Padre Claudino Ferreira Gomes: “Chegámos do nosso safari missionário já de noite”

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Sábado, 17 de Julho de 2021
Chegámos do nosso safari missionário já de noite, eram as 19h00. Tudo correu bem, com as pessoas… Na ida, andámos a apanhar todos os pregos da estrada! Um pneu furado no descampado… pneu mudado… mais dois quilómetros, outro pneu esvaziado num instante… Um taximan (condutor de moto que funciona como taxi) que passava entregou a outro o passageiro que levava e pegou em dois professores da minha equipa missionária. O do meio pegou no pneu (grande e pesado) da Toyota Cruiser ao colo e aí vão três homens e um pneu numa moto.

Ficou comigo o motorista, ex-chauffer de camiões e pai de um dos nossos estudantes de teologia, com outro membro da equipa, a tratar de tirar o pneu estragado. Chega um homem jovem, na sua moto. Vinha dos campos e transportava um valente tronco de árvore para lenha e um saco de produtos agrícolas. O Sr. Mapenzi, o nosso condutor, fê-lo parar: “Tenho aqui o padre, que tem que ir para o trabalho dele, na igreja católica de Cantine…”. O homem fez uns metros para trás, descarregou tudo no pátio de uma casa à beira da estrada e…: “Senhor Padre, faça favor de subir”.

Um momento do encontro de hoje, já pelas 14h00. Este jovem, formador dos responsáveis dos grupos,
é professor… desempregado, coisa bem frequente por estas bandas.

Na viagem de uns 6km, apresentou-se Jean Baptiste, responsável da juventude da parte da Câmara Municipal de Cantine: “o protestante leva o católico, os dois cheios de alegria”. “O que quereis que vos façam os outros, fazei-o vós a eles… Como está na Bíblia”, comentava o meu taxista improvisado. Com a perda de tempo por causa dos furos, cheguei bastante tarde… e fizemos logo o encontro do grupo de jovens e adolescentes missionários. Vi que ninguém tinha uma Bíblia.

Hoje, depois da segunda missa, a das crianças (às centenas), passei por todos os grupos de crianças e adolescentes que se reúnem cada qual numa sala de aulas da escola primária. Os ‘formadores’ da catraiada nunca ‘viram’ uma Bíblia nas próprias mãos. Cheguei ao Grupo Missionário. Os que foram comigo todos levaram a própria Bíblia. Mas os de lá… zero. Então disse a estes: “cada um dos grupos aqui representados (todas e todos adolescentes bem crescidas/os e jovens) tem que ter a sua Bíblia”. Uma Bíblia custa 15 dólares (quase 15 euros, uma fortuna para esta gente desendinheirada). “Cotizem-se, façam o que quiserem, mas daqui a um mês, quero ver isso bem adiantado!”. Depois alertei os responsáveis das comunidades católicas dessa área e, no regresso, o pároco: “se os protestantes e as Testemunhas de Jeová todos têm a Bíblia, porque a não têm os católicos?”.

Padre Claudino Ferreira Gomes.

Eu quero ver se, com algumas ajudas que me venham a ser enviadas, ajudo esta gente a adquirir a própria Bíblia. Por exemplo, eles arranjam 10 dólares e eu colaboro com os outros 5. Mas isso só quando tiver dinheiro disponível. Entretanto, continuámos a garantir formação bíblica, litúrgica e sobre os sacramentos, tudo em chave missionária. Na enorme quinta agrícola da paróquia, com mais de mil palmeiras, imensa área para cacau, muitas bananeiras, arroz de sequeiro, etc, encontrámos uma papaia já madura…

Hoje, também, no fim da segunda missa, abençoei e impusemos às adolescentes do Grupo Missionário os lenços da cabeça, insígnia da fase de formação em que se encontram. Quem falava era ora eu ora o Sr. Charles, casado e com dois filhos, que trabalha na Administração da Diocese, departamento trabalhadores, salários, etc.

P. Claudino Ferreira Gomes, desde o Congo
Domingo, 30 de Maio de 2021
[Combonianum]