Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2022
O ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude «a não ser no sincero dom de si mesmo» aos outros (Fratelli tutti 87). O Papa Francisco no capítulo III da Fratelli tutti, recorda-nos que por natureza estamos feitos para transcender no amor autêntico na doação gratuita no serviço aos nossos semelhantes. Em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar (1Cor 13,1-13).

A vivência de este amor leva-nos a viver como irmãos, uma única família unida pelos vínculos da fraternidade universal, já não existem fronteiras, mas sim acolhemo-nos mutuamente na nossa diversidade cultural, social, religiosa, económica, no cuidado recíproco. Toda a vida humana tem o mesmo valor. Vivemos na mesma casa comum onde todos possam ter uma vida com dignidade.

Os irmãos e irmãs mais fragilizados, os despossuídos, os empobrecidos, devem ter uma particular atenção da nossa parte. A OCPH presente em Camarate, nasce neste contexto de realidades humanas.

Estes últimos cinco anos de experiência de missão em Camarate, têm sido para mim transformantes e desafiantes. Tive que começar a viver uma nova forma de vida comunitária, uma nova forma de orar, de sentir de pensar, viver mais ao ritmo da agenda de Deus, viver no tempo dos irmãos mais necessitados entrar mais no misterioso sacramento da presença de Jesus no pobre. Jesus ensina-me que sou eu que necessito do meu irmão pobre, é o meu irmão a minha irmã pobre, que me ajuda a reencontrar de novo o sentido da minha vocação de irmão missionário. Se nos aproximamos dos irmãos pobres é para saber estar com eles em comunhão, então aproximamo-nos mais do mistério de Deus, do mistério do humano.

Ao envolver-me de uma forma mais próximo da realidade dos irmãos e irmãs despossuídos, dos que vivem pelo milagre de Deus, tem vindo a produzir em mim uma transformação de tal forma que me obriga a viver e a sentir a vocação e o ministério como irmão missionário Comboniano com uma consciência mais desperta para um novo acontecer de Deus.

Com a pandemia ficou mais visível a decadência de todo o sistema político económico e social do nosso país, não havia respostas para as urgências humanitárias, todo o sistema ficou bloqueado, não conseguia dar resposta às inúmeras necessidades das famílias mais afetadas. De novo constatamos a importância de trabalhar em rede com outras organizações não governamentais, todos partilhavam do que tinham e o milagre da multiplicação do pão acontecia todos os dias. A solidariedade é um valor universal que devemos cuidar com maior zelo e coragem e não ter medo de seguir a desenvolver novas formas de a exercer.

Eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu grito por causa dos opressores; pois eu conheço as suas angústias” (Êxodo 3,7)

«Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4,20)

Ir. José Manuel Salvador Duarte mccj
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