Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025
“Vida Nova” é uma revista sócio-religiosa, propriedade da Arquidiocese de Nampula, publicada sob a responsabilidade do Centro Catequético Paulo VI de Anchilo e dos Missionários Combonianos presentes em Moçambique. Fundada a 1 de Janeiro de 1960 pelos Missionários da Boa Nova com o nome de “A Boa Nova”, a revista passou a ser administrada, pouco tempo depois, pelos Missionários Combonianos tendo mudado o nome para “Vida Nova”. [Vida Nova]
Vida Nova é, até hoje, a única revista católica impressa e difundida a nível nacional. Com 14.000 exemplares (dados de 2024) impressos mensalmente (formato A5, 32 ou 36 páginas, capas coloridas, interiores monocromáticos), a revista tem acompanhado ininterrompidamente, durante 65 anos, as alegrias, as esperanças e a caminhada da sociedade e da Igreja moçambicana.
Recordar os 65 anos da Vida Nova
Celebrar os 65 anos da existência da Vida Nova é recordar os acontecimentos de mais de seis décadas; é interpretar e actualizar os acontecimentos de hoje à luz da Palavra de Deus e do ensinamento da Igreja para entender melhor a sociedade na qual vivemos. Começamos a nossa caminhada jubilar.
“É difícil dizer o que virá a ser BOA NOVA (nome original da revista desde 1960 até 1972). Mas as exigências duma Pastoral de conjunto, um Programa de melhor preparação dos Catequistas, uma atenção aos acontecimentos do dia-a-dia e de todos os que anunciam o Evangelho… tudo isto fará que BOA NOVA siga em frente e continue a crescer. Ela será um pouco do que todos nós formos. Dar-nos-á muito, se de nós receber tudo!” (VN 1/1971).
“Fiquemos preparados e, com o nosso novo governo, trabalhemos para que não seja um governo que impõe ordens, mas que ajuda o seu povo (Mc 13,35-36; Mt 24,42-44)” (VN2/1975). “Uma fé desencarnada é estéril; uma fé encarnada é força e vida. Temos que encontrar caminhos para que a nossa fé não seja alienação, mas esperança e compromisso” (VN 9/1975).
Vamos interpretar e actualizar
Os acontecimentos que desafiaram a vida do País desde as eleições gerais de Outubro 2024 mostraram-nos o desconforto e o mal-estar que a maioria dos moçambicanos está a viver. Ela não encontrou nas promessas eleitorais aquele tão invocado futuro melhor. Ela perdeu também a confiança absoluta no processo eleitoral e na sua organização, processo manchado por alegadas fraudes e pela insensibilidade política com vista a favorecer os interesses de poucos em detrimentos de muitos. Parece mesmo que a falta de uma visão política a longo prazo tornou os nossos governantes com uma deficiência visual para realizar o bem para todas as camadas humanas do País.
Então, para entender melhor, recordamos o que escreveu F. Fanon em 1961 no seu livro os “Condenados da terra”, no qual analisa a dominação colonial, as lutas de libertação nacionais e as perspectivas da nova governação, porque a sua mensagem é muito actual para todos os movimentos e partidos antigos e recentes de Moçambique.
“Aquele partido que se dizia servo do povo, que dizia trabalhar para o pleno florescimento do povo, assim que o poder colonial lhe entregou o país, apressou-se a mandar o povo de volta para a sua caverna… O partido não é um instrumento nas mãos do governo. O partido é um instrumento nas mãos do povo. É ele que estabelece a política que o governo aplica. O partido não é, nunca deve ser o único órgão político em que todos os membros do governo e os grandes dignitários do regime se encontrem completamente à vontade… Nunca devemos perder o contacto com as pessoas que lutaram pela sua independência e pela melhoria concreta da sua existência”.
Portanto, se a brecha entre quem está no poder e os que são governados continua a ampliar-se, se os que estão no poder estão surdos ao grito dos jovens que não vêem os seus sonhos realizados, se os que estão no poder não conseguem fazer com que as riquezas naturais que Moçambique tem possam beneficiar a todos; então, haverá sempre quem reclamará por justiça e verdade e a semente do descontentamento continuará a crescer até rebentar com a sociedade toda.
Os nossos bispos perante a situação de violência que abrangeu o País apelaram para a reposição da verdade e da justiça eleitoral, principais causas dos protestos.
De facto, a falta de confiança nos resultados do processo eleitoral foi a causa principal das manifestações organizadas pacificamente, mas, que se tornaram violentas, pela actuação de oportunistas infiltrados e pelas respostas, muitas vezes exageradas, por parte da polícia.
“A aplicação da lei eleitoral na fase do apuramento dos votos a nível nacional por parte das autoridades competentes, por si só, não pode garantir resultados fidedignos se os dados não o são. Certificar uma mentira é fraude… Nós os Bispos Católicos de Moçambique apelamos a todos os directamente envolvidos neste processo eleitoral e no conflito gerado para que façam do exercício do reconhecimento das culpas e do perdão e a coragem da verdade, o caminho que permita o retorno à situação normal de um país que se quer vivo e activo e não silenciado pelo medo da violência. Moçambique não deve voltar à violência!
O nosso país merece a verdade, a paz, a tranquilidade e a tolerância! Rezemos pela paz, sejamos artificies de justiça e testemunhas da verdade. ” (CEM).