Sábado, 1 de Junho de 2024
Kitaaba Woyyicha, a Bíblia Sagrada em língua guji, foi apresentada ao público numa cerimónia muito concorrida em Adis Abeba, capital da Etiópia, no dia 12 de maio de 2024. A tradução ecuménica de toda a Bíblia para Guji teve início no ano 2000 e demorou mais de duas décadas a ser concluída. O Novo Testamento em guji foi publicado em 2007.

A equipa principal de tradutores era composta por membros das Igrejas Católica, Luterana, Luz da Vida e Palavra da Vida. Muitas outras Igrejas participaram também no projeto com apoio técnico e financeiro.

O P. Pedro Pablo Hernández, missionário comboniano, evangelizador entre os Gujis em Galcha, Haro Wato e Qillenso-Adola, durante mais de duas décadas, leu uma mensagem do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano P. Juan Núñez, na cerimónia de apresentação. «A partir de agora, o povo guji poderá ler a Palavra de Deus na sua língua materna. Isto torna-a mais familiar e mais próxima deles, mais íntima e mais querida para os crentes», escreveu. O P. Núñez sublinhou também o carácter ecuménico da tradução, «fruto da colaboração entre diferentes confissões cristãs», agradecendo ao Senhor e a todos os que tornaram possível a publicação da Bíblia na língua guji.

P. Pedro Pablo Hernández com o tradutor católico Tsegaye Hailemichael Barisso.

Tsegaye Hailemichael Barisso, o tradutor católico da missão Galcha, explicou que a equipa utilizou quatro fontes principais no seu trabalho: Good News Bible, as traduções antiga e nova em amárico e a Bíblia Oromo (em Oromo do Wollega, na Etiópia Ocidental). Utilizaram também o New Jerome Biblical Commentary.

A equipa de tradutores foi assistida por um número de consultores internacionais que os prepararam para o trabalho. «A tradução não foi um percurso fácil. Comecei quase como um miúdo e agora sou um homem feito. No início era aborrecido. Era preciso encontrar a palavra comum exata. Por vezes, era doloroso quando o orçamento mingava. Mas quando vi como as pessoas receberam a Bíblia Sagrada em guji, senti uma grande alegria e todas as feridas ficaram saradas», disse Tsegaye.

O tradutor católico sublinhou também a alegria pela experiência ecuménica. Explicou que a Sociedade Bíblica da Etiópia planeou imprimir 50 mil exemplares. No entanto, muitas igrejas juntaram-se e, com a ajuda de alguns doadores, foi possível imprimir 200 mil exemplares em dois formatos.

Kitaaba Woyyicha é uma edição conjunta da The World for the Word-Ethiopia e da Sociedade Bíblica da Etiópia. A tradução segue o cânone protestante. A Bíblia é ilustrada com uma série de desenhos que explicam algumas passagens ou conceitos bíblicos. Tem 1650 páginas. Os mapas bíblicos são a cores. A obra tem um glossário de cinco páginas que explica algumas palavras e os seus significados.

O povo Guji faz parte da família oromo. São mais de dois milhões, divididos em três grupos principais. Vivem nas montanhas e nas terras baixas do sul da Etiópia. No passado, eram pastores. Actualmente, cultivam também os seus campos.

Os Combonianos começaram a trabalhar na terra dos Gujis em 1976, assistindo ocasionalmente alguns católicos Sidama de Teticha que emigraram para Qillenso e Gosa. Quando os Sidama foram expulsos, os missionários abriram uma missão em Qillenso e começaram a evangelizar os Gujis em 1981. De Qillenso, chegaram a Soddu Abala (1984), Haro Wato (1995) e Adola (2016). Os Jesuítas, juntamente com as Franciscanas Missionárias de Maria, abriram uma missão em Gosa em 1985, que, entretanto, fecharam. Actualmente, é uma capela de Qillenso.

Texto: P. José Vieira, MCCJ
Fotos: P. Pedro Pablo Hernández, MCCJ