In Pace Christi

Serra Paolo

Serra Paolo
Data de nascimento : 30/01/1937
Local de nascimento : Mores
Votos temporários : 09/09/1959
Votos perpétuos : 09/09/1963
Data de ordenação : 28/06/1964
Data da morte : 15/07/2005
Local da morte : Kampala

Nascido em Mores, Sassari, a 30 de Janeiro de 1937, havia iniciado o percurso vocacional na sua diocese natal, para depois entrar no noviciado em Gozzano em 1957. A 9 de Setembro de 1959 emitiu os votos religiosos e seguidamente passou para Verona para o liceu, e finamente para Venegono Superior para a teologia. Em 1964, acabado de ser ordenado sacerdote, foi enviado pelo Superior Geral para terras do Uganda, onde permaneceu ininterruptamente até Dezembro de 1996.

Aprendeu bem o inglês e o luganda e revelou-se imediatamente um apaixonado pela vida missionária, ao serviço da arquidiocese de Kampala. Enfrentou as violências da guerra no sul e no norte sem medo, antes, mostrando aos soldados e aos rebeldes, em mais de uma circunstância, a mansidão de que era dotado o seu coação. O P. Paolo encontrava a serenidade interior na oração, em particular na meditação do Saltério que recitava frequentemente sozinho na capela antes da proclamação comunitária, «para saborear o mais possível – são palavras textuais suas – a profundidade espiritual de cada um dos salmos». A pastoral juvenil estava no centro das suas preocupações.

Um outro mérito do P. Paolo foi o de dar início, juntamente com o P. Francesco Pierli, ao escolasticado teológico. Foi uma empresa pioneira que surgiu em 1975. O P. Paolo cuidava da formação pastoral e missionária, conciliando as duas realidades do escolasticado e da paróquia de Mbuya; o P. Francesco prestava mais atenção ao aspecto académico, ensinando no seminário nacional de Gaba, onde também os escolásticos combonianos estudavam teologia.

Era o primeiro escolasticado comboniano em Africa e compreendia estudantes europeus, americanos, eritreus e ugandeses. Com a chegada do P. Lorenzo Carraro deu-se início também à animação missionária e vocacional.

Nos anos 90, a Conferência Episcopal Ugandesa nomeou o P. Paolo para responsável do laicado católico, ministério que desenvolveu com paixão e competência, sublinhando, em todas as dioceses que visitava, a urgência da missão ‘ad gentes’ de cada baptizado. A YCS (associação dos jovens estudantes cristãos) oferecia a metodologia e os contactos com os grupos juvenis cristãos quer em África quer na Europa. Como todos sabemos, a particular atenção do P. Paolo pelos jovens atingiu o auge entre 1985 e 1995, quando se tornou encarregado nacional da pastoral juvenil no Uganda.

Pelo que respeita à pastoral paroquial, a sua atenção orientava-se para os pobres que não eram poucos. A pastoral social estava entregue a um comité inspirado pela Comboniana Ir. Gabriella Crestani da qual espelhava, além das orientações, a grande piedade e a abertura de horizonte. A fim de envolver toda a paróquia na ajuda aos pobres, o P. Paolo organizava três celebrações penitenciais comunitárias ao ano, altura em que todas as pequenas comunidades cristãs vinham à igreja central para o sacramento da reconciliação.

Em tais ocasiões, todos os cristãos eram convidados a prover às necessidades dos pobres. Todos recordam com emoção o monte de matoke, bananas, couves, farinha, ananás e feijão deposto no meio da igreja. A paróquia de Mbuya tinha uma realidade complexa, em parte agrícola e em parte industrial, com numerosos refugiados ruandeses.

Naquele período, notou-se também um aumento de conversões ao catolicismo. Os missionários fizeram uma investigação para descobrir a causa. As respostas convergiam sobre dois pontos: primeiro, na igreja dos católicos rezava-se, as celebrações eram participadas e tinham cânticos bonitos; segundo, os católicos privilegiavam os pobres.

O P. Giorgio Previdi juntou-se ao P. Paolo e ao P. Francesco quando, com o crescimento do escolasticado e da paróquia, se tornou necessária a presença permanente de um terceiro sacerdote. O cardeal Emanuele Nsubuga considerava Mbuya uma paróquia piloto na complexa vida pastoral da sua arquidiocese. Os últimos oito anos de vida, o P. Paolo passou-os em Roma como responsável da ACSE (Associação Comboniana Serviço Emigrantes e Prófugos). Apreciando «os seus belos dotes humanos, cristãos e sacerdotais», D. Agostino Marchetto, secretário do Pontifício Conselho da Pastoral para Migrantes e Itinerantes, escreveu assim acerca do P. Paolo: «Missionário da Família Comboniana, o P. Paolo testemunhou com a vida e com a morte a sua vocação ao serviço, à e evangelização, à caridade tanto entre as populações ugandesas, quanto entre os imigrantes em Roma.

A alma apostólica do P. Paolo teve ocasião de se manifestar nos mais de trinta anos de actividade pastoral em África, de onde, significativamente, o Senhor o chamou a si. Mas também em Roma o P. Paolo deu o seu melhor, sobretudo no acolhimento dos imigrantes que bateram às portas da ACSE, continuando, com entusiasmo e abnegação, a obra providencial iniciada no longínquo 1969 pelo falecido P. Renato Bresciani. O P. Paolo deixa a todos uma importante herança, pois que convida a imitar o seu zelo apostólico para se tornar, a exemplo de Cristo e no coração da Igreja, operadores de paz, ministros do acolhimento, generosos servos do anúncio evangélico e construtores incansáveis de autêntica comunhão, sem cedências de espaço a complacências e superficialidades».

Não é por acaso, que na rede da Internet é possível ler a apresentação do seu último trabalho, uma espécie de testamento: quarenta e seis fichas para um autêntico caminho de fé para os imigrantes, um subsídio que tem por título «Juntos pela vida». Na última e longa conversa que teve com um confrade, o P. Paolo confiou-lhe o desejo que a ACSE pudesse um dia tornar-se um viveiro de vocações africanas para a África. Uma intuição espiritual, uma aventura da utopia, que este grande missionário deixa como herança, digamos assim, a cada um de nós.

O Senhor quis que em Março deste ano o P. Paolo regressasse para a África a fim de o chamar a si daquela terra a ele tão querida. Uma hemorragia cerebral truncou-lhe a vida em poucas horas. O corpo, trazido para Itália, repousa agora no cemitério da sua terra natal.