Quinta-feira, 1 de outubro de 2020
O português Pedro Nascimento [na foto] está há 16 meses junto dos Gumuz, na Etiópia, integrando a equipa dos Leigos Missionários Combonianos (LMC), ao serviço da população local. “Foi uma decisão muito pensada”, refere à Agência ECCLESIA o missionário alentejano, natural do Ervedal (Concelho de Avis).
Depois de passar pelo norte de Moçambique, Pedro Nascimento sentiu o desejo de dar mais para a missão e dar mais de si. “Senti esta vocação e, depois de ter feito um curso de dois anos com os LMC, senti este desejo de partir”, explica. A Etiópia foi um desafio assumido em março de 2019, data em que chegou à capital Addis Abeba. “Estive aí seis meses para conhecer o país, aprender a língua principal e o contacto com as Eucaristias no rito etíope”, indica.
O leigo missionário reconhece que a ideia de Missão está ainda muito associada aos religiosos e religiosas, ou aos jovens voluntários que fazem experiências de índole humanitária, mas por vezes sem grande motivação religiosa. “Nós leigos, na Igreja e na nossa fé, para além deste desejo de ir ao outro, da solidariedade e da comunhão, também temos o desejo da fé, da evangelização, de anunciar Jesus Cristo com a nossa vida”.
Pedro Nascimento sublinha a importância dos leigos porque no seu entender “conseguimos chegar a áreas onde o religioso tem mais dificuldade” daí que considera que a Igreja deve apostar mais na ação missionária dos leigos.
O território de Missão que os Combonianos lhe reservaram estava a 545 quilómetros de distância, já perto da fronteira com o Sudão; foi ali que descobriu um povo historicamente escravizado e que permanece à margem do desenvolvimento.
“É um lugar de primeira evangelização e um povo que há uns anos atrás ainda não tinha ouvido falar de Jesus”, salienta.
“É uma realidade dura, por vezes marcada pela intolerância étnica entre os povos vizinhos, mas é um momento único para falar de Jesus e para o anunciar com a nossa vida, o nosso testemunho e o nosso trabalho”, acrescenta.
O povo etíope sente o impacto da pandemia de Covid-19 e o confinamento também foi ali uma experiência que chegou aos momentos celebrativos da fé.
Pedro Nascimento recorda que a dada altura: “Estávamos sempre em casa e foram as pessoas que vieram ter connosco para pedir o reinício das atividades missionárias”.
“Percebi que Deus já ali estava, não fui eu que o levei”, aponta este jovem, que percebe nos rostos e no afeto daquele povo a presença do divino. “Este nosso povo ainda usa arco e flecha e vive da agricultura. Tem uma palhota para doze ou treze pessoas”. O trabalho missionário na Etiópia é também condicionado pelas rivalidades étnicas que continuam a gerar violência entre os povos vizinhos. Segundo a ONU, o número de deslocados internos ascende a mais de um milhão. “Um dos meus trabalhos era visitar um grupo de deslocados, estar com as crianças e com as famílias que estavam numa escola perto de nós, e cuja aldeia tinha sido incendiada e destruída, durante o tempo da Páscoa, com várias vítimas mortais”, assinala.
Pedro Nascimento está de regresso à Etiópia por mais nove meses: “O que me motiva são as pessoas, a alegria da missão revela-se através das pessoas a que Deus nos envia, e através da oração que tem sido muito importante para mim neste tempo de missão”.
Os LMC são um Movimento de cristãos católicos que, tocado pelo chamamento de Deus e segundo o Carisma de São Daniel Comboni, se sentem impelidos a anunciar Jesus Cristo àqueles que ainda não o conhecem. Sinal da missionaridade das Igrejas locais, partem para outros povos ou culturas, por períodos de 2 anos ou mais, num compromisso apaixonado que se mantém após o regresso.
HM/OC - Ecclesia