Roma: terça-feira, 9 de Abril de 2013
O Grupo Europeu de Reflexão Teológica (GERT) organizou o 6º Simpósio comboniano em Limone, terra natal de Comboni, de 3 a 6 de Abril. Os cerca de 40 participantes – combonianos, combonianas e leigos –, vindos das várias províncias combonianas europeias, reflectiram sobre o tema “Missão comboniana na Europa: que ministérios?”
Na foto: P. Alex Zanotelli.

O Tema do Simpósio sobre os ministérios e a ministerialidade foi considerado de actualidade para a missão sobretudo no contexto das Igrejas locais da Europa. A tese dominante referia-se à ministerialidade como a realização da missão, o caminho de responsabilidade de todos e todas em comunidade e para a comunidade. A ideia que ficou foi a de que a ministerialidade nasce da fraternidade e faz crescer a fraternidade que tem ao centro a pessoa de Cristo. A ministerialidade implica o respeito pelo outro, o diálogo interpessoal, e a escuta mútua na busca das transformações que visam um mundo melhor, mundo do qual a Igreja faz parte.
No Simpósio, estavam presentes os portugueses P. António Alexandre da Rocha Pereira, P. António Aparício Cardoso e P. Carlos Alberto Nunes que se juntaram ao P. Joaquim José Valente da Cruz que fazia parte da equipa organizadora.

Partindo da experiência da província comboniana portuguesa, o missionário responsável pelo sector da formação permanente em Portugal, P. Carlos Alberto Nunes – à direita na foto acima, com o P. António Aparício Cardoso, em Limone – teceu algumas reflexões pessoais, que a seguir transcrevemos:

1. Ministerialidade: tudo é dom e bênção

A ministerialidade está directamente ligada à missão concreta em que cada um e todos estamos envolvidos mas que envolve muitas outras pessoas e organizações, que podem estar até mais bem preparadas nos seus ministérios do que nós próprios. Para nós o contexto da ministerialidade é a Igreja local mas ela não esgota a necessidade e possibilidade de ministérios. Nós recebemos os nossos dons e bênçãos mas Deus dá bênçãos e dons a todos e a todas, a cada um e a cada uma, para o serviço do Reino, para se construir um mundo melhor e se atingir o fim para o qual fomos criados. A ministerialidade é assim uma necessidade “inter gentes” e intercultural. A reflexão bíblico-pastoral, no seu contexto, dá à ministerialidade uma dimensão para além da nossa visão muitas vezes reduzida. Deus faz-se tudo para todos – na simplicidade, na misericórdia, no perdão, na liberdade, na salvação – e especialmente para os mais pobres e desfavorecidos. Estes, que não se identificam apenas com os economicamente pobres, fazem parte do grupo no qual todos nos reconhecemos e que são também os nossos primeiros destinatários.
Nesta linha, eis pelo menos dois pontos que merecem alguma reflexão:

  • A ministerialidade exige “competência” e preparação. Há organizações que têm pessoal com essa competência em certos ministérios, pelo que se deve trabalhar juntos pelo bem comum.
  • Há que ter um “profundo respeito” por cada ministério, novo ou antigo, e por aqueles que nele se envolvem.

2. Ministerialidade na e para a fraternidade

A ministerialidade realiza-se na e para a fraternidade, a comunhão, o diálogo, a reconciliação, a colaboração. Cada um e cada uma, todos e todas estamos envolvidos na ministerialidade como comunidade e “família de Deus” que somos.
Neste sentido, eis alguns pontos a merecerem uma reflexão séria:

  • A Igreja está ainda muito “clericalizada” o que dificulta o caminho comum e o envolvimento de todos e de todas. Podemos contribuir para uma nova ideia de Igreja que passa pela “desclericalização” e “descentralização”?
  • O lugar da mulher na Igreja está muito atrás do papel que as mulheres já assumem nas várias instituições da sociedade. Na Igreja, as mulheres não são ainda reconhecidas e às vezes até excluídas. Que lugar damos e que contributo esperamos do mundo feminino?
  • A rotação, o nosso “ser provisório”, pode ser um entrave à ministerialidade; e pode ser ultrapassada só se a ministerialidade for assumida “em comunidade” e não individualmente. Assumimos os nossos ministérios como comunidade?

A experiência de Portugal
Uma das “experiências de ministerialidade” mencionada no Simpósio foi a de Camarate/Apelação onde os combonianos, as combonianas, os leigos e outros institutos estão a trabalhar juntos num mesmo projecto pastoral. Considerando as várias “comunidades” lá presentes como “ministros” e “ministrados” é uma porta aberta para os ministérios que promovem a Fraternidade, o desenvolvimento, e a comunhão na fé. Queremos promover e fazer caminho juntos como Família comboniana e em colaboração com outros institutos?

O tema da formação permanente deste ano é sobre a “fraternidade”. Estes aspectos da ministerialidade estão a ser tidos em conta?

3. Ministerialidade: pessoa, espírito, mística

A ministerialidade envolve pessoas, exige um espírito de vida novo e pressupõe uma mística que vai mais além dos “novos estilos” de vida e de missão. A pessoa que é “ministro” e ministrada precisa de cultivar uma relação interpessoal especial, com espírito de amor e de busca do bem comum, no sentido de “cuidar uns dos outros” como Deus quer, com respeito e responsabilidade. Corações e braços abertos são precisos para que as nossas comunidades e casas se abram para que os ministérios possam ser partilhados e enriquecidos.
Também aqui há alguns pontos que merecem reflexão:

  • São precisas pessoas de espírito e mística para pôr em prática a “nova ministerialidade” que é toda missionária. Temos nós consciência disso, estamos abertos e procuramos imbuirmo-nos do espírito e da mística necessários? Temos consciência da necessidade de comunhão com Deus, centralidade em Cristo, para que o nosso contributo seja efectivo?
  • Temos consciência que os lugares onde vivemos e como vivemos também têm importância na ministerialidade?
  • Reconhecemos que a comunidade é ministerial e que esse facto também ajudará as pessoas e a comunidade a mudar e a crescer?
  • Estamos atentos em não fazer do factor económico um meio de controlo da actividade ministerial?

A experiência de Portugal:

  • Estamos a falar de “novos estilos de vida”, envolvidos em comunhão e colaboração no serviço à missão; de comunidades de vida renovada; de actividade missionária como Família comboniana, e com os Leigos. A ministerialidade vai por esse caminho?
  • Falou-se no Simpósio de “novos ministérios”: o mundo juvenil e vocacional; os migrantes e as minorias; os meios de comunicação; a justiça e a paz; as novas pobrezas; as campanhas sobre a água, entre outros. A família missionária comboniana presente na Europa quer enfrentar e assumir estes desafios em comunhão com outros “ministros”?

4. Ministerialidade à luz de Comboni

Daniel Comboni é para nós exemplo e caminho para a ministerialidade na realização da missão que ele nos deixou. Comboni abriu caminho para todos e todas no serviço à missão. Deu lugar e primazia à mulher em certos contextos missionários. Soube adaptar-se às necessidades ministeriais e sacrificar-se para lhes dar resposta. Ele é intercessor para que nós possamos participar na realização de ministérios ao serviço da Igreja e do mundo. S. Daniel Comboni, intercede por nós!