Quinta-feira, 11 de Abril de 2024
A Irmã Cecília Sierra, missionária comboniana a trabalhar com os beduínos no Deserto da Judeia, na Terra Santa, conta-nos como o Ramadão muçulmano, que terminou no passado dia 9 de Abril, foi doloroso e triste para os beduínos, na Terra Santa. No dia 10, celebrou-se a festa do Eid al Fitr, para assinalar o fim do mês de jejum. “Jejuamos a pensar na gente de Gaza – diziam os beduínos –, e comemos com dor por tantos que não têm que comer. Este Ramadão foi muito triste.”
Não nos oferecem nem café nem chá quando chegamos às suas casas. É Ramadão. Esperamos pelo pôr-do-sol. Conversamos até que chega o ansiando momento do iftar. No deserto de Judá, entre os beduínos, como noutras aldeia e comunidades muçulmanas, o iftar é a refeição que quebra o jejum do dia durante o Ramadão.
Fazem jejum a partir dos sete anos. Desde as quatro horas da manhã não comem nada, nem água sequer. Mohamed e a irmã perderam peso de maneira considerável. Têm mais de sete anos e, por isso, jejuaram durante o mês do Ramadão.
Com a chegada do entardecer, os beduínos reúnem-se por grupos de famílias ou tribos para quebrar o jejum. Em Jerusalém, um disparo como o de um canhão anuncia o início do iftar. Noutros lugares, é anunciado a partir das mesquitas. As aldeias beduínas que não têm mesquita escutam-no no telemóvel ou através da televisão.
No deserto da Judeia, os beduínos o que primeiro comem são tâmaras ou bebem um trago de alguma bebida fresca. A comida é gostosa e abundante. Podem comer a intervalos até às 04h00, hora a que o jejum começa de novo. No fim da refeição servem doces árabes ou pãezinhos com mel.
«Apesar de comermos, o alimento tem sabor amargo pelo que se está a passar em Gaza», lamentou um chefe beduíno. Este Ramadão tem sido muito doloroso. «Jejuamos a pensar na gente de Gaza, e comemos com dor por tantos que não têm que comer», dizem-nos. «Este Ramadão foi muito triste».
Hoje, 9 de abril, é o último dia do Ramadão. Amanhã será a festa do Eid al Fitr, o fim do mês de jejum. Estivemos com uma família até que a noite chegou. Comemos com eles. Pediram para dormirmos lá. Pensando no que implica a preparação da festa do Eid al Fitr, desta vez não pernoitamos com eles.
Eid al Fitr. Os homens levantam-se cedo para irem rezar às mesquitas próximas. Alguns beduínos vão a Alazareya, outros a Anata. Depois vão visitar as suas irmãs. É tradição que lhes levem dinheiro, doces e presentes para os sobrinhos. Este ano será muito triste: muitos perderam o trabalho desde que a guerra começou.
No segundo dia da Eid al Fitr, as mulheres visitam os seus pais. As casas paterno-maternas estão cheias. As famílias são numerosas. Eid al Fitr é o tempo para o encontro, convívio, partilha na esperança que que a tão desejada paz chegue.
Ir. Cecília Sierra
Missionária comboniana