a dor pela dor do ser humano, é ferido pelas feridas de quem tem à sua frente, e é isto que lhe faz mudar os programas: queria ir para um lugar deserto, mas agora o que dita a agenda é a dor do ser humano, e Jesus mergulha no tumulto da multidão, sorvido pelo vórtice da vida dolorosa.
Primeiro vem a dor. O mais importante é quem padece: na carne, no espírito, no coração. E da compaixão florescem milagres: cura os seus doentes. O nosso maior tesouro é um Deus apaixonado que padece por nós.
O lugar é deserto, há é tarde, esta gente tem de comer… Os discípulos, na escola de Jesus, tornaram-se sensíveis e atentos, têm as pessoas no coração. Jesus, no entanto, faz mais: mostra a imagem materna de Deus que recolhe, nutre e alimenta cada vida, e insta os seus: vós mesmos, dai-lhes…
As emoções devem tornar-se comportamentos, os sentimentos amadurecer em gestos. Dar de comer: «A religião não existe só para preparar as almas para o céu: sabemos que Deus deseja a felicidade dos seus filhos também nesta Terra» (“Evangelii gaudium”, 182). Dai-nos o pão, invocamos nós, dai-lhes, insiste Ele. Uma religião que não se ocupa também da fome é estéril como o pó.
O milagre do pão é narrado como uma questão de mãos. Um multiplicar-se de mãos, mais que de pão. Que passa de mão em mão: dos discípulos a Jesus, dele aos discípulos, dos discípulos à multidão.
Então, abre as tuas mãos. Qualquer que seja o pão que podes dar, não o retenhas, abre a mão fechada. Imita o rebento que se entreabre, a semente que se fende, a nuvem que derrama o seu conteúdo.
Que direito têm os cinquenta mil de receber pão e peixe? O seu único título é a fome. E o pão de Deus, o das nossas Eucaristias, não o empoeiremos nunca na alternativa mesquinha entre pão merecido ou pão proibido: é o pão doado, com o arrebatamento da divina compaixão.
Pão feliz e imerecido, para os cinquenta mil naquele entardecer na margem do lago, para todos nós na margem de cada uma das nossas noites.
Ermes Ronchi
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