Vítimas da mineração viajam à Europa para denunciar violações

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Quarta-feira, 16 de Março de 2022
As vozes das vítimas do extrativismo mineiro e das experiências das comunidades em defesa da Casa Comum viajam à Europa para denunciar as violações dos direitos humanos que estão sendo vivenciadas como resultado da imposição de uma agenda neoextrativista na América Latina. A Caravana chegará à Alemanha no dia 20 de março e viajará pela Itália, Bélgica, Áustria e terminará na Espanha no dia 6 de Abril. [Foto: Crédito Marcelo Cruz]

Há milhares de nós que estamos em resistência organizada, exigindo justiça, exigindo que as imposições colonialistas parem, exigindo que nosso direito de decidir e de viver em paz seja respeitado, gritam os testemunhos.

A Caravana Latino-americana para Ecologia Integral em Tempos Extrativistas parte do Brasil, Colômbia, Honduras e Equador com líderes comunitários, agentes pastorais, ativistas e pesquisadores. A Caravana chegará à Alemanha no dia 20 de março e viajará pela Itália, Bélgica, Áustria e terminará na Espanha no dia 6 de abril. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), através da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração (CEEM), e as comunidades acompanhadas pela Rede de Igrejas e Mineração (IyM), através da Campanha de Desinvestimento em Mineração, amplificarão suas vozes para que o grito da terra dos pobres seja ouvido (LS 49).  O grito ecoando das comunidades martirizadas pelas economias extrativas e a violação histórica da Casa Comum pelas atividades de mineração exige uma conversão ecológica urgente, como expressa pelo Papa na Encíclica Laudato Si.

A Caravana expressa sua solidariedade com a região e com as vítimas da guerra que eclodiu na Ucrânia. Uma situação que é um reflexo do permanente estado de guerra em países latino-americanos. São realidades marcadas por um sistema econômico extrativista que gera desigualdade, violência e sofrimento. Muitos territórios explorados pela mineração instaura uma guerra silenciosa que continua a enriquecer com a inflação das commodities que se reflete em lucros históricos para as empresas transnacionais de mineração. A Caravana denuncia as atividades de mineração que também apoiam e sustentam a indústria bélica.

Organizações católicas parceiras na Europa como a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e a Solidariedade (CIDSE), Misereor (Alemanha), DKA (Áustria), Redes e a campanha Enlázate por la Justicia (Espanha) estão promovendo reuniões com a delegação latino-americana. A delegação irá à Europa para promover diálogos com o objetivo de fortalecer a globalização da esperança e a co-responsabilidade Norte-Sul. Serão realizadas reuniões com líderes da Igreja Católica, como o Cardeal Jean-Claude Hollerich, impulsionador do tema de desinvestimento em mineração durante o Sínodo da Amazônia e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE). Também haverá diálogos com membros do parlamento, organizações da sociedade civil e conferências religiosas.

Diálogos estão sendo preparados no Vaticano com órgãos como a Pontifícia Comissão para a América Latina e o Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. A agenda busca influenciar, a partir do testemunho das comunidades afetadas, no Parlamento Europeu, com bancos e organizações da Igreja, em questões como a devida diligência, o tratado de Direitos Humanos e Negócios, as práticas de violência financeira, os investimentos em mineração que ligam a Europa e organizações baseadas na fé.

As realidades presentes serão

– Piquiá de Baixo – Brasil mineração de ferro, trabalho escravo, contaminação das fontes de água, índices de saúde da população. A resistência e a organização da população conquistou o reassentamento mas ainda não garantiu a mudança para o novo lugar chamado Piquiá da Conquista.

– Brumadinho – Brasil derramamento de lodo tóxico que deixou 272 mortos, em outro crime ambiental da empresa Vale que ainda não encontrou justiça. Famílias que perderam tudo, agricultores sem terra e sem teto, população deslocada.

– Putumayo, Mocoa – Colômbia concessões de mineração para extração de cobre, na Amazônia colombiana, afetando fontes de água, nascentes de rios, territórios indígenas, em um território já afetado e deslocado pelo conflito armado.

– Sudoeste de Antioquia – Colômbia cerca de 90% do território é destinado à extração de cobre, ouro e prata. Ela destruiu atividades produtivas locais baseadas na agricultura, exacerbou a violência entre habitantes e forasteiros e ocupou territórios ancestrais.  Organização e resistência conseguiram parar parte da concessão mineira no município de Jericó.

Um dos objetivos fundamentais da delegação é avançar na consolidação de redes e alianças de solidariedade entre a Igreja do Norte e o Sul Global, comprometendo-se a defender, a partir da voz e da perspectiva das vítimas, suas propostas, acompanhando suas alternativas de resistência e de defesa da vida. Além de acompanhar os processos pastorais das igrejas locais na América Latina, que com coragem e profecia permanecem ao lado dos afetados, buscando a Ecologia Integral.

A Rede de Igrejas e Mineração e a Campanha de Desinvestimento

A Rede de Igrejas e Mineração é um espaço ecumênico, formado por comunidades cristãs, equipes pastorais, congregações religiosas, grupos de reflexão teológica, leigos, bispos e pastores que procuram responder aos desafios dos impactos e violações dos direitos socioambientais causados pelas atividades mineradoras nos territórios onde vivemos e trabalhamos.

A Campanha de Desinvestimento em Mineração é promovida pela Rede de Igrejas e Mineração e conta com dezenas de organizações afiliadas. O desinvestimento é uma ferramenta concreta para enfrentar um modelo econômico extrativista que gera devastação e desigualdade. A Campanha acompanha organizações baseadas na fé em seu compromisso de apenas financiar a fim de alcançar uma transformação dentro das Igrejas. Ela também procura defender e tornar visíveis as violações de direitos e os danos ambientais causados pela mineração.
[CIMI]