Quarta-feira, 4 de Setembro de 2019
Os bispos brasileiros que vão participar no Sínodo sobre a Amazónia – que decorrerá no Vaticano, no mês de Outubro – divulgaram uma carta em que lamentam a forma como o Estado brasileiro os “criminalizou” e os tratou como “inimigos da pátria”. A hierarquia católica respondia deste modo, domingo, 1 de setembro, ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que confirmara na véspera que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) está a monitorizar – o mesmo é dizer, investigar – a preparação do Sínodo.

O Presidente brasileiro confirmou que a agência de segurança do país está a investigar a preparação do sínodo dos bispos:
“Tem muita influência política”, justifica. Foto © Firmino Cachada

Durante um almoço com jornalistas no quartel-general do exército, em Brasília, Bolsonaro afirmou, acerca do sínodo dos bispos católicos: “Tem muita influência política lá, sim.” O presidente brasileiro acrescentou que a agência de segurança investiga todos os grandes grupos, deixando implícita a ideia de que a iniciativa do Papa Francisco que decorrerá no Vaticano pode pôr em causa a soberania do Brasil.

Participam no Sínodo sobre a Amazónia, entre 6 e 27 de Outubro, bispos de nove países da América do Sul, 57 dos quais brasileiros. Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa enviam igualmente representantes a este encontro com o Papa Francisco, para debater a ação da Igreja Católica naquela vasta área da América Latina. O Sínodo dos Bispos foi instituído pelo Papa Paulo VI, na sequência da realização do II Concílio do Vaticano.

Um dos temas em discussão no sínodo de outubro será a possibilidade da ordenação de homens casados na Amazónia – uma medida que, de acordo com o documento preparatório, será circunscrita àquela região. O texto de trabalho refere que essa decisão, a ser tomada, poderá abranger anciãos “indígenas, que sejam respeitados e aceites pelas suas comunidades, ainda que já tenham uma família constituída e estável”. E “terá a finalidade de assegurar os sacramentos que acompanham e sustentam a vida cristã”, nas áreas mais remotas da região, como cita o Público.

Ao mesmo tempo que avança a preparação para o encontro no Vaticano, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, está a avaliar a possibilidade de ocorrer uma reunião de líderes políticos da região amazónica, durante a próxima assembleia geral da ONU.

Para Guterres “a situação é muito séria”. Em declarações que concedeu à margem de uma conferência da ONU em Yokohama, o secretário-geral pediu “urgentemente” que “os recursos necessários sejam disponibilizados” para combater os incêndios. “Acredito que a comunidade internacional se deve mobilizar de modo firme para apoiar os países da Amazónia, com o objetivo de apagar os incêndios o mais rápido possível e, em seguida, lançar uma política completa de reflorestamento”, explicou o secretário-geral da ONU, citado na página digital da Unisinos.

A pressão internacional, combinada com o exaltado nacionalismo e a grande preocupação com a soberania da Amazónia, têm sido apontadas como alguns fatores que levaram a administração de Bolsonaro a colocar-se na defensiva. Nas reações internacionais, também tem sido notórias a preocupação e indignação com a dimensão dos incêndios florestais na Amazónia, potenciados pelas decisões de cortar fundos para a fiscalização na floresta, tomadas pelo atual Governo brasileiro.
[Guilherme Lopes –
7Margens]