O Evangelho deste domingo, 29 de março, segundo João (Jo 11,1-45) procura apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. Trata-se de uma narração única, apresenta-nos Jesus em Betânia e coloca-nos diante de um episódio - um triste episódio - familiar: a morte de um homem chamado Lázaro. A família mencionada é constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro) e parece conhecida de Jesus.

Deus também chora

João 11,1-45

O evangelho do quinto (e último) domingo da Quaresma tem Lázaro como protagonista, depois da mulher samaritana e do homem nascido cego dos dois domingos anteriores. É a terceira catequese baptismal, sobre a VIDA, depois das catequeses sobre a água e a luz. Este evangelho fala-nos da ressurreição de Lázaro de Betânia, irmão de Marta e Maria e amigo de Jesus. É o sétimo 'sinal' (milagre) do evangelho de João, o mais portentoso, que funciona como uma dobradiça entre a primeira e a segunda parte do seu evangelho. A Páscoa está agora próxima, e somos convidados a meditar sobre este grande sinal, uma profecia da morte e ressurreição de Jesus.

Convido-vos a reler pessoalmente todo o décimo primeiro capítulo de João e a sua continuação natural (até 12, 11), a fim de captar alguma da riqueza da sua mensagem. E, também, para nos lembrar como tudo termina: os líderes decidindo matar Jesus e Lázaro.

Limito-me a partilhar convosco uma reflexão sobre o pranto de Jesus.

O preço da amizade

Esta página do evangelho revela-nos a profunda humanidade de Jesus. Um homem como nós, tinha amigos e cultivava amizades. A casa de Lázaro, Marta e Maria, na aldeia de Betânia, nos arredores de Jerusalém, era para ele - um homem sem abrigo - um oásis de paz e descanso. Lá ele sentia-se em casa, na sua família. "Jesus amava Marta e a sua irmã e Lázaro". Com a força desta amizade, quando Lázaro adoeceu, as duas irmãs mandaram-lhe a seguinte mensagem: "Senhor, aquele que tu amas está doente".

Mas o Amigo não se apressou! Partiu ao terceiro dia, não para curar, mas para ressuscitar: "Lázaro, o nosso amigo, adormeceu; mas eu vou acordá-lo". Os apóstolos lembraram-lhe, com razão, que ele era um homem procurado na Judeia. Na verdade, Jesus poderia ter curado o seu amigo mesmo de longe, como fez com o servo do centurião (Lucas 7). Mas a amizade requer proximidade física, e assim Jesus arrisca a sua vida por Lázaro. Na verdade, este movimento será fatal para ele.

O encontro com Marta, primeiro, e Maria, depois, é comovente. Ambas, velada e tristemente, censuram Jesus pelo seu atraso: "Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido!" Diante de Marta, Jesus consegue controlar a sua emoção, mas quando vê Maria a chorar, ele quebra-se: está profundamente comovido e, diante do túmulo do seu amigo, irrompe em choro, soluçando, de tal modo que os presentes exclamam: "Vejam como ele o amava!” O seu é um grito de amor e tristeza, mas não um grito de resignação. Pelo contrário, são lágrimas de raiva antes da morte, a mais terrível das injustiças, que Deus não queria para os seus filhos (Sabedoria 2:24). De facto, pouco tempo depois, ainda com o rosto molhado de lágrimas, ele grita: "Lázaro, sai daí!” O verbo grego usado aqui por João é muito raro na Bíblia grega. Encontra-se apenas oito vezes, incluindo seis em João, e é o mesmo verbo usado para aqueles que, poucos dias depois, clamam pela crucificação de Jesus.

Uma comunidade de irmãos e irmãs

Será que nos reconhecemos nesta história? Já vivemos esta situação muitas vezes. Vejam que aqui estamos a falar de três pessoas que são irmãos e irmãs. Não há qualquer menção a cônjuges e filhos. Esta anomalia deveria fazer-nos reflectir. Não se trata tanto de uma simples família, mas sim da relação de fraternidade na comunidade cristã, todos irmãos e irmãs (João 15,15). Lázaro é cada um de nós na nossa fragilidade, particularmente face à morte. Marta e Maria somos nós, quando choramos "com os que choram" (Romanos 12,15). O que é que Jesus faz? Ele chora connosco! Deus chora connosco! E ele é o único que, agora em Jesus, pode verdadeiramente chorar connosco porque, como Deus, conhece a nossa dor até às profundezas.

Se há taças no céu que recolhem as orações dos santos (Apocalipse 5,8), atrevo-me a pensar que há também aquelas que recolhem as nossas lágrimas. Nenhuma será derramada em vão! Pois o salmista diz: "As minhas lágrimas no teu odre recolhes; não estão escritas no teu livro?" (Salmo 56). "Todas as dores humanas, para Deus, são sagradas" (Papa Francisco, 14.10.2020).

Na Bíblia, um rio de lágrimas

O choro abunda na Sagrada Escritura. Um rio de lágrimas corre através dela. A sua nascente nasce nos olhos dos nossos antepassados Adão e Eva, frequentemente apresentados chorando em pinturas, depois de terem sido expulsos do paraíso. É um longo rio que cresce e incha até se tornar um rio em fúria nos Salmos. O Messias devia secar este rio (Isaías 25,8). Jesus, contudo, ignora esta esperança. Pelo contrário, ele transforma o choro em êxtase. Ele, um homem como nós, também chora e alimenta este rio (Hebreus 5,7), dirigindo-o, contudo, para o coração do Pai. "Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem choro, nem dor" (Apocalipse 21:4).

Conclusão?

Poderá Deus ter-se encarnado para chorar connosco? David Maria Turoldo pergunta: "Mas vós não tínheis lágrimas / a nós, pelo contrário, foi dado / chorar. / Será que foi isto a ter-vos conduzido até nós?".

Será que este evangelho nos convida a uma mudança de mentalidade em relação a Deus? A uma "passagem do Deus dos 'milagres fáceis' ao Deus que 'soluça contigo'" (Don Angelo Casati)?

"Desde aquele dia 14 do mês de Nisan, no ano 30 d.C., já não podemos dizer, quando a dor nos agarra, 'Senhor, se tivesses estado aqui...'. Porque agora ele está sempre aqui: não tem de "vir", porque nunca saiu e nunca deixou de estar aqui - como prometeu - "todos os dias", nunca deixou de nos amar, está a chorar connosco, já começou a ressuscitar-nos" (D. Francesco Lambiasi).
P. Manuel João Pereira Correia, mccj
Castel d'Azzano (Verona), Março de 2023