O serviço da autoridade encontra a sua força no testemunho das virtudes vividas

O Capítulo Geral recordou que o superior é chamado a ser animador da fraternidade, do discernimento e da corresponsabilidade de todos. É também promotor da «missionariedade» de cada um, das comunidades e da província. A sua principal tarefa é a de promover o crescimento de todos os missionários e das comunidades na fidelidade ao carisma da nossa vocação missionária (Carta do Conselho Geral depois da Assembleia Inter-capitular, 18; RV 102).
Hoje, recordando o pensamento de João Paulo II, há mais necessidade de testemunhas do que de palavras, mais necessidade de exemplos do que de sermões. E Bento XVI ensina que o «serviço da autoridade requer uma presença constante, capaz de animar e de propor, de recordar a razão de ser da vida consagrada, de ajudar as pessoas a corresponder com fidelidade sempre renovada à chamada do Espírito (...). O Superior, além disso, deve ajudar os seus confrades no caminho da santificação pessoal, como resposta ao Evangelho, ao carisma e à própria vocação...» (Aos Superiores Gerais, 2 de Maio de 2006).
A este ponto, permanece claro que o serviço da autoridade encontra a sua força no testemunho das virtudes vividas.
Para ser administrador fiel e servir bem os irmãos e o Senhor (cf. Lc 12, 41-48) o superior, hoje mais do que nunca, é chamado a ser:

Homem de oração

A oração é o dom a apresentar aos confrades quotidianamente: orar por eles e orar com eles.
Os evangelistas apresentam-nos Jesus que reza por e com os seus discípulos. Os Apóstolos muitas vezes eram testemunhas de que se levantava muito cedo, quando era ainda muito escuro, para se dirigir para um lugar solitário e rezar (Mc 1, 35-36). Outras vezes sabiam que Jesus tinha ido para o monte para passar toda a noite em oração (cf. Lc 6, 12).
E porventura o pedido mais significativo que Jesus recebeu dos seus discípulos foi este: «Mestre, ensina-nos a orar» (cf. Lc 11, 1). Jesus, sobretudo, reza pelos seus com afecto fraterno e profundo sentido de pertença. É edificante a oração pelos seus discípulos na última ceia: «Tu me confiaste alguns homens escolhidos do meio do mundo. Eram teus e Tu mos confiaste. Eu revelei-lhes a tua Palavra. Protegi-os e nenhum deles se perdeu... conserva-os na verdade... eu ofereço-me a mim mesmo em sacrifício por eles, para que eles permaneçam consagrados a Ti» (cf. Jo 17, 6-19).
Claramente, o superior que tem muito que fazer pelos confrades e não tem tempo para a oração, para rezar com eles e por eles... tem de ficar preocupado, porque compromete a sua vocação de animador, coordenador e guia da comunidade.

Homem de verdade

O superior deve ser sempre cioso dos valores evangélicos da vida consagrada. Ele mantém vivas e é garante das riquezas e exigências da «combonianidade». É chamado portanto a ser firme contra qualquer tipo de falsificação e hipocrisia, de abaixamento e mediocridade, de passividade e relativismo. O superior, muitas vezes, é chamado a pronunciar a última palavra para que prevaleça aquilo que é verdadeiro, justo e necessário. A ele é pedido que tome decisões, não segundo o sistema da maioria, mas segundo o critério da fidelidade ao Evangelho, ao bem comum e à defesa da verdade. A vontade da maioria, por vezes, pode ser sinal de mediocridade e acomodação, e atraiçoa a radicalidade do Evangelho e da vida consagrada. Pobre de Jesus se tivesse de ter submetido a vontade do Pai ao consentimento da maioria! Por vezes a maioria tem necessidade de ser sacudida da rotina, do já adquirido, do sempre-se-fez-assim.

Homem de esperança

O superior, sobretudo nestes tempos, é chamado a servir com espírito optimista a fim de manter viva a esperança em ordem ao futuro. Deverá valorizar cada pequeno sinal de vida presente no indivíduo e na comunidade. «O meu servo», diz o Senhor, «não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega» (cf. Is 42, 3).
O amor é precisamente isto: ausência de morte (a-mors). É tarefa do superior ler com atenção a realidade do Instituto e das pessoas, com sentimentos de fé, esperança e caridade. No Instituto os sinais da benevolência de Deus são muitos. E na realidade da nossa família comboniana os confrades virtuosos e santos são muitos. Uma leitura serena e optimista leva o superior a apreciar cada confrade, a usar de misericórdia para com os fracos, a ser simples e de fácil comunicação, a escutar sempre. Tudo isto lhe dará autoridade quando tiver de intervir com vigor e firmeza para afirmar os princípios base da vida comboniana.

Homem com a missão no coração

Devemos agradecer a Deus pelo espírito missionário visto e sentido nos superiores de cada circunscrição e superiores locais. Enquanto tivermos superiores apaixonados e amantes da missão o Instituto poderá avançar tranquilo e com a bênção de Deus e de Comboni. Enquanto tivermos superiores com coração missionário, não nos amedrontarão as fraquezas, os abandonos, os conflitos internos e aquele pequeno número que já esqueceu a missão.
O superior com a missão no coração será sempre graça missionária para a comunidade, a província e o Instituto.

Homem de encontro

O Instituto é novo, porque novos são os tempos e as pessoas; novas são as sensibilidades e nova é a geografia dos missionários combonianos, com identidades e culturas diversas. O superior, portanto, é chamado a favorecer a fraternidade missionária e o encontro entre as diversidades.
O superior tem a delicada tarefa que tinha Comboni com os seus missionários: mantê-los unidos à volta da missão, conciliando as várias origens, cultura e formação, para o bem da própria missão.
Comboni tinha para com os seus missionários a mesma paixão que nutria pela missão. Unido pela mesma fé e missão, ele amava e estimava todos os seus missionários, mesmo aqueles que lhe causavam dificuldades e problemas.
Todos, os Irmãos coadjutores, os Camilianos, as Pias Madres da Nigrizia, as Irmãs de S. José, os leigos, as instrutoras e os jovens africanos preparados no Cairo, podiam sempre encontrar em Comboni o animador e o ponto de apoio para o encontro e o encorajamento mútuo.
O trabalho apostólico e as dificuldades do Vicariato não impediam Comboni de ter presente cada um. Não só, mas ele exortava cada missionário a estar atento à paz recíproca (E 5566) e a trabalhar em perfeita harmonia com outros missionários (E 1859). Sempre em prol do bem da missão, à qual Deus tinha chamado todos, sem distinção.

Conclusão

Temos o olhar fixo no Capítulo Geral ordinário-especial de 2009. Acreditamos que neste momento do Instituto, mais do que fazer muitas e mais coisas, o que se espera de nós é a conversão pessoal. Somos todos chamados a situar-nos em estado de renascimento a favor de um serviço cada vez mais autêntico e afectivo à missão de Cristo. É importante entrar nesta nova era do Instituto como discípulos, atentos aos sinais e aos tempos do Espírito.
Algumas coincidências históricas podem ajudar a viver este tempo, como graça missionária:
- 150 anos da primeira partida de Comboni para a África (1857-2007)
- 140 anos da fundação do Instituto (1867-2007)
- 40 anos do Capítulo Geral e Especial dos FSCJ de 1969 (1969-2009).
Na Inter-capitular foi recordado que este é o tempo para ousar, arriscar e acreditar. Projectemo-nos, então, para o futuro com esperança e confiança, sobretudo porque – como nos ensina Comboni – «Deus está sempre presente e serve-se dos mais fracos, para as empresas mais difíceis» (E 3179).
15 de Março de 2007
Nascimento de S. Daniel Comboni

P. Teresino Serra

Superior Geral
Em vista das eleições provinciais de 2007 (Segunda parte)