Neste III Domingo da Quaresma, Jesus apresenta-Se como o “Novo Templo” [João 2, 13-25] onde Deus Se revela aos homens e mulheres e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.
Do Monte Tabor ao Monte do Templo
“Não façais da casa de meu Pai casa de comércio!”
João 2,13-25
Eis-nos chegados ao terceiro domingo da Quaresma. Do deserto (para um encontro profundo connosco mesmos) subimos ao Tabor com Jesus (para um encontro transfigurador com Deus). Hoje subimos a Jerusalém, ao Templo do Senhor, para rever e purificar a nossa relação com Deus. Vamos com Jesus em peregrinação porque se aproxima a Páscoa, a festa por excelência, a festa da nossa libertação.
A primeira Páscoa, o ponto de partida
O evangelho que nos guia nesta visita ao Templo já não é Marcos, mas João. Curiosamente, o evangelista S. João situa esta Páscoa no início da vida pública de Jesus, enquanto os sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) a situam no fim do seu ministério, alguns dias antes de ser condenado e crucificado. Para S. João é o ponto de partida, para os outros evangelistas é o ponto de chegada. Este facto não nos deve surpreender, se tivermos em conta que as narrativas estão alinhadas de acordo com o objetivo catequético de cada evangelho. Note-se também que só S. João nos fala de três Páscoas durante a vida pública de Jesus (cf. Jo 2,13; 6,4; 11,55), enquanto os sinópticos falam apenas de uma, a última. O relato de João é mais articulado e fornece-nos dados históricos valiosos, enquanto os sinópticos narram o evangelho de forma mais linear, como se todo o ministério de Jesus fosse orientado e se desenrolasse em função daquela única Páscoa da sua paixão, morte e ressurreição.
Esta Páscoa é a que é conhecida como a da “purificação do Templo”. Jesus “encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas”. Perante esta visão, Jesus enfureceu-se: “fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas”. Nunca se tinha visto tal coisa desde o tempo dos profetas! O gesto de Jesus é um acto de provocação, um gesto profético de indignação. O profeta Malaquias (3,1-6) tinha dito que o Messias, “como o fogo da fundição e como a lixívia das lavadeiras”, purificaria o Templo e o culto. É por isso que os chefes religiosos lhe perguntam o significado desse gesto: “Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?”
A purificação do Templo do nosso coração
Qual é o significado profundo deste episódio para nós, hoje? Em que é que ele nos interpela? Limitar-me-ei a apresentar quatro aspectos.
1) A cólera do “Leão de Judá”. Estamos habituados a ver um Jesus “manso e humilde de coração” e, por isso, ficamos espantados e perplexos com a sua reação. Não nos apressemos a descrever esta cólera como “santa”, mas antes... saudável! Jesus, o Filho de Deus, é verdadeiro homem e conhece todos os nossos sentimentos de reação aos acontecimentos. Como é que este gesto deve ser interpretado? O evangelista oferece-nos a chave: “Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa» (Salmo 69,10). Esta cólera de Jesus põe em causa uma certa atitude nossa de “pescoço torto” e “sem espinha dorsal”. Sim, ele é “o Cordeiro de Deus”, mas é também “o Leão de Judá” (Apocalipse 5,5), e assim devem ser os seus discípulos. O nosso problema é que, quando deveríamos ser “leões”, comportamo-nos como “cordeiros”, por medo e cobardia. Quando deveríamos ser “cordeiros”, comportamo-nos como “leões”, movidos pela violência e pela agressividade!
2) A combinação de Deus com o dinheiro! “Não façais da casa de meu Pai casa de comércio!”. Eis a denúncia profética de Jesus: o deus mamon tinha-se apoderado do Templo de Deus! A Páscoa era a grande ocasião para os negócios, para a venda de animais para os sacrifícios, para a troca de moeda, para os que vinham da diáspora, e do dinheiro que circulava no Templo, onde não se podia entrar com a moeda “profana” com a efígie do César. Além disso, era na Páscoa que entrava o imposto do Templo. Naqueles dias, corria um rio de dinheiro, gerido pela classe sacerdotal, especialmente pela família dos sumos sacerdotes, Anás e Caifás. Só para termos uma ideia, o Templo de Jerusalém era considerado o maior “banco” do antigo Médio Oriente. Não nos precipitemos e pensemos que esta denúncia não nos diz respeito ou, quando muito, diz respeito à Igreja institucional. Na realidade, todos nós corremos o risco de servir o deus dinheiro e que este ídolo ocupe o lugar de Deus nos nossos corações!
3) A era dos “sacrifícios” acabou! “Tirai tudo isto daqui!”, diz Jesus aos vendedores, expulsando do Templo os animais para os sacrifícios. Mas, se não há animais, como é que se fazem os sacrifícios! Se não há cordeiro, como é que se celebra a Páscoa? A era dos sacrifícios acabou; é tempo de dar um passo em frente nesta religiosidade pagã que pretende agradar a Deus com sacrifícios. Deus é livre no seu amor; não quer sacrifícios, mas justiça, amor e compaixão! Não tomemos este passo por garantido. Todos somos tentados a pensar que Deus nos ama se... formos bons; se cumprirmos certos deveres; se formos à missa ao domingo! Certas práticas correm o risco de serem feitas com uma verdadeira mentalidade mercantil, uma forma de comprar o favor de Deus. Somos facilmente “religiosos”, mas somos lentos a ter fé!
4) Jesus, o novo Santuário. “Destruí este templo e em três dias o levantarei”, responde Jesus enigmaticamente aos chefes religiosos. Os seus discípulos só o compreenderão após a ressurreição: “Jesus, porém, falava do templo do seu corpo...” Jesus dirá à mulher samaritana: “Está a chegar a hora - e é agora - em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (João 4,23). Jesus é o novo e definitivo Templo.Já não existe um espaço e um tempo sagrados que possam circunscrever a presença de Deus. No Novo Testamento, há a convicção de que o cristão está associado a este novo Templo e à nova liturgia. S. Pedro diz: “Como pedras vivas, sois também vós edificados como um edifício espiritual, para serdes sacerdócio santo e oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1 Pedro 2,5). S. Paulo diz também: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus destruí-lo-á” (1 Coríntios 3,16-17). Actualmente, há uma consciência crescente de que não só o cristão, mas todos os homens e mulheres são um templo de Deus que deve ser respeitado!
Reflexão para a semana:
1) Confrontar-se com os quatro aspectos acima mencionados para purificar o Templo do nosso coração. Peçamos ao Senhor que intervenha em nós com o “chicote” da sua Palavra!
2) Perguntemo-nos até que ponto cresceu em nós a consciência de que cada homem/mulher é o Templo de Deus.
P. Manuel João Pereira Correia, mccj
Verona, Fevereiro de 2024
Como podemos encontrar Deus e chegar até Ele?
Neste III Domingo da Quaresma, Jesus apresenta-Se como o “Novo Templo” [João 2, 13-25] onde Deus Se revela aos homens e mulheres e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.
Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? Olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens e mulheres a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada e aponta-lhes caminhos de salvação.
ORAÇÃO
Nós Te bendizemos, Deus nosso Pai, porque habitas verdadeiramente no meio de nós. Tinhas tirado o povo de Israel da sua infelicidade, fizeste-o sair do Egipto, pelo teu servo Moisés fizeste jorrar a água do rochedo.
Nós Te pedimos: guarda-nos de toda a impaciência, confirma a nossa confiança na tua presença em nós.
Nós Te damos graças porque nos justificas quando temos fé em Ti. Nós Te bendizemos por Jesus, teu Filho, que aceitou morrer por nós, pecadores, e pelo Espírito Santo que foi derramado nos nossos corações.
Nós Te pedimos por todos os nossos irmãos e irmãs cuja esperança está ferida e que atravessam períodos de dúvida, por causa das provações que os atingem.
Bendito sejas, Senhor Jesus, Tu o Messias, o Salvador do mundo, porque nos revelas a água viva da tua presença e nos levas a adorar o Pai no Espírito e em verdade. Bendito sejas pela água do Batismo.
Nós Te pedimos pelas crianças e pelos jovens que conduzimos para Ti e por todos os futuros batizados: faz com que tenham sede de Te conhecer!