Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024
O padre comboniano português, Feliz da Costa Martins, natural de Viseu, esteve muitos anos como missionário no Sudão. Hoje, partilha connosco a sua experiência de missão e pede-nos para rezar pelo povo do Sudão, que está a viver uma dolorosa guerra civil, esquecida por muitos governos e pelos meios de comunicação a nível mundial.

O padre Feliz da Costa Martins, natural de Viseu, esteve de missão no Sudão, país envolvido numa guerra civil que está a causar uma das crises de deslocamento mais graves em todo o mundo, pois quase 10 milhões  de pessoas foram forçadas a deixarem as suas terras e casas em busca de segurança.

A Organização Internacional para as Migrações das Nações Unidas relatou que, entre os milhões de sudaneses que tiveram de se deslocar, 70% tentam sobreviver em lugares onde há risco de fome.

O padre Feliz  escreveu aos amigos, colaboradores e benfeitores, porque quer cumprir o que lhe foi pedido pelos cristãos do Darfur, uma região no oeste do Sudão, na fronteira com a Líbia, o Chade, a República Centro-Africana e o Sudão do Sul, ao despedir-se para um período de férias em Portugal: «Ó padre Feliz, leva-lhes a nossa saudação e diz-lhes o nosso muito obrigado por te terem enviado até nós em missão.»

«Qualquer parte do mundo é terra de missão, mas eu sinto-me feliz por ter sido enviado primeiramente para o Sudão, terra onde São Daniel Comboni, o nosso fundador, viveu e morreu como missionário. Ao ler os seus escritos, tinha-me ficado impresso na memória a primeira missão fundada por ele próprio na aldeia de Delen, na região dos Montes Nuba. Mal eu imaginava que Delen, mais tarde, ia ser também a minha primeira experiência de missão. Experiência aquela que durou apenas alguns meses, pois fui expulso daquela região juntamente com onze missionários.

A causa? A religião cristã e os seus missionários não tinham direito a carta-branca.

Mas não havia que temer, pois o Sudão é um país muitíssimo grande. Uma nova missão esperava-me noutra imensa região: o Darfur. Porém, devido à guerra que aí rebentou, o nosso serviço missionário tinha-se tornado possível só num raio de ação muito limitado, à volta da cidade principal, Nyala. Não foram momentos fáceis, contudo, foram de uma experiência muito rica de missão.

Em 2001, Portugal voltou a ser campo de missão para mim. Colaborei nos seminários de Vila Nova de Famalicão e, sobretudo, Viseu, onde talvez, quem sabe, me devo ter cruzado contigo que agora me lês nesta página do jornal Família Comboniana.

Seis anos depois, estava de volta ao Sudão, novamente ao Darfur e, mais tarde, à missão de El Obeid. Até que, em fins de 2022, me foi proposto mudar de país: para o Egito. Encontrei uma realidade totalmente distinta e nova para mim, exceto a língua – o árabe – e o islão como religião de Estado. Os cristãos – coptas católicos e ortodoxos – são minoria. Além disso, há também um elemento curioso no Cristianismo: um conjunto diversificado de ritos orientais, com os quais me vou habituando a conviver.

Estou a passar um tempo de férias. É necessário parar um bocadito, descansar, cuidar da saúde. Tenho prazer em saber que vocês continuam a interessar-se pelas missões. Deus não deixa ninguém sem recompensa. Da minha parte, fiquem certos(as) de que vos tenho presente na oração.»

Agora, o padre Feliz ficará, uma vez mais, em missão em Viseu (Portugal).